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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Ucrânia, fantoche eurasiático

O agravamento da guerra contra o Donbass após o Pandora Papers

Como o imperialismo maneja a guerra contra os russos

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Ucronazis e a marcha das tochas em Kiev. Foto: Antimaidan http://linkis.com/VXUC6

Ucrânia é um dos territórios mais importantes do mundo do ponto de vista geoestratégico. Tanto sua posição quanto seus recursos energéticos sempre despertaram interesses econômicos e geopolíticos ao longo da História, e, atualmente, o país está no cerne da estratégia de contenção do imperialismo à Rússia. 

O golpe de 2014 na Ucrânia foi realizado a partir de uma “revolução colorida”, uma forma de golpe baseada no uso intensivo da informação, redes sociais, imprensa aliada aos interesses geopolíticos do imperialismo. Desde os anos 2000 esse tipo de golpe se intensificou a partir da Iugoslávia, com a Revolução Buldozer, se espraiando ao Cáucaso, atingindo posteriormente a própria Ucrânia, na Revolução Laranja de 2004. Essa abordagem adaptativa de guerra não-convencional avançou para a África Setentrional e Oriente Médio, conhecida como “Primavera Árabe”, onde os Estados Unidos conseguiram promover a desestabilização dos países para seus interesses geopolíticos. 

O golpe de 2014 ocorreu após as jornadas do Euromaidan, quando diversos grupos nacionalistas financiados pelos Estados Unidos, disputavam o poder, ao mesmo tempo, em que promoviam o impeachment de Viktor Yanukovich, um governo corrupto Pró-Ocidental, porém, utilizado como bode expiatório para justificar posterior tomada por parte dos ultranacionalistas, que conseguiriam ser mais radicais para um novo regime de Washington em relação à Rússia, aproveitando o próprio sentimento antirrusso, que vinha sendo fomentado desde centenas de anos. 

O recém-nomeado governo interino da Ucrânia assinou o acordo de associação com a União Europeia, e se comprometeu a adotar reformas políticas, financeiras e econômicas. O FMI despejou US$18 bilhões para a Ucrânia fazer o serviço sujo contra o povo ucraniano e russo. 

Sucedeu-se uma onda de distúrbios do povo russo na Ucrânia na Crimeia e a guerra separatista no Donbass apoiados pela Rússia, pois tanto na Ucrânia quanto na Rússia, o que determina a nacionalidade é o sangue, e não somente a demarcação das fronteiras internacionais. 

Desde 2014, a Ucrânia vive uma crise sem precedentes hoje é o segundo país mais pobre do continente, sendo superada somente pela Moldávia em pobreza e ficando a frente de Kosovo. Endividada, com crise humanitária e fome, o país fantoche dos Estados Unidos e sonhador em pertencer à União Europeia, está imersa em escândalos de corrupção, tentativas de assassinatos, greves e guerra permanente contra o Sudeste. 

O aprofundamento da crise na Ucrânia após a conclusão do Nord Stream 2 (gasoduto que liga Rússia à Alemanha), crise energética, conclusão da Ponte de Kerch, entre Rússia continental e a península Criméia, e comando de ataque por parte dos Estados Unidos ao Sudeste, colocam a Ucrânia como um país altamente raivoso, ultradireitista e potencialmente terrorista com seus vizinhos Novorrussos. 

O Donbass

A região do Donbass, que foi coração da industrialização soviética (como demonstrado em cartaz soviético), é composta por duas autoproclamadas Repúblicas: Donestsk e Luhansk. 

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Cartaz soviético apresentando toda dimensão e importância industrial do Donbass

Os ucranianos étnicos formam 58% da população de Luhansk e 56,9% de Donetsk. Os russos étnicos formam a maior minoria, representando 39% e 38,2% dos dois oblasts, respectivamente. A Donbass moderna é uma região predominantemente russófona. O russo é a principal língua de 74,9% dos residentes na Oblast de Donetsk e 68,8% no Oblast de Luhansk. A proporção de falantes nativos russos é maior do que os russos étnicos porque alguns ucranianos étnicos e outras nacionalidades também indicam o russo como língua materna. Para uma pesquisa mais atualizada, porém um levantamento que não realizado na forma de censo ver a matéria no link.

