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Censura à Arte

A luta dos identitários pela destruição da cultura italiana

A obra do artista plástico Emanuele Stifano foi inspirada num poema do século XIX que conta um episódio socialista histórico que teve como protagonista uma camponesa de Sapri.

A cruzada dos identitários contra a arte continua se arrastando pelo mundo afora. Desta vez na Itália onde uma escultura em bronze representando uma mulher foi recentemente inaugurada.

A obra do artista plástico Emanuele Stifano foi inspirada num poema do século XIX que conta um episódio histórico que teve como protagonista uma camponesa de Sapri, uma povoação do sul de Itália.

Durante a inauguração do monumento no último sábado (25), vários homens estavam presentes, entre eles o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, motivo suficiente para que a obra fosse duramente atacada por figuras autodenominadas “defensoras da paridade de gênero”, que a consideram “ofensiva”.

O argumento dos identitários é de que a mulher esculpida estaria demasiadamente “sexy” e, portanto teria tido seu corpo “sexualizado” indo contra a “significação histórica” do acontecido.

O poema “O respigador de Sapri” (O respigador de Sapri) ou “The Gleaner of Sapri”, escrito por Luigi Mercantini, narra uma tentativa fracassada de insurreição contra os Bourbons do Reino de Nápoles em 1857, onde 300 pessoas morreram.

Além disso, uma parte do poema que justifica de certa forma os atributos físicos da escultura é a seguinte:

“Eles eram trezentos, eles eram jovens e fortes; E eles estão mortos!”

A batalha teve a participação decisiva de uma mulher que trabalhava nos campos de cereais da região situada na província de Salerno. A camponesa ficou famosa por ter abandonado tudo para participar na revolta liderada pelo pensador revolucionário e socialista italiano Carlo Pisacane, um dos heróis na luta pela independência da Itália à época.

Pelo Twitter, a deputada carreirista do Partido Democrata (PD) (sic) e ex-presidente da Câmara dos Deputados Laura Boldrini soltou a seguinte opinião: “Como podem as instituições aceitar a representação das mulheres como um corpo sexualizado? O machismo é um dos males da Itália”, escreveu.

Sua colega de carreirismo oportunista a senadora Monica Cirinná, chegou ao ponto de pedir que a estátua fosse retirada do espaço público.

Já o artista Emanuele Stifano escreveu no seu perfil do Facebook: “Estou chocado e horrorizado”.

“Quando faço uma escultura procuro sempre cobrir o menos possível o corpo humano, sem distinção de género”, pode ler-se, e, “neste caso, como a obra ia ficar na orla, aproveitei a brisa do mar para dar movimento à saia comprida, colocando assim o corpo dela em evidência”.

Para o artista não era importante fazer “um retrato fiel de uma camponesa dos oitocentos, mas antes representar um ideal de mulher, evocar o seu orgulho, o despertar de uma consciência, tudo, num momento de grande paixão”.

“Trata-se de sublinhar uma anatomia que não deveria ter sido um retrato fiel de uma camponesa do século XIX, mas sim representar um ideal de mulher, evocar o seu orgulho, o despertar de uma consciência, tudo num momento de grande pathos”.

Uma “esquerda” reacionária que censura a Arte

A cruzada identitária lembra outro tumulto pequeno-burguês ocorrido no ano passado envolvendo o monumento de Maggi Hambling em Londres que homenageia a protofeminista Mary Wollstonecraft. A obra de Hambling mostrava uma mulher nua emergindo do que parecia ser uma fonte de prata derretida.

Os detratores identitários à época também não ficaram satisfeitos com a obra do artista que buscava ser uma releitura, um tributo ao espírito pioneiro de Wollstonecraft ao invés de uma mera representação física.

O episódio recente na Itália está recheado de ignorância e fanatismo de tipo religioso. A bizarrice ataca uma das principais características das obras de arte produzidas na cultura Ocidental desde a Grécia Antiga: a sensualidade.

O que diria Michelangelo, artista que esculpiu o monumental Davi (1501-1504), se soubesse que em pleno século XXI uma corrente política que se diz progressista defende abertamente a censura às obras de arte assim como a Igreja Católica Romana que destruiu seu afresco “Juízo Final” (1536-1541) no teto da Capela Sistina, atual Museu do Vaticano?

Na época, o Mestre de Cerimônias Biagio da Cesena disse que Michelangelo “foi desonesto em um lugar tão honrado por ter pintado tantas figuras nuas que tão desonestamente mostram sua vergonha e que não era um trabalho para uma capela do papa, mas para fogões e tabernas “(G. Vasari, Le Vite).

Em 1564 após decisão da Congregação do Concílio de Trento algumas das figuras do Juízo foram consideradas “obscenas” e tiveram de ser cobertas.

A tarefa de cobrir a sensualidade exposta por Michelangelo foi dada inicialmente a seu discípulo Daniele da Volterra (1509-1566) posteriormente outros artistas seguiram descaracterizando a obra original por ordem da Igreja.

O ideal feminino

O marco zero para o ideal feminino ocidental talvez seja outra obra histórica de grande conhecimento: a Vênus de Milo. Este é uma famosa estátua grega que representa a deusa grega Afrodite, do amor sexual e beleza física, tendo ficado, no entanto mais conhecida pelo seu nome romano, Vénus.

É uma escultura em mármore com 203 cm de altura, que data de cerca de 130 a.C., e que se pensa atualmente ser obra de Alexandre de Antióquia. Foi descoberta em 1820, na ilha de Milo. Desde então, foi levada para a França e exposta no Museu do Louvre, onde se encontra até hoje.

Outras Vênus também contribuíram para este ideal feminino que influenciaria a representação estética feminina em diversas obras de arte ao longo dos séculos. É o caso da Vênus de Médici e da Afrodite de Cnido.

A Afrodite de Cnido é uma das mais célebres criações do escultor ático Praxíteles (século IV a.C.). A estátua tornou-se famosa pela sua beleza, concebida para ser apreciada de todos os ângulos, e por ser a primeira representação de uma deusa completamente nua. Afrodite prepara-se para um banho, segurando a sua roupa ou uma toalha na mão esquerda, enquanto esconde modestamente os genitais com a mão direita.

De acordo com uma descrição, possivelmente apócrifa, de Plínio, Praxíteles recebeu uma encomenda dos cidadãos de Cós para esculpir uma estátua da deusa Afrodite. Praxíteles terá criado duas versões: uma vestida com roupas e a outra completamente nua.

Assim como os identitários italianos, os cidadãos de Cós, chocados, rejeitaram a estátua nua e compraram a versão coberta, que não sobreviveu até aos nossos tempos, nem parece ter merecido a atenção dos seus contemporâneos.

A versão rejeitada de Afrodite nua foi então adquirida por alguns cidadãos de Cnido e exposta num templo ao ar livre, num pedestal que permitia observá-la de todos os lados. Tornou-se rapidamente uma das mais famosas obras de Praxíteles, pela sua beleza e erotismo.

A obra deu origem a uma família tipológica conhecida como Vênus Pudica, um dos modelos formais mais reproduzidos na arte do Ocidente, com muitas variantes.

A escultura de Emanuele Stifano é, portanto, apenas mais uma obra artística que sofre a influencia secular de toda a História da Arte Ocidental cujos fanáticos identitários tentam agora numa Cruzada reacionária fazer tábula rasa em nome de uma vazia “defesa das mulheres” sem combater o seu maior opressor: o Imperialismo.

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