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Suicídio político da esquerda

A responsabilidade da esquerda na ascensão de Marine Le Pen

O Identitarismo empurra a classe trabalhadora para os colos da extrema direita

Nesta última semana as eleições para a Presidência da República Francesa vem tomando espaço na imprensa hegemônica pelo fortalecimento da direita e extrema direita e nos pouquíssimos portais de esquerda que revelam o insucesso da campanha socialista no berço da revolução do proletariado.

O primeiro turno se deu no dia 10, tendo como candidatos mais votados os seguintes:

– Emmanuel Macron (La Répulique em Marche! – LREM), atual Presidente da República, com 27,85% dos votos.

– Marine Le Pen (National Rally – RN), com 23,15% dos votos.

– Jean-Luc Mélenchon (La France Insoumise – LFI), com 21,95% dos votos.

– Éric Zemmmour (Reconquête – R!), com 7,07% dos votos.

Esta rodada demonstrou algo de fundamental importância: o contínuo esfacelamento do atual regime político imperialista francês. Nenhum dos candidatos acima pertence aos dois tradicionais partidos políticos que serviam como base de sustentação do regime político francês, quais sejam, o Partido Socialista e os Republicanos.

Embora o atual presidente, Emmanuel Macron, seja um fiel escudeiro do imperialismo francês, sua ascensão à presidência em 2016/2017 foi um improviso por parte da burguesia francesa a fim de manter o controle do regime político, em razão da deterioração dos tradicionais partidos políticos, já citados acima.

À época, nem o Partido Socialista e nem os Republicanos estavam conseguindo emplacar candidatos que tivessem condições de conquistar a presidência da república. A desmoralização de ambos perante a população francesa decorreu de anos e anos de contínuo aprofundamento de ataques contra o povo, da contínua retirada de direitos outrora conquistados.

Diante disto, a burguesia teve de improvisar um candidato que fosse um fiel representante dos interesses da burguesia imperialista francesa, mas que não tivesse essa aparência. Assim, Emmanuel Macron ascendeu à presidência.

Não é preciso dizer que seu governo foi um de total ataque contra a classe trabalhadora. Como fiel representante dos bancos, seu governo buscou salvar os capitalistas da falência, em detrimento das condições de vida da população. Contudo, sequer conseguiu conter a crise capitalista.

E, ao tentar colocá-la na conta do trabalhador francês, acabou se desmoralizando profundamente, o que pode ser visto com as mobilizações dos coletes amarelos, em 2019. Em 2020, com a pandemia da Covid-19, a crise continuou se aprofundando, e o governo a se desmoralizar perante a população francesa.

Por conseguinte, a polarização social se aprofundou, resultando no crescimento da extrema direita e de uma esquerda não totalmente atrelada ao Partido Socialista.

E o que tudo isto tem a ver com as eleições presidenciais de 2022?

Ora, essa polarização se manifestou claramente nas eleições. Os tradicionais partidos sustentáculos do regime político foram jogados a escanteio. Os Republicanos tiveram apenas 4.78% dos votos. O Partido Socialista, por sua vez, teve apenas 1,74%.

Por outro lado, dos quatro candidatos que obtiveram maior número de votos, dois pertencem à extrema direita (Le Pen e Zemmour); um pertence àquele setor da esquerda que buscou se separar, até certo ponto, da política imperialista do Partido Socialista (Mélenchon); e o outro é o atual presidente da república.

Le Pen e Macron irão disputar o segundo turno em 24 de abril de 2022, no que promete ser uma disputa acirrada. Na análise política da semana, que ocorreu neste sábado (16/04/2022), o companheiro Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, analisou o resultado do primeiro turno das eleições francesas.

Em primeiro lugar, antes de adentrar na questão das eleições, o companheiro vinha falando sobre questão da guerra na Ucrânia.

Notou que mais países atrasados vêm demonstrando resistência a atacar a Rússia, a mando do imperialismo. Notou que o apelo à figura do Putin é resultado do fato de que este enfrentou o imperialismo e, tendo em vista que a maior parte dos países do mundo é esmagada pelos países imperialistas, é natural que aqueles mesmos países tendam a gravitar em torno de alguém que seja a ponta de lança no enfrentamento contra o imperialismo.