Em face da crise na Ucrânia e pelo passado ligado à industrialização russa, essa região operária tem lutado contra a ocupação total por parte do imperialismo, resistindo bravamente desde 2014, quando se autoproclamaram Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk. 

O confronto tem tido forte acirramento, apesar da mídia ocultar os ataques diários em uma guerra no padrão irregular e com uma série de baixas militares da Ucrânia e muitas baixas das forças do Donbass, sejam milícias pró-Rússia, sejam forças armadas, além de muitos civis. 

A relação entre a intensificação da guerra e o Pandora Papers

O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) acaba de publicar dados confidenciais de 14 prestadores de serviços offshore. Intitulados Pandora Papers de propriedade da Open Society de George Soros, utilizada para constranger e chantagear líderes mundiais, As informações revelam que Volodymyr Zelensky pode ter escondido parte de sua fortuna através de esquemas offshore antes das eleições que o colocaram no cargo na Ucrânia. 

Volodymyr Zelensky e sua equipe de governo possuem empresas offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, Belize e Chipre, três apartamentos em Londres no valor de US$ 7,4 milhões, e que o presidente ucraniano potencialmente recebeu dividendos de uma empresa que ele não possui oficialmente. Os documentos também revelam o potencial envolvimento do presidente ucraniano na lavagem de US$ 40 milhões pertencentes a Igor Kolomoysky, para o qual o oligarca foi colocado sob sanções pelos EUA. 

Antes das eleições presidenciais na Ucrânia, Volodymyr Zelensky e sua esposa possuíam um quarto da Maltex Multicapital Corp, que distribui a produção do estúdio de comédia Kvartal 95. Os documentos de Pandora indicam que, três semanas antes das eleições, Zelensky deu sua parte a Sergey Shefir, que agora é seu assistente no gabinete presidencial. Além de Sergey, seu irmão, Boris Shefir, e Andrey Yakovlev, o roteirista da Kvartal 95, também têm ações na empresa Maltex Multicapital Corp. 

Normalmente, quando uma pessoa vende ou transfere suas ações em uma empresa, perde seus direitos para dividendos. Mas, o Pandora Papers revela que a Maltex Multicapital Corp estava planejando pagar dividendos a Zelensky várias semanas depois que ele desistiu de suas ações para Sergeyi Shefir.  

Pagar dividendos a alguém que não é mais coproprietário da empresa é ilegal. Não se sabe se o pagamento foi realmente feito. Só os donos da empresa sabem o que finalmente aconteceu. 

Mas, se confirmada, essa informação provaria que o presidente ucraniano mentiu quando alegou, após as eleições, que não tinha mais nenhuma ligação com esta empresa, e que ele vivia principalmente com seu salário. E, acima de tudo, nem ele nem seus familiares indicam que receberam dividendos em suas declarações fiscais desde 2018! Se o pagamento desses dividendos for confirmado, nada menos que uma fraude fiscal. Claramente, os jornais de Pandora revelam que Zelensky pode ter escondido parte de sua fortuna através deste esquema offshore, permitindo que sua renda escapasse da tributação na Ucrânia. 

Mas o esquema offshore não termina aí. Os jornais pandora revelam que outro associado próximo de Zelensky, o chefe da SBU Ivan Bakanov, usou um paraíso fiscal para sua empresa Davegra Limited, registrada em Belize. Esta empresa é a principal proprietária da Maltex Multicapital Corp, e diz que está escondendo detalhes dos verdadeiros proprietários, ou seja, Zelensky, sua esposa e amigos, diz a investigação dos documentos da Pandora. Em 2019, Bakanov vendeu a empresa para Yakovlev. 

Mas a Maltex Multicapital Corp não parece ter sido a única empresa envolvida no esquema. Os jornais pandora também mencionam a empresa offshore Candlewood Investment Limited, também ligada à comitiva de Zelensky e Kolomoysky, e através da qual US$ 10 milhões ligados ao Privatbank teriam transitado. 

