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Castillo x Keiko Fujimori

Peru: burguesia aposta no fascismo para evitar esquerda no poder

Eleição polarizada no país andino, um sintoma da situação continental

No Peru, pesquisa realizada pela Datum Internacional a menos de duas semanas do segundo turno das eleições presidenciais, marcadas para o próximo dia 6 de junho, mostra o candidato de esquerda Pedro Castillo como o favorito do eleitorado peruano, com 45% das intenções de voto. Por sua vez, Keiko Fujimori, filha do ditador fascista Alberto Fujimori que governou o país de 1990 a 2000, tem 40%.

Golpe seguido de fascismo: a semelhança com o Brasil de 2018

A situação política no Peru é muito parecida com a do Brasil de 2018, o país andino sofreu um golpe de Estado que derrubou o presidente Martín Vizcarra em 2020 sob a alegação de corrupção, sendo retirado do cargo sem que investigações conclusivas tenham sido feitas e enquanto ainda tramitava um processo judicial no Tribunal Constitucional do país.

Após o golpe seguiu-se uma série de manifestações violentas que levaram a uma forte tendência popular à esquerda e a rejeição completa de qualquer candidatura da direita tradicional. Sem conseguir tornar viável um político burguês tradicional, a burguesia peruana decidiu apoiar massivamente a candidata de extrema direita. A campanha dos capitalistas peruanos e do imperialismo visa evitar a todo custo uma vitória da esquerda. Para isso, usam seu aparato de imprensa e poder econômico para eleger Keiko Fujimori e fomentar uma campanha de incriminação da esquerda, do socialismo e do comunismo, acusando o moderado Castillo de ter vínculos com o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso e de querer transformar o Peru em uma Venezuela.

Burguesia e imperialismo rechaçam a esquerda, mesmo que moderada

Apesar de Castillo ser um político extremamente moderado, tanto a burguesia quanto o imperialismo temem a sua eleição, uma vez que o Peru vive uma crise política e social gigantescas com potencial para levar a uma radicalização na mobilização das massas. As manifestações que tomaram conta do Peru no final de 2020 acabaram sendo canalizadas para a candidatura de Castillo. Keiko Fujimori, assim como Bolsonaro no Brasil, não seria a primeira escolha da burguesia, contudo diante da falência do regime político ela foi a única opção com chances de derrotar Castillo.

Uma forte indicação de que o imperialismo fez sua escolha pela extrema-direita vem do posicionamento de um de seus expoentes mais fieis no país, o escritor Mario Vargas Llosa, ganhador do prêmio Nobel de literatura em 2010, que há anos deixou de ser um simples escritor para se transformar em um importante articulador da direita tradicional peruana e do imperialismo na América Latina. Apesar de ser declaradamente antifujimorista, Llosa afirmou que Castillo pretende criar uma “sociedade comunista” e que apenas a filha do ex-ditador Alberto Fujimori pode salvar o Peru de uma “tragédia”. Declarando voto na candidata fascista, o escritor disse que Keiko seria para ele o “mal menor”.

Mentiras e chantagem, as armas da direita

A tentativa de vinculação de Castillo a uma esquerda radical também é muito arbitrária. Castillo é tido como um conservador nos costumes, ele é contrário à legalização do aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Também se opõe ao enfoque de gênero no currículo escolar, seja lá o que isso signifique.

No último dia 23 de maio, ocorreu um ataque em um bar na região do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro, no centro do país, que a imprensa burguesa rapidamente atribuiu ao Sendero Luminoso, grupo de orientação maoista surgido nos anos 1960. Segundo a polícia peruana, foram encontrados perto das vítimas folhetos identificados como do “Militarizado Partido Comunista del Perú”, que reúne os militantes do Sendero Luminoso.

O ataque veio em momento oportuno para reforçar o clima antiesquerdista promovido pelas forças de direita, justamente dias antes da eleição. A campanha de Keiko conta com o empenho da impressa em pintar Castillo como um elemento radical, e martelar dia e noite a campanha contra o Sendero Luminoso, como fez a Globo no Brasil na ocasião do golpe de 2016 com sua campanha sobre a microcefalia, a dengue e “caos” na saúde.

Ninguém assumiu a autoria do ataque até o momento, o que lembra muito o episódio do sequestro do empresário Abílio Diniz no Brasil em 1989, quando a imprensa afirmou que material de propaganda política do PT teria sido encontrado junto com os sequestradores. Na ocasião, o delegado Romeu Tuma assegurou que os sequestradores seriam terroristas e integrariam duas organizações de extrema esquerda no Chile – Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e Organização de Resistência Armada (Ora) e que em poder dos que foram presos foi apreendido material de propaganda política do PT. Mais tarde tudo foi desmentido, mas aí a mentira já havia cumprido o seu papel eleitoral contra a candidatura de Lula.

Uma lição a ser aprendida

O que ocorreu no Brasil em 2018 e que agora se repete no Peru mostra que para evitar que a esquerda volte ao poder e para manter um regime favorável à exploração golpista, o imperialismo não vê problemas em apoiar fascistas e ditadores, desde que seja um ditador amigo. Mais uma vez, os fatos mostram que não existe o burguês do bem, Biden assim como Trump, ou pior ainda que este, é um imperialista e antidemocrático, que apoia o fascismo no Peru hoje e não verá problema em apoiar mais uma vez o fascismo no Brasil em 2022.

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