Angola se encaminha para a quinta eleição desde a implementação do sistema multipartidário no país no começo dos anos 90. Em fevereiro deste ano completaram-se 61 anos do início do processo de insurgência popular, em 1961, que culminou na proclamação da independência em 1975. Sob a liderança de António Agostinho Neto, o Movimento Popular de Libertação de Angola derrubou o regime colonial português e se mantém no poder até os dias de hoje. Logo após a independência, teve início uma longa guerra civil, que opôs o MPLA à UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).
Enquanto o MPLA teve um apoio magro da burocracia da União Soviética, a UNITA foi apoiado pelo imperialismo mais poderoso do mundo, os Estados Unidos, e pela África do Sul durante o regime do apartheid ─ e também pelos próprios colonialistas portugueses. Desde 1992, os dois partidos disputam as eleições em Angola, sendo que a guerra civil durou até 2002, quando a UNITA foi derrotada militarmente e seu líder, Jonas Savimbi, morreu.
A disputa atual, que tem ganhado as manchetes da imprensa imperialista, opõe o favorecimento da burguesia nacional, incluindo a burocracia estatal, à campanha imperialista pelo fim do governo do MPLA. Destacam-se na campanha que questiona a idoneidade do processo eleitoral angolano a rede de televisão portuguesa SIC (Sociedade Independente de Comunicação) e o canal alemão Deutsche Welle, entre outros órgãos da imprensa imperialista, além do próprio partido concorrente, a UNITA.
A União Europeia começa uma campanha de que as eleições de Angola correm risco de fraude. O imperialismo prepara um golpe contra o governo do Movimento Popular de Libertação de Angola. Fora o imperialismo da África!
— PCO – Partido da Causa Operária – (M) (@mpco29) August 23, 2022
Cabe destacar o contraste com o processo eleitoral no Brasil, onde o imperialismo impôs um veto a qualquer questionamento público, mesmo que seja restrito ao método de contabilização dos votos. Uma prova de que as regras impostas pelo imperialismo mundo afora não respondem a nenhum sistema lógico, mas às suas conveniências em cada situação.
🇦🇴A imprensa internacional diz que as eleições em Angola são manipuladas e serão fraudadas pelo governo do MPLA. Mas me parece que são mais democráticas do que no Brasil, onde não se pode usar outdoors. Em Angola a oposição usa outdoors e bandeiras nos postes sem problemas pic.twitter.com/nNUUoDKjKI
— Eduardo Vasco (@cheguevasco) August 23, 2022
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, atrás apenas da Nigéria. É claro que essa riqueza natural funciona como excelente incentivo para que o imperialismo venha oferecer sua “assessoria” no ramo da democracia. A campanha internacional denuncia o MPLA como monopolista da corrupção no país e inclusive que uma vitória do partido não seja reconhecida internacionalmente.
O deputado direitista do parlamento europeu, o italiano Fulvio Martusciello, solicitou em carta à União Europeia que a organização interfira no processo eleitoral angolano para garantir “eleições justas e transparentes”. Para não deixar pouco explícito o seu posicionamento na disputa eleitoral, o italiano caracteriza os governos do MPLA como um “regime autocrático”.
Deve causar enorme preocupação o fato do imperialismo europeu fazer tanto barulho em torno de tal pureza democrática nos países capitalistas atrasados. No caso de Angola, nada menos do que uma ex-colônia, libertada em maior medida pela ação empreendida pelo grupo que se pretende tirar do governo com a campanha atual.
Devemos denunciar a tentativa de intervencionismo do imperialismo, que procura controlar o processo eleitoral para colocar no poder um governo mais simpático aos seus interesses em Angola. É o povo que deve decidir em quem votar e sua vontade tem de ser respeitada. Onde estarão os esquerdistas apaixonados pela “autodeterminação dos povos” para protestar contra a UE agora?





