O presidente do Peru, Pedro Castillo, rachou com o seu partido, o Peru Libre. O presidente do país declarava-se marxista durante as eleições e concorreu, de modo bastante acirrado, com Keiko Fujimori, filha do ex-ditador do Peru Alberto Fujimori. Durante as eleições, todo o apoio que recebeu foi baseado no fato de ele ser supostamente radical de esquerda – o Peru vive intensas crises políticas e revoltas contra o sistema estabelecido: para se ter uma ideia, nos últimos 5 anos, o país teve 5 presidentes diferentes.
O cidadão que ganhou as graças de alguns setores da esquerda internacional – setores altamente iludidos e confusos – possui um passado obscuro, pouco conhecido e que levantava dúvidas sobre o seu posicionamento já na época. Ele foi membro de um grupo paramilitar reacionário chamado Ronda. Os rondeiros existiam para combater, militarmente, o Sendero Luminoso, que era um grupo de guerrilhas campesinas no Peru, que ganhou muito destaque durante a ditadura militar de tal país.
Na tentativa de ser aceito pelo imperialismo, Castillo abandonou completamente o programa que foi eleito prometendo defender; rompeu com as lideranças de seu partido e começou a distribuir cargos no governo para a direita. Tal giro político lembra muito o de Lenín Moreno no Equador.
Lenín Moreno era o vice-presidente do governo de Rafael Côrrea, um governo nacionalista burguês que foi golpeado pelo imperialismo. Com a queda do governo de esquerda de Rafael, Lenín Moreno assumiu prometendo manter a plataforma de governo. Enquanto isso, na realidade, ele rompeu completamente com isso: adotou o neoliberalismo, sucateou os serviços públicos, defendeu os interesses imperialistas e, portanto, rompeu também com toda a base popular que ele poderia ter. Sendo altamente odiado, foram levantados gigantescos protestos contra ele e sua política até o fim de seu mandato.
Aqui no Brasil, tentaram chantagear Dilma da mesma forma: como ela negou ser subserviente ao imperialismo, sofreu o golpe de Estado. Em certa medida, o golpe que ela sofreu serve como um indicativo de que, de fato, ela levava adiante uma política de defesa dos interesses da classe operária em alguma medida e, de todo modo, de oposição ao imperialismo. Isso é uma confissão do próprio Michel Temer, que chegou a declarar que se ela tivesse feito a ponte para o futuro, não sofreria o impeachment.
No Peru, Pedro Castillo tenta seguir os passos de Lenín Moreno: abandonar a base popular, ser odiado pelo povo, mas amado pelos banqueiros. Ele arranca as máscaras de “progressista” que um dia usou. No entanto, não há garantia alguma de que a burguesia o abraçará. O governo de Castillo se mostra como inimigo do povo, como extremamente fragilizado e não é possível prever de antemão os resultados desse giro à direita: ou a burguesia o acolherá como novo carrasco da classe operária ou o jogará aos leões em busca de um nome mais forte. Mas, de todo modo, a política marxista é a de combater esses farsantes, de não enterrar a luta no terreno meramente eleitoral – embora, em algum momento, a luta política possa vir a ser tratado também nele, mas nunca só nele.