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Dia de hoje na História

07/02/1756: Sepé Tiaraju morre na Guerra das Missões

Uma carta atribuída ao líder indígena e dirigida ao governo espanhol diz: "Nossa riqueza é a nossa liberdade. Esta terra tem dono e não é nem português nem espanhol, mas Guarani".

O dia de hoje na História marca os 266 anos da morte em combate de uma das mais importantes lideranças indígenas brasileiras do período colonial.

O cacique Sepé Tiaraju foi uma figura política de grande envergadura do século XVIII, vinculado ao povoado de São Miguel Arcanjo, ele foi alferes-mor (uma patente militar do período), corregedor (um tipo de governante municipal) e comandante da milícia armada da região.

O indígena atuava nas Missões, uma comunidade com 30 povoações (ou reduções) fundadas por padres jesuítas oriundos da Companhia de Jesus há mais de 250 anos, ainda por determinação da coroa espanhola, com o objetivo de converter os indígenas à fé cristã e a expandir o poder da Igreja Católica no continente.

O desenvolvimento econômico, artístico, educacional e cultural de que atingiu estas comunidades foi alvo de grande cobiça dos reinos de Portugal e Espanha que disputavam ora na ponta da caneta ora na da baioneta a hegemonia territorial da América do Sul desde a descoberta do Brasil em 1500 pelos lusitanos.

Desta disputa teve origem o Tratado de Madri, um acordo que Portugal e Espanha assinaram em 1750 na tentativa de solucionar as disputas territoriais entre as duas nações na América. Foi este acordo que permitiu que o território sob o controle de Portugal se expandisse consideravelmente consolidando boa parte das atuais fronteiras do Brasil no que abandonava inteiramente a “linha de Tordesilhas“.

O território da Colônia de Sacramento (no que hoje é o Uruguai) passaria assim para o domínio da Espanha enquanto que os Sete Povos das Missões (São Miguel Arcanjo, São João Batista, São Lourenço Mártir, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Nicolau e Santo Ângelo) passariam ao controle dos Portugueses. Com esse Tratado o Brasil ganhou já um perfil próximo ao de que dispõe hoje.

O Tratado de Madri é considerado um dos grandes trabalhos de Alexandre de Gusmão (1695-1753), para muitos o fundador da diplomacia brasileira e criador da doutrina do uti possidetis pela qual apenas vigorava o domínio político soberano de um país sobre os territórios que efetivamente já estivessem ocupados por este.

A Guerra

Para a fúria de Sepé Tiaraju, o Rei Fernando VI, da Espanha, ordenaria que as reduções jesuíticas fossem evacuadas a força se necessário, passando por cima de qualquer direito dos indígenas e religiosos que lá viviam. Prontamente Sepé toma pra si a iniciativa de liderar seu povo contra a expulsão promovida pelos espanhóis dando início a chamada Guerra Guaranítica (1753-1756) ou Guerra das Missões.

Uma carta atribuída ao líder indígena e dirigida ao governo espanhol diz: “Nossa riqueza é a nossa liberdade. Esta terra tem dono e não é nem português nem espanhol, mas Guarani”.

Traídos, os nativos recusaram-se a abandonar seu território e levantaram-se contra as poderosas forças imperiais de Portugal e Espanha.

Sepé se torna uma das principais lideranças das tropas missioneiras. No ano de 1754, comanda a artilharia de São Miguel, uma esquadra formada por dois canhões de ferro e dois de taquaruçu, e parte para o ataque contra as posições portuguesas na cidade de Rio Pardo. No episódio acaba capturado pela primeira vez porém consegue escapar durante sua escolta despistando os soldados portugueses em uma cavalgada épica até a margem de um rio que este atravessa a nado sob fogo inimigo e finalmente até sumir em meio à mata Atlântica na margem oposta.

Dois anos mais tarde, no início 1756, José de Andonaegui (governador de Buenos Aires) e Gomes Freire (governador do Rio de Janeiro), aproximavam-se pelo sul com cerca de 4 mil soldados. Sepé encontrava-se na região de São Gabriel de onde pretendia comandar a resistência principalmente por meio das famosas emboscadas.

