Após o golpe militar na Bolívia, deflagrado no dia 10 de novembro, o presidente da Venezuela Nicolás Maduro se tornou o único líder nacionalista a permanecer de pé na America do Sul – e um dos pouquíssimos na América Latina. Dilma Rousseff, no Brasil, Fernando Lugo, no Paraguai, o kirchnerismo, na Argentina e o correísmo, no Equador, foram todos derrotados, ainda que parcialmente, pela ofensiva golpista do imperialismo. Fazendo jus ao seu posto de liderança latino-americana contra os golpes do imperialismo, Maduro denunciou, no último dia 16, a fraude na qual se tornou Michele Bachelet, ex-presidente do Chile e Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Durante um telefonema na transmissão da concentração em apoio a Evo Morales – presidente deposto na Bolívia – em Caracas – capital da Venezuela -, Maduro questionou diretamente a omissão de Michelle Bachelet em relação aos assassinatos do governo interino boliviano de Jeanine Añez:
O que aconteceu na Bolívia [é] um golpe de Estado fascista-racista, um massacre de 25 mortos por tiros, a senhora Michelle Bachelet deveria dizer por que não falou sobre a Bolívia e continua sua obsessão fatal contra a Venezuela.
Além de Maduro, outro membro do governo venezuelano denunciou publicamente Bachelet. Segundo Jorge Arreaza, ministro de Relações Exteriores da Venezuela, a Alta Comissária pediu que Maduro não reprimisse uma manifestação da direita golpista em seu país, que era parte de uma conspiração para entregar a Venezuela ao imperialismo norte-americano:
Ela me escreveu pedindo hoje não repressão contra a marcha da oposição […] Eu disse à sra. Bachelet como é possível que você me dê essa sugestão e, pior ainda, em nome do Alto Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos, quando você praticamente não fez nada pelo que acontece no Chile, no Equador, pelo que aconteceu na Bolívia.
A indignação do governo Maduro com Michelle Bachelet não é à toa. Bachelet, que é membro do Partido Socialista do Chile, tem adotado uma série de posições profundamente reacionárias, sobretudo no que diz respeito à política latino-americana. A chilena já criticou várias vezes o chavismo e não denuncia a autoproclamação de Juan Guaidó como uma tentativa de golpe. Quanto ao Brasil, afirmou que o golpe contra Dilma Rousseff teria sido ilegal, limitando-se apenas a dizer que não gostou do impeachment porque a presidenta brasileira era uma mulher.
Apesar de apresentar uma política aberrante de maneira geral para a América Latina, Michele Bachelet chama ainda mais atenção quando se observa sua postura em relação aos direitos humanos. Bachelet, que é a principal representante da Organização das Nações Unidas (ONU) no que diz respeito aos direitos humanos, não critica em nada as mais sanguinárias ditaduras teleguiadas pelo imperialismo. Centenas de pessoas já perderam a visão do Chile por causa da repressão do governo Piñera, mais de duas dezenas de pessoas já foram assassinadas na Bolívia pelo governo Añez, Honduras vive uma verdadeira ditadura militar e a Colômbia está matando toda a oposição, mas nada disso foi criticado por Bachelet.