A imagem de Zelensky lutando contra os oligarcas está desmoronando

Enquanto Zelensky esperava fazer-se parecer bem para o Ocidente com sua falsa lei de oligarcas e ser capaz de concorrer a um segundo mandato, apresentando-se como o presidente que luta contra a corrupção e oligarcas. A situação de envolvimento com o escândalo piorou quando fazemos a conexão com a tentativa de homicídio de seu acessor oligarca Serhiy Shefir. 

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Reuters

Se Zelensky evitar, por enquanto, ter que enfrentar um processo de impeachment graças à maioria que ele tem na Rada, e a total falta de vontade do presidente da Rada para lançar tal procedimento contra o chefe de Estado, a publicação do Pandora Papers, se tornará no novo Panama Papers, quando Poroshenko, ex-presidente, foi implicado na divulgação, o que culminou com sua derrota eleitoral para Zelensky. 

Com toda essa informação em mente, a recente tentativa de assassinato contra Sergey Shefir assume uma nova dimensão. Foi Sergey Shefir e seu irmão, Boris, que criaram a rede de empresas offshore de Zelensky e a quem Zelensky as passou antes das eleições. E foi para essas empresas que o dinheiro de Kolomoysky foi transferido. 

Claramente, Sergey Shefir sabe muito sobre os arranjos financeiros duvidosos de Zelensky e os esquemas de Kolomoysky, e se ele fosse colocado sob a pressão certa, ele poderia revelar rapidamente a natureza potencialmente fictícia da transferência das ações de Zelensky para seu assistente. Se Shefir falasse, Zelensky enfrentaria um julgamento por lavagem de dinheiro ou pior. Sem mencionar Kolomoysky. 

Por isso, torna-se interessante olhar para quem está por trás do ICIJ, que publicou os Pandora Papers. Quando olhamos para quem está financiando este consórcio de jornalistas, descobrimos as Fundações Open Society de George Soros, mas também a Loteria Nacional Holandesa, que também financia Bellingcat. 

Mas, como mencionado no ano passado, se há uma guerra sendo lançada contra os oligarcas na Ucrânia não é para o bem do país, mas porque os maiores jogadores mundiais, como George Soros, querem tirar os únicos que ainda têm ativos valiosos no país: os oligarcas. E Igor Kolomoysky é o primeiro a ser baleado para derrubar os outros. 

Zelensky, com sua lei sobre oligarcas, que é apenas uma fachada bonita sem nada por trás disso, tentou enganar Soros e os Estados Unidos, que contavam com essa lei para derrubar os oligarcas ucranianos e retomar seus bens. Um erro monumental que pode custar muito a ele e ao seu mentor Kolomoysky. 

Uma semana após divulgação dessa intrincada trama, Zelensky se apresentava ao front de guerra contra o Donbass, onde sucede todo tipo de horror realizado pelas forças armadas da Ucrânia, com apoio dos Estados Unidos.

De acordo com o site da Presidência

Durante uma viagem de trabalho à região de Donetsk no Dia dos Defensores da Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelenskyy visitou as posições de linha de frente das Forças Armadas na área da Operação das Forças Conjuntas. O Presidente ouviu informações sobre a situação operacional e tática nesta área e se familiarizou com as peculiaridades do uso de fuzis anti-drones. Volodymyr Zelenskyy também conversou com os militares e observou as condições de serviço. O Presidente apresentou presentes valiosos aos defensores ucranianos. “Obrigado por seu serviço. Você está defendendo nossa Pátria com dignidade. Tome cuidado!”, disse o presidente. Volodymyr Zelenskyy também assistiu aos desenhos que as crianças enviaram aos nossos defensores na linha de frente.

Enfim, assim como o ucraniano Poroshenko e os latinos Bolsonaro, Duque e Lasso, agora, com Zelensky, o imperialismo mantém sua linha de ação de cooptar e constranger, a fim de aferir melhores resultados políticos, podendo trocar a peça, sem alterar o jogo. 

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