Tatiane Damotta*
Gentrificação é o processo de transformação de uma área residencial da classe trabalhadora e espaços urbanos mais pobres em lugares mais atrativos para pessoas de alta renda. O processo se dá, por exemplo, com a construção de condomínios, áreas comerciais luxuosas, clubes noturnos, cafeterias, etc.
Nesse processo, os antigos moradores desses bairros populares são efetivamente obrigados a sair de suas casas. Aqueles que não vão para rua, acabam por morar longe de seus trabalhos, o que torna suas jornadas diárias muito mais longas devido à grande distância que têm de percorrer de casa ao trabalho.
A gentrificação é um processo complexo que envolve interesses de grandes empresas privadas e políticos locais. No final das contas, o objetivo é o lucro. Para lutarmos contra essa praga que vem tomando as cidades dos EUA é preciso entender essa complexidade.
Com o aumento nacional dos aluguéis, novos projetos de desenvolvimentos para pessoas ricas surgem nas cidades operárias de todo o país. As prefeituras apoiam essas iniciativas porque os políticos locais lucram diretamente, quando são donos de propriedades ou negócios locais, ou indiretamente, quando são alvo de lobby ou propina dos empresários. Com essas mudanças, a repressão da polícia cresce contra os moradores antigos.
Quando os capitalistas visam uma cidade para gentrificação, eles querem que a população local saia o mais rápido possível, mas, naturalmente, nunca colocam nesses termos. As empresas ricas que mudam para a área são apresentadas como salvadores da cidade, benfeitores que precisam ser bem-vindos porque vão gerar empregos. Dizem até que os condôminos luxuosos serão baratos e acessíveis. “Esquecem-se” que, para a construção desses condomínios, as casas de aluguel que já estão habitadas – e com aluguéis mais em conta – serão destruídas.
Tudo começa com os proprietários, que já negligenciam seus inquilinos operários. Quando percebem que podem ganhar mais dinheiro vendendo suas propriedades para grandes empresas, não pensam duas vezes.
As empresas, naturalmente, são ainda mais cruéis com os moradores. Sobem o preço dos aluguéis e levam os trabalhadores, sem condições de pagá-los, ao despejo. Isso se dá, inclusive, com a participação do Estado, que faz uso da violência policial para colocá-los na rua, uma vez que muitos nem têm para onde ir.
Capitalistas e políticos que defendem seus interesses se utilizam de diferentes ferramentas para disfarçar esse processo. Frequentemente fazem declarações vazias sobre o quanto se preocupam com as pessoas, fazem alusão a ícones e figuras históricas respeitadas, tudo a fim de disfarçar suas verdadeiras intenções. As empresas até mesmo patrocinam arte com símbolos revolucionários ou dão apoio superficial a algumas causas progressistas.
Enquanto se disfarçam de bons moços, destroem a vida da população trabalhadora, empurrando-os para a sarjeta. Isso requer que os trabalhadores entendam que suas dificuldades não são fatos isolados e que a luta conjunta contra o sistema que nos oprime é fundamental. Temos que fazer um trabalho de conscientização para que possamos nos organizar e lutar. A crise de moradia nos EUA precisa ser descoberta e discutida. Não é possível que no país mais rico do mundo as pessoas não tenham onde morar!
*Militante do PCO nos Estados Unidos