Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Liberdade aos presos políticos

O sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick e a luta armada

Em 1969, cansados da paralisia dos partidos comunistas, movimentos revolucionários sequestraram um embaixador norte-americano e salvaram vidas.

Charles Burke Elbrick foi um diplomata dos Estados Unidos que, durante o período da ditadura militar, foi o embaixador representante dos interesses norte-americanos no Brasil. 

A ação mais ousada contra o regime militar - Zona Curva

Foto: O embaixador norte americano Charles Elbrick.

No dia 4 de setembro de 1969, o embaixador dos EUA foi sequestrado por militantes da luta armada; do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e da Ação Libertadora Nacional (ALN). 

A ação foi organizada por Franklin Martins e Cid Benjamin, ambos do MR-8. O sequestro ocorreu pela necessidade de libertar os presos políticos dos movimentos sindicais e estudantis levados pela ditadura. 

A ideia de sequestrar especificamente o embaixador Charles Elbrick ocorreu porque o diplomata realizava diariamente o mesmo trajeto de sua casa para a embaixada. O MR-8 solicitou ajuda técnica e militar à ALN, que já havia realizado várias ações diretas, como expropriações de bancos e armas.

Vários grupos políticos adeptos da luta armada surgiram na América do Sul após a revolução cubana, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), os Tupamaros no Uruguai, MR-8 no Brasil e etc. Isso aconteceu em decorrência do acirramento da luta de classes que ocorreu na região após a classe trabalhadora tomar o poder em Cuba, acirramento este que fez com que vários golpes militares ocorressem na América do Sul. 

Além disso, a falta de um partido político capaz de organizar a esquerda, contribuiu para o surgimento desses grupos foquistas no Brasil. Tendo em vista a paralisia em que o PCB se encontrava na época, devido ao controle que a burocracia stalinista possuía sobre os partidos comunistas sul-americanos.

O imperialismo norte-americano tem uma forte ligação com as torturas e caças aos grupos revolucionários, sindicalistas e estudantes na América do Sul. Logo, a ALN apoiou a decisão de sequestrar o embaixador Charles Elbrick, enviando membros de seu Grupo Tático Armado (GTA) para conduzir a ação.

Às 14 horas, na rua Marques, no bairro Humaitá, Rio de Janeiro, Elbrick foi sequestrado pelos revolucionários. A ação durou menos de 30 minutos e o único ferido foi o embaixador, uma coronhada na cabeça por tentar reagir ao sequestro.

Os militantes deram uma carta com as exigências ao motorista de Elbrick, exigindo a liberação dos presos políticos em troca do embaixador. 

Carta na íntegra: 

“Grupos revolucionários detiveram hoje o sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.

Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.

Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a certeza da vitória para o meio dos explorados.

O sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do imperialismo, que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de opressão e exploração.

Os interesses desses consórcios de se enriquecerem cada vez mais criaram e mantêm o arrocho salarial, a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta. Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, que não termina com a troca de um ou outro general no poder, mas que só acaba com o fim do regime dos grandes exploradores e com a constituição de um governo que liberte os trabalhadores de todo o país da situação em que se encontram.

Estamos na Semana da Independência. O povo e a ditadura comemoram de maneiras diferentes. A ditadura promove festas, paradas e desfiles, solta fogos de artifício e prega cartazes. Com isso, ela não quer comemorar coisa nenhuma; quer jogar areia nos olhos dos explorados, instalando uma falsa alegria com o objetivo de esconder a vida de miséria, exploração e repressão em que vivemos. Pode-se tapar o sol com a peneira? Pode-se esconder do povo a sua miséria, quando ele a sente na carne?

Na Semana da Independência, há duas comemorações: a da elite e a do povo, a dos que promovem paradas e a dos que raptam o embaixador, símbolo da exploração.

A vida e a morte do sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências são:

  1. a) A libertação de quinze prisioneiros políticos. São quinze revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses quinze homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.
  2. b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país.

Os quinze prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado _ Argélia, Chile ou México _, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação.

A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os quinze companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma “situação excepcional”. Nas “situações excepcionais”, os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da junta militar.

As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.

O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte.

Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.

Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente.”

— Ação Libertadora Nacional (ALN) / Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)

O governo, na época, estava nas mãos da junta governativa provisória de 1969, comandada pelo Brigadeiro Souza e Mello, Almirante Augusto Rademaker e o General Aurélio Lyra Tavares. A junta cedeu às demandas dos revolucionários e libertou 15 presos políticos: Luís Travassos, José Dirceu e Vladimir Palmeira, os líderes estudantis; José Ibrahim, líder sindical; Flávio Tavares, jornalista; Gregório Bezerra, dirigente do PCB em Pernambuco; Onofre Pinto, dirigente da VPR; Ricardo Villas Bôas, músico e integrante da Dissidência/MR-8; Ricardo Zaratini,ligado a movimentos sindicais do Nordeste; Rolando Fratti, do PCB; Agonalto Pacheco, da ALN; Mário Zanconato, do COLINA; Ivens Marchetti, do MR-8; Leonardo Rocha, da ALN, Maria Augusta Carneiro, do MR-8 e da Dissidência.

Após a chegada dos presos no México, o embaixador foi solto no dia 6 de setembro, em um jogo do América x Fluminense, no Maracanã.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.