Analisou que isto nada mais é que uma manifestação da luta dos povos oprimidos de um lado, e imperialismo do outro.

Segundo o companheiro: “se uma parcela da esquerda tende a ver as coisas de uma maneira falsificada, de um ponto de vista ideológico […], a maioria da população não vê a coisa de um ponto de vista ideológico… a luta de classes não tem essas coordenadas ideológicas… os povos lutam pelos seus interesses, em geral, e não por uma ideologia… os partidos políticos é que devem ter uma ideologia para guiar suas ações […]”.

Rui notou que essa situação está se manifestando de uma maneira muito aguda na França, nas eleições.

Diz o companheiro: “A eleição francesa é uma crise total do imperialismo […] temos uma situação em que é a seguinte: Macron, representante do imperialismo, da política neoliberal e tudo o mais; e a extrema direita (Marine Le Pen) estão virtualmente empatados no segundo turno”.

Em face disto, o imperialismo francês está quebrando a cabeça sobre como fazer um candidato extremamente impopular (Macron) ser vitorioso no pleito.

Assim, utilizam a extrema direita como um espantalho, a fim de conduzir a esquerda a votar no principal representante do imperialismo. Uma clara armadilha para deixar a esquerda completamente a reboque da burguesia.

Uma armadilha, pois, sendo o fiel escudeiro da burguesia imperialista francesa, Macron (nas atuais circunstâncias) é muito pior do que Marine Le Pen. Não é à toa que os trabalhadores franceses estão todos contra ele.

Mas este é apenas um dos aspectos do problema. A esquerda, com sua política de ficar a reboque da burguesia, vem jogando a classe operária francesa nos colos da extrema direita, a qual sabe fazer demagogia com os anseios que o povo possui contra o sistema (sistema este que o esmaga cotidianamente).

Ao citar um analista político da direita francesa, o companheiro Rui chama a atenção para o fato de que o que está em confronto no segundo turno das eleições é a “França de cima” contra a “França de baixo”.

Macron representa os “de cima” (banqueiros, grandes capitalistas etc), enquanto que a Le Pen (a extrema direita fascista francesa) representa os “de baixo”, ou seja, a maioria da classe operária e de povo francês.

Nas palavras do companheiro Rui “A extrema direita francesa ganhou a classe operária francesa e a esquerda ficou suspensa no vácuo”.

É preciso atentar à gravidade da situação: Marine Le Pen pertence ao National Rally, partido continuação da National Front. Este, por sua vez, é um dos partidos mais caracteristicamente de extrema direita do mundo. Foi fundado por seu pai, um paraquedista francês que atuou na Argélia durante a guerra civil que o povo argelino travou para se libertar da colonização francesa.

A atuação da França na guerra, em especial dos paraquedistas franceses, foi extremamente brutal, a ponto de ser comparada com a brutalidade dos próprios nazistas, quando estes ocuparam a França. Com a iminente derrota para os Argelinos, o governo francês da época, chefiado por De Gaulle, decidiu por retirar as tropas francesas, para evitar um massacre contra a população francesa que morava na Argélia.

Insatisfeitos com essa decisão, os paraquedistas criaram a chamada “Organização do Exército Secreto”, através da qual realizaram tentativas de assassinato contra De Gaulle, e um golpe de Estado a fim de instaurar uma ditadura militar na França (o qual foi derrotado)

Em suma, uma agrupamento extremamente reacionário, fascista, da qual Marine Le Pen é descendente direto. E a esquerda francesa conseguiu a proeza de empurrar classe operária em direção aos descendentes desses fascistas.

Há tempos o companheiro Rui e o PCO vem notando e denunciando este gradual processo: a gravitação da classe operária em direção à extrema direita em razão da política completamente anti-operária e pró-imperialista da esquerda.

Em relação à França, o companheiro Rui diz que o processo já está finalizado, já aconteceu: “a esquerda entregou a classe operária de mão beijada para a extrema direita”.

Mas por quê? Pois, enquanto  a extrema direita se posiciona contra as medidas econômicas que esfolam diariamente a classe operária francesa, a esquerda francesa fica preocupada apenas com as questões identitárias, deixando de lado a luta pelos interesses prementes da classe operária francesa. Nisto, “a esquerda se transformou numa esquerda moral, religiosa“.

