A operação russa na Ucrânia deu lugar a uma enorme polarização política internacional. O evento e suas consequências evidenciaram um sintoma grave da crise terminal do imperialismo. Isso, como é de se esperar, não aparece tão claramente na imprensa burguesa, mas os fatos são fatos, e na medida em que a situação se desenvolve a instabilidade do regime imperialista é revelada.
Um dos mais importantes acontecimentos que evidencia a polarização internacional foi a condenação da Rússia na Assembleia Geral da ONU. Ao todo, 141 países votaram junto com a força dominante em favorecimento da condenação, entretanto, o que chamou a atenção foram os 5 países que votaram com a Rússia, os 35 países que se abstiveram e os 12 que não votaram. Ou seja, os que não se colocaram contra a ação russa somam um total de 52 países.
De um ponto de vista estritamente jurídico, a Rússia realmente fez algo que deveria ser condenado dentro da política internacional, algo fora da lei. Além disso, todos os países estavam pressionados a condenar a Rússia. Afinal, se você defende algo fora da lei, muitas vezes pode sair ileso, mas ao defender algo diretamente oposto aos interesses do imperialismo as consequências podem ser muito piores.
Mesmo assim, 25% de todos os países membros da ONU votaram contra a condenação da Rússia. Neste caso é equivocado simplesmente falar que a maioria dos países estão condenando e estão em defesa do governo golpista ucraniano, bem como que a situação está controlada e vai ser resolvida facilmente, como disse a imprensa burguesa sobre o acontecido. Na realidade, se trata apenas de uma aparência de estabilidade, enquanto, no pano de fundo, se estabelece uma das maiores polarizações e crises que a história já viu.
É importante levar em consideração que o voto de um país é o voto do governo daquele país. Sendo assim, os votos podem trazer graves consequências para qualquer governo que se oponha aos países imperialistas. Por isso, quem votou contra a condenação foram aqueles países já condenados pelo imperialismo norte americano – Coreia do Norte, Bielorússia, Síria, etc. São países que não têm mais nada a perder do ponto de vista da política internacional.
Outros, dentre os que se abstiveram, mesmo contra a condenação da Rússia não estavam prontos para assumir as consequências de se colocarem contrários. Cuba, por exemplo, país que está claramente em defesa da Rússia, se absteve para não precisar travar mais um embate com os EUA. A China fez o mesmo, já havia se colocado favorável aos russos mas está respeitando a lei internacional. A Índia, um dos maiores países do mundo e importante aliada da Rússia, também se absteve.
Muitos outros países, ainda, têm governos que são praticamente serventes coloniais dos países imperialistas. Toma-se por exemplo países da América Latina que não queriam condenar os russos e perder seus acordos comerciais, mas o fizeram por conveniência e serventia na política internacional. Finalmente, percebe-se que não há essa condenação universal contra a ação da Rússia, pelo contrário, mesmo sob uma gigantesca pressão do imperialismo, 20% dos que votaram não apoiaram a condenação.
Fica evidente que a ação imperialista não é tão forte como os próprios imperialistas querem mostrar. Na verdade, a situação política internacional evolui para uma intensa polarização entre os países. Há uma tendência de que os países imperialistas se coloquem de um lado e vários países afetados e reprimidos pela política imperialista do outro lado. Um bom exemplo é o voto da China e da Índia, países que se unem em um bloco que cada vez mais se coloca contra o imperialismo mundial.
A polarização deve ser tratada também como a expressão de um outro fenômeno: a ruptura de um centro de estabilidade de um determinado sistema político. O caso do Brasil é importante para elucidar a questão. Aqui, a situação é altamente polarizada, e depois de todas as manobras espúrias dos golpistas, a polarização eleitoral se dá, afinal, entre Lula e Bolsonaro: os dois candidatos polares dentro do espectro político nacional.
É uma polarização clara e semelhante à polarização internacional e ambas significam a mesma coisa: que o eixo de estabilidade do regime político burguês está em crise. No Brasil, ele era formado pelos partidos mais tradicionais da burguesia (PSDB, PMDB, DEM, etc), que hoje estão em colapso. Pode-se ver que do ponto de vista partidário o Centro rompeu–se completamente. Inclusive, as últimas pesquisas mostram que a candidatura de Sérgio Moro caiu. Alguns mostram que até Ciro Gomes está com maior previsão de votos que ele.
Em nível internacional, esta polarização muito grande de países expressa uma crise muito aprofundada do centro de estabilidade, melhor dizendo, do centro de dominação: a dominação dos países dominadores sobre os explorados. A votação em torno da Ucrânia revela tal questão. Muitos países que poderiam apoiar a Rússia não apoiaram apenas por medo das retaliações e, mesmo assim, a votação se mostrou problemática para o imperialismo, na qual um quarto dos países não apoiaram a política dominante. Logo, está latente uma tendência de maior afastamento destes países do imperialismo.
A polarização em si, vista de outro ângulo, também é um sintoma de que a situação geral evolui em um sentido revolucionário. Como o próprio Lênin já declarou, “A situação revolucionária acontece quando os de cima não conseguem dominar como antigamente.”
Um cenário revolucionário, então, começa também com uma crise do setor dominante.
A título de exemplo, imediatamente, seria impossível para o PCO organizar a luta armada e tomar o poder, entretanto, na medida em que a polarização e a crise do imperialismo se aprofundam, as condições políticas para acabar com sua dominação aumentam. Do ponto de vista internacional, a investida do imperialismo contra os russos e a resposta decisiva de Putin acelerou no sentido da crise e de tal polarização. Afinal, o sistema não é estável para a manutenção do imperialismo.
Todo o quadro da crise mostra que o que aconteceu é o resultado da instabilidade política internacional, quer dizer, é o resultado do enfraquecimento desse centro de estabilidade imperialista. A crise da Ucrânia é então, mais um sintoma da crise terminal do imperialismo. Cada vez mais, a situação se polariza e se encaminha para uma situação revolucionária.






