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"Passaporte sanitário"

Franceses vão às ruas contra a vacinação obrigatória

Macron quer tornar a vida social dos franceses não vacinados inviável, aprofundando uma crise que transforma o país central do imperialismo europeu em um barril de pólvora

(*) Por Tiago Carneiro, correspondente em Luxemburgo

No dia 12 de junho, o presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, falou, em cadeia nacional, sobre os seguintes tópicos: obrigação da vacina para determinadas classes de trabalhadores, como os profissionais de saúde, sobre o chamado “passaporte sanitário” e sobre reformas no seguro desemprego. O ponto que mais causou polêmica foi, justamente, a vacina obrigatória, que contrasta com o que o presidente Francês declarou em dezembro de 2020, em suas redes sociais: “digo e repito: a vacina não será obrigatória. Somos o país do iluminismo e de Louis Pasteur”. Além disso, é importante dizer que uma grande parcela da população francesa não quer ser vacinada. Por exemplo, em março de 2021, 58% da população não queria se vacinar contra o Covid-19, de acordo com reportagem do Le Figaro publicada no dia 3 de março. Uma sondagem mais recente, apresentada pelo jornal Le Monde, no dia 21 de maio, já apresentava dados mais favoráveis à vacinação: 20% da população francesa não quer se vacinar.  

Voltando ao pronunciamento feito por Macron, de uma forma geral, a vacinação seria obrigatória para os que o presidente classificou de “pessoas em contato com ‘o público mais frágil”’, como os trabalhadores de hospitais e outros estabelecimentos médicos, asilos ou cuidadores. Ainda, de acordo com Macron, “essas pessoas terão até o dia 15 de Setembro para se vacinar. Após essa data haverá um controle e punições serão aplicadas aos que não estiverem vacinados”.  Ou seja, na prática, o trabalhador “que lida com um público frágil” ou se vacina, ou terá que escolher outro trabalho. Essa atitude arbitrária e ditatorial por parte do governo francês deixou muitos trabalhadores da saúde enfurecidos, alguns deles estão até considerando mudar de emprego, como mostra reportagem da Reuters publicada no dia 13 de Julho. 

À primeira vista, a obrigação da vacina seria apenas destinada aos que trabalham com o “público frágil”. Entretanto, a França também irá tornar mais restrita a circulação de pessoas que não se vacinaram, ou seja, não irá obrigar a vacinação, mas dificultará a vida dos não vacinados ao ponto de torná-la uma necessidade prática. Isso se dará através do endurecimento das regras do chamado “passaporte sanitário”. Esse documento não é um passaporte propriamente dito, mas a partir de 21 de julho, quem desejar participar de certos eventos e frequentar locais públicos com pelo menos 50 pessoas, por exemplo, precisará mostrar um teste de Covid-19 negativo realizado a menos de 48 horas, certificado de vacinação (apenas de vacinas do imperialismo), dentre outros documentos. Existe um aplicativo para smartphones que facilita esse processo, disponibilizando QR codes.

Na declaração do dia 12 de julho, Macron anunciou que no começo de agosto essas restrições se aplicarão a lugares do dia-a-dia, tais como bares, restaurantes, shopping centers e transporte público. Até aí, “tudo bem”, as pessoas não vacinadas podem realizar um teste de Covid gratuito para obter o “passaporte”, por mais que seja desagradável realizar um teste a cada 3 dias. Entretanto, os testes não requisitados por um médico deixarão de ser gratuitos ou reembolsáveis, fazendo com que os não vacinados tenham que realizar um exame pago cada vez que pretendam sair de casa. Assim, o governo francês “não obriga” a tomar vacina, mas tornará a vida em sociedade dos não vacinados praticamente inviável.

Aqui, é importante relembrar a desastrosa conduta do governo francês para “combater” a pandemia. A potência imperialista já amarga 111.500 mortos entre quase seis milhões de casos. Nos dois primeiros trimestres de 2020, o país não tinha testes ou qualquer tipo de equipamento de proteção individual para a população. Apenas em maio de 2020 as máscaras passaram a estar amplamente disponíveis para a compra. Os hospitais eram um caos e os profissionais de saúde estavam em uma situação deplorável. As “medidas” tomadas pelo governo francês foram sempre baseadas na repressão: toques de recolher, restrição à circulação para um raio de 1 km, papéis para sair de casa, policiais em motocicletas pedindo documentos. Mas, claro, sempre com uma boa dose de demagogia: em abril de 2020, às 20:00, era possível ouvir toda a cidade batendo palmas para os corajosos profissionais da saúde. Um ritual que se repetiu por algumas semanas. Um ano e três meses depois, acabaram-se as palmas.

Aparentemente, em um primeiro momento, as novas medidas autoritárias de Macron surtiram algum efeito, pois, no dia seguinte ao pronunciamento, cerca de um milhão de pessoas reservaram um horário para serem vacinadas. Por outro lado, no dia 14 de julho, a “festa nacional francesa”, o dia em que se comemora a queda da Bastilha, milhares de cidadãos franceses saíram às ruas na França gritando “liberdade! Liberdade!”. Essas pessoas são justamente os que se opõem à vacinação obrigatória e ao endurecimento das regras do passaporte sanitário. Segundo o canal de televisão France 24, em Paris, os manifestantes foram reprimidos pela polícia com gás lacrimogêneo. 

Macron encontra-se em uma situação delicada. A desastrosa política imperialista frente à pandemia, rigorosamente seguida por seu governo, resultou em uma crise social muito aguda, o que levou ao movimento dos coletes amarelos, duramente reprimido pelas forças policiais. O país encontra-se em uma situação delicada: no fim do ano de 2020, cerca de 15% da população francesa estava na pobreza. Isso tudo vem se refletindo nos resultados sofríveis que o partido de Macron obteve nas eleições departamentais francesas, ficando em quinto lugar geral.  Por fim, como o governo não mostra que irá ceder no endurecimento do “passaporte sanitário”, nem na vacinação obrigatória, essas manifestações tendem a crescer, aumentando a crise no seio de um país central do imperialismo europeu.

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