Na última terça, dia 26 de outubro, os trabalhadores, estudantes e um setor do movimento indígena foram às ruas para protestar contra o plano econômico proposto pelo banqueiro na função de presidente Guillermo Lasso. Diferentemente dos protestos anteriores, realizados em julho, agosto e setembro, estes são os primeiros realizados sob o estado de exceção decretado por Lasso há nove dias.
As manifestações e a greve geral, “o Paro Nacional”, foram convocadas pela Frente Unitária dos Trabalhadores, principal central sindical do país, pela Frente Popular e pela CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador).
Suas reivindicações são o congelamento dos preços do diesel a U$1,50 o galão e da gasolina a U$2,00 o galão, o apoio ao projeto do Código do Trabalho apresentado pela FUT, melhorias dos preços dos produtos agrícolas, mudanças nas políticas extrativistas e a garantia dos direitos coletivos das comunidades indígenas.
Na última sexta-feira, Lasso estabeleceu o congelamento dos combustíveis, mas só depois que autorizou um novo aumento com o diesel passando para US$1,90 e a gasolina a US$2,55. Vale esclarecer que, desde 2000, o país andino adota o dólar como moeda nacional, uma medida defendida no Brasil por alguns economistas tucanos, que provoca uma submissão ao imperialismo. Além disso, a partir de 2020, ainda no governo Lenín Moreno, são realizados aumentos mensais dos combustíveis mesmo sendo um país exportador de petróleo.
A mobilização popular tem recebido a adesão de outras importantes organizações como a Federação de Estudantes Universitários do Equador (FEUE) e a Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Negras e Indígenas (FENOCIN) entre outras.
Chegando a cem dias no poder e sem maioria no parlamento e enfrentando manifestações populares cada vez maiores, Guillermo Lasso decretou um estado de exceção por 60 dias com a desculpa de combater o narcotráfico com o uso das forças armadas. Em 30 de setembro, ocorreu um enfrentamento em um presídio que provocou a morte de 119 presos que Lasso usou para justificar o estado de exceção.
O Decreto vai valer inicialmente para nove províncias das 24 existentes: El Oro, Guayas, Santa Elena, Manabi, Los Rios, Esmeraldas, Santo Domingo de los Tsáchilas, Pinchincha e Sucumbios. Com exceção da última, que faz fronteira com a Colômbia, as outras são próximas ao litoral e oito delas o candidato apoiado por ex-presidente Rafael Correa, o economista Andréz Arauz venceu nos dois turnos na eleição presidencial. Nestas províncias, está autorizado o emprego das Forças Armadas para o patrulhamento e revistas por 24 horas com a coordenação das forças policiais. Um prenúncio de um estado ditatorial.
Pelos informes que chegam durante o primeiro dia uma repórter foi agredida, Paloma Morante e dezoito pessoas teriam sido detidas por realizar bloqueios nas estradas. E no final do dia, a marcha na capital Quito foi reprimida com o uso de granadas de gás lacrimogêneo, ainda que os manifestantes reagissem lançando paus e pedras em resposta. O confronto se deu na praça San Domingo a 350 metros do palácio presidencial que estava protegido pelo exército além das tropas especiais da policia.
É necessário que a mobilização popular cresça para inviabilizar o projeto ditatorial de Lasso. Não se deve esquecer que o banqueiro agora presidente piorou ainda mais sua situação com a revelação no escândalo do Pandora Papers que tinha 14 empresas financeiras opacas. Segundo o jornal El País de três de outubro, dez estariam inativas e os seus familiares seriam herdeiros das empresas. No dia 21 de outubro, o Ministério Público equatoriano abriu uma investigação contra o ditador por fraude fiscal o que pode levar ao reconhecimento que as eleições foram fraudadas.
O importante é que tudo isto incrementa a mobilização popular para que o povo equatoriano consiga superar os efeitos nefastos do projeto neoliberal da burguesia.