No entanto, uma dessas tentativas acabou-lhe sendo fatal. Os indígenas provocaram as tropas ibéricas e em disparada embretaram-se na mata. Pouco antes de adentrar na floresta Sepé foi surpreendido por um tropeço de seu cavalo em um buraco de tatu às margens da sanga da Bica, um pequeno afluente do rio Vacacaí, no município gaúcho de São Gabriel.

A queda permitiu que um soldado português o alcançasse e com uma lança trespassou-lhe o corpo, deixando-o gravemente ferido. Prontamente chegara o governador de Montevidéu, o espanhol José Joaquim Viana, que dera início a uma sessão de tortura, queimando com pólvora ardente para na sequencia disparar um tiro mortal de pistola. Não satisfeito ordenou que Sepé fosse decapitado para que lhe exibissem a cabeça.

Apenas três dias depois, na localidade de Caiboaté, o também líder indígena cacique Nicolau Neenguiru cometeria outro erro fatal ao enfrentar as tropas inimigas em campo aberto, em formação de meia-lua. Acabaram cercados pelos portugueses e espanhóis e o que veio depois foi uma carnificina onde 1,5 mil indígenas foram mortos.

O episódio marca o final da disputa territorial entre os indígenas e as coroas portuguesa e espanhola, que seguiriam disputando entre si a soberania da região. Destas disputais surgiriam ainda os Tratados do Pardo (1761) que tornaria nulas todas as disposições e feitos decorrentes do Tratado de Madri; Tratado de Santo Ildefonso (1777) onde Portugal e Espanha seguiriam em linhas gerais os limites estabelecidos pelo Tratado de Madri, embora com prejuízo para Portugal no extremo sul do Brasil e a Convenção (ou Paz) de Badajoz (1801) que estabeleceu as condições de paz na Península Ibérica (sem fazer menção aos limites das colônias de Portugal e da Espanha na América do Sul). Com isto tornou nulas, na prática, todas as disposições a respeito entre estes dois países, permitindo a expansão da ocupação gaúcha até o rio Uruguai.

A partida física de Sepé também marca o declínio das reduções jesuíticas guarani. A própria Companhia de Jesus foi proscrita em todo o mundo e proibida de atuar pela Igreja Católica.

Chegava ao fim uma das mais bem sucedidas experiências de vida comunitárias já produzidas pelo homem, à qual o pensador francês François-Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, chamou de “Triunfo da Humanidade” e que Montesquieu (1689-1755) comparou ao sistema político-filosófico imaginado por Platão em A República.

Herói da Pátria

No dia 21 de setembro de 2009, foi publicada a Lei Federal 12.032/09, que traz em seu artigo 1º o texto “Em comemoração aos 250 (duzentos e cinquenta) anos da morte de Sepé Tiaraju, será inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, o nome de José Tiaraju, o Sepé Tiaraju, herói guarani missioneiro rio-grandense”.

Sepé Tiaraju por seus feitos chegou a ser considerado um santo popular, e virou personagem lendário do Rio Grande do Sul onde sua memória ficou registrada na literatura por Basílio da Gama no poema épico O Uruguai (1769) e por Érico Veríssimo no romance O Tempo e o Vento, recentemente adaptado para o cinema.

Como homenagem ao heroísmo e à coragem de Sepé Tiaraju, a rodovia RS 344 recebeu o seu nome. Existe também no Rio Grande do Sul o município de São Sepé, nome que reflete a devoção popular pelo herói indígena.

Universidade Marxista: 500 Anos História do Brasil

Sepé é história, se transformou em mito, mártir, santo e herói. Povoa o imaginário, aglomera façanhas, é fruto dos anseios humanos na busca do ideal, da utopia, da liberdade.

As façanhas das Missões Jesuítico-Guarani também já inspiraram o Carnaval brasileiro e foram contadas pela escola Beija-Flor de Nilópolis em 2005.

Esse grande líder indígena assim como os Jesuítas e os Bandeirantes fazem parte dos mais de 500 Anos da formação complexa da História do Brasil, um país continental, e tema da próxima Universidade Marxista do PCO.

Inscreva-se agora mesmo nesse que será o maior estudo do ponto de vista revolucionário já realizado sobre a formação do nosso País.

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