O “mais jovem presidente do Chile” se prepara para assumir o cargo com um pacote de demagogia identitária mesclado com garantias de que o neoliberalismo seguirá como norte do governo chileno. Para se ter uma ideia, o presidente do Banco Central do governo Piñera está sendo indicado por Gabriel Boric para o Ministério da Fazenda.
Parte da esquerda brasileira fez festa com a vitória de Boric no Chile. Seria a conclusão eleitoral das gigantescas manifestações populares no país, que se arrastaram contra o governo de Sebastián Piñera mesmo com uma repressão policial violentíssima. O enredo caiu como uma luva para essa esquerda pequeno-burguesa que tem como meio de vida a mendicância eleitoral, servindo para justificar o abandono da campanha Fora Bolsonaro nas ruas para concentrar sua atividade nas promíscuas alianças eleitorais.
O problema dessa fantasia política é que o combustível das manifestações chilenas foi o repúdio da população à política de terra arrasada do neoliberalismo, que teve no Chile um importante laboratório no continente. O povo colocou o problema claramente na palavra de ordem “não são 30 pesos, são 30 anos”, em referência ao aumento da tarifa de metrô que operou como estopim do levante. E Boric não representa uma oposição a essa política, mas uma continuidade do que já foi feito pelo Partido Socialista no país.
Não por acaso, o Diário El Mercurio tem defendido entusiasticamente a integração do PS ao governo Boric. O principal jornal da burguesia chilena faz campanha pela ruptura da Frente Ampla com o Partido Comunista e uma aproximação com o partido supostamente esquerdista que se reveza com a direita na implementação do neoliberalismo pós ditadura Pinochet no Chile. Um paralelo brasileiro com o PS, para se ter um ponto de comparação, seria um PDT ou um PSB na presidência, partidos da burguesia ditos de esquerda.
A afinidade de Boric com esse setor da esquerda chilena explicita o nível da derrota política ocorrida no país, de manifestações que quase derrubaram o governo da direita a esquerda parlamentar conseguiu extrair a continuidade do revezamento eleitoral. Diante da falência dos partidos mais identificados com o regime político, aparece a “nova esquerda” para dar um maquiagem mais esquerdista à mesma política que esmaga o povo chileno há décadas.
Boric consolida suas posições pró imperialistas na América Latina ao indicar inimigos dos governos nacionalistas da região para cargos importantes. É o caso da indicação de Antonia Noguera para a chancelaria chilena, uma aberta opositora dos governos Venezuelano e Nicaraguense, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA).
No cenário econômico, mais neoliberalismo contra o povo. Nas relações internacionais, mais segurança para as intervenções imperialistas contra os governos minimamente independentes do continentes. O que justifica tanta comemoração da esquerda universitária, a não ser esperanças mesquinhas em torno de verbas públicas para uns poucos malandros?