A crise energética na Europa, que já abala politicamente o continente, tende a se agravar. Ironicamente, os grandes advogados da “energia limpa” dependem dos baratos combustíveis fósseis exportados pela Rússia. E, para deixar a situação mais esdrúxula, estão desesperados com o corte nesse fornecimento após meses de imposição de restrições ao comércio com a própria Rússia. Com a aproximação do rigoroso inverno europeu, o problema pode escalar para uma série de levantes populares.
Apesar do maciço investimento na propaganda de guerra contra os russos, fica cada vez mais evidente para as populações na Europa e nos Estados Unidos que a intervenção dos seus países no conflito na Ucrânia tem sido prejudicial às suas condições de vida. Em primeiro lugar, os gastos com ajuda militar se mostram completamente desconectados das necessidades imediatas do cidadão comum, que mesmo nos raros países capitalistas desenvolvidos enfrenta importante queda no padrão de vida.
A resposta russa às sanções econômicas aplicadas pela União Europeia coloca na mesa uma carta fundamental para a estabilidade política europeia: a inflação. O aumento nos gastos com a geração de energia encarece toda a cadeia de preços e tem um impacto brutal na vida da população. Lênin já havia assinalado que a inflação é um dos principais fatores revolucionários. Diante da defesa da própria vida, o povo perde completamente a boa com as justificativas dadas pelos “especialistas” na imprensa burguesa e tende a colocar o regime político nas cordas.
O fator inverno acrescenta problemas extras a um cenário já complicado para os governos europeus. Diversas hidrelétricas europeias operam apenas no verão e os sistemas de aquecimento no continente dependem fundamentalmente dos combustíveis fósseis. A Rússia fornece algo em torno de 40% dos gás consumido na Europa, 46% do carvão e 27% do petróleo. Como o funcionamento do sistema capitalista está preso à selvageria do mercado, mesmo os países imperialistas ficam vulneráveis a problemas como o que se coloca agora.
Enquanto a população se vê cada vez mais privada de bens de consumo básicos, seus governos insistem numa política que atende a interesses que lhe são alheios. A intervenção norte-americana na Ucrânia já vinha trazendo problemas para o continente e agora os custos para a Europa endossar a política do imperialismo mais poderoso são quase insustentáveis. Para o povo europeu, fica exposto que a prioridade dos seus governos é sustentar a dominação mundial do imperialismo e não zelar pelo seu bem-estar.
A evolução da crise histórica do capitalismo é mais um fator que pesa na situação dos países europeus. Sem a crise energética atual, esses países já têm problemas sociais de sobra para tentar contornar. Suas populações vêm pagando a conta de presepada militar atrás de presepada militar e agora estão diante de uma situação explosiva por causa do mesmo motivo. Não é exagero pontuar que uma revolução socialista está entre os desfechos possíveis para a crise. A classe operária dos países capitalistas desenvolvidos da Europa é uma força poderosa e se a situação se impuser, tem a capacidade de tomar o controle da atividade industrial dos seus países.