No Brasil, no Chile e em todos os países onde o regime burguês está em crise, a cartada do espantalho sempre vem a calhar. Haverá eleição presidencial no dia 21 de novembro no Chile; a burguesia prepara o sucessor de Sebastián Piñera e em algumas pesquisas eleitorais, o primeiro colocado é José Antonio Kast (Partido Republicano), candidato da extrema-direita.
A propaganda da imprensa pró-imperialista é forte. Afinal, alguém precisa dar continuidade ao neoliberalismo e jogar água no movimento popular que estremeceu o regime chileno. No entanto, segundo a correspondente do blog Internacionalismo no Chile, Mônica de Souza, Kast não tem esse apoio todo. Trata-se de mais uma operação golpista da burguesia. Mas existe uma questão: ele não é exatamente o candidato dos sonhos da burguesia e do imperialismo; ele é uma espécie de Bolsonaro chileno, inclusive faz parte do Fórum de Madri, composto pelo VOX, partido espanhol de extrema-direita, apoiado pela família Bolsonaro, como parte da articulação da extrema-direita internacional. Com discurso típico da extrema-direita, Kast encarna o candidato “anti-sistema”, muito parecido com o do Bolsonaro.
Essa manobra não é novidade. A burguesia está usando Kast para criar um espantalho a fim de que a esquerda apoie Boric, que é uma espécie de Ciro Gomes chileno. A esquerda – ludibriada pela frente ampla – está toda a reboque de Boric, justamente por uma suposta unidade em torno do “mal menor” (no caso, eles acreditam mesmo que o Boric é de esquerda) contra o mal maior. O problema, porém, é que se Boric for eleito, ele será o resultado das enormes manifestações de características revolucionárias que tomaram conta do país desde 2019 e que foram desviadas para as instituições através da Assembleia Constituinte por conta da aliança da esquerda com a burguesia. Isso seria muito ruim para os chilenos, porque Boric manteria a mesma política do Piñera, mas com uma fachada progressista. É algo parecido com o Alberto Fernández na Argentina. Mas o problema não para por aí… Há outra questão a ser destacada: a burguesia pode acabar apostando mesmo no Kast. Nesse caso, veremos o regime chileno indo ainda mais à direita, a fim de esmagar de uma vez qualquer resquício das mobilizações de 2019.
A conclusão é simples: essa sinuca de bico é resultado da política capituladora da esquerda. Ao invés de atuar nas ruas e impulsionar a radicalização do movimento, atuando na direção das manifestações exigindo o rompimento com a burguesia, ela se uniu aos partidos burgueses para dar uma saída institucional pela Constituinte, que, em última análise, foi o paraíso para os capitalistas e para a direita, pois nas instituições consegue-se controlar perfeitamente a situação. A fórmula do fracasso está dada. Não é a primeira vez que os chilenos comerão o prato estragado da frente ampla. É preciso romper com a burguesia e construir uma solução proletária e revolucionária no Chile.