Diante destes fatos, o companheiro Rui aponta a decomposição do regime político francês, pois, apesar de todo o poder da burguesia imperialista, eles não conseguem conter o crescimento eleitoral da extrema direita, com um real apoio da classe operária.

Aponta ainda que o crescimento eleitoral não é um reflexo exato da decomposição real, pois o processo das eleições é extremamente manipulado. A decomposição real é mais profunda, e o apoio popular à extrema direita francesa é maior do que aquele refletido nas eleições.

E esta situação não surgiu do nada. Quando das mobilizações dos coletes amarelos contra a política econômica de Emmanuel Macron, a esquerda não quis saber de apoiar as movimentações e guiar os trabalhadores no sentido de uma luta consequente contra a burguesia imperialista francesa.

À época, o PCO falou que a esquerda deveria ter levantado a palavra de ordem “Fora Macron”, e que deveria ter chamado a CGT a convocar uma greve geral e unificar a mobilização dos trabalhadores contra o governo do imperialismo francês

Ao invés disto, a esquerda se colocou contra as mobilizações, e em várias situações falaram que se tratavam de uma mobilização da extrema direita. Em suma, com medo (será medo ou puro oportunismo?) do espantalho do fascismo, a esquerda francesa se aliou à burguesia contra a classe operária.

Segundo o companheiro Rui, “a esquerda” (ao investir nessa política identitária) “está comprando um jazigo no cemitério. Se a esquerda continuar com isto, vai ser totalmente enterrada. Na França, estamos vendo o enterro…o partido mais identitário de todos (na França) é o Partido Socialista…eles tiveram 2% dos votos…é pior resultado da história do Partido Socialista Francês, que foi fundado no século XIX […]

Apontou que “a esquerda mundial entrou em uma rota suicida”. E o que é essa rota suicida? “Trocar a luta classe operária, dos trabalhadores, do povo pobre, por esta quinquilharia política que esse negócio da mulher, do negro… da maneira como eles fazem, logicamente (ou seja, da maneira identitária), pois a luta da mulher (e a luta do negro) tem grande mérito se for uma luta que esteja ligada à luta da classe trabalhadora”.

Diante desse cenário, quais conclusões podemos tirar da situação francesa para o Brasil?

No Brasil, a situação da esquerda é dramática, e segue em direção à sua total falência. O PCO já denunciou que parte significativa dessa esquerda está financiada pelo imperialismo. O imperialismo, através dessa esquerda oportunista, utiliza as mulheres, negros, índios, lgbts como uma prestidigiação para disfarçar uma política de esmagamento do restante da população (inclusive contra esses mesmos setores).

Na medida em que a esquerda continue a seguir essa política desastrosa, é inevitável que o povo brasileiro seja jogado nos colos da extrema-direita, pois esta sabe fazer demagogia com os anseios populares. Caso isto venha a acontecer, teremos uma tragédia pior do que aquela que vem acontecendo na França: a esquerda terá jogado a classe trabalhadora brasileira nos colos de descendentes diretos da Ditadura  Militar Fascista de 1964. Por isto é necessário combater com todas as forças o identitarismo.

O identitarismo nada mais que é uma política imperialista que tem como finalidade destruir a esquerda que ainda possui alguma ligação orgânica com a classe trabalhadora, e substituí-la por uma esquerda totalmente dissociada do povo, ou seja, perfeitamente controlável pela burguesia imperialista.

Para isto, o imperialismo se aproveita de oportunistas, de carreiristas, que só estão interessados em sua própria ascensão social, em detrimento dos interesses do povo trabalhador. E como os identitários agem de forma extremamente truculenta, tentando impor sua moral a todos, e condenando o povo como sendo inferior a eles, o triunfo dessa política fará como que os trabalhadores sigam em direção à extrema direita. Ou melhor, já está produzindo este efeito, o que pode ser visto pelo apoio de parte da classe trabalhadora à extrema direita brasileira (Bolsonaro e militares).

Assim, o PCO reiteira: é preciso combater o identitarismo, e lutar pelos reais interesses do povo brasileiro, o que deve ser feito desde já!

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