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Publicação de massas

A Classe Operária, 1° jornal operário partidário do Brasil (III)

Há quase 100 anos, jornal do antigo PCB era mantido pelos trabalhadores, abrindo uma tradição seguida pelo DCO

No terceiro e último artigo sobre o nascimento do jornal A Classe Operária, o DCO reproduz o encerramento da parte do livro de Octavio Brandão que trata minuciosamente a respeito do órgão de imprensa do antigo PCB. A Classe Operária foi o primeiro jornal operário partidário do Brasil e a história de seus primeiros anos é uma expressão do crescimento do próprio partido e do movimento operário no País.

A Classe Operária, o 1° jornal operário partidário do Brasil (I)

O DCO tomou a decisão editorial de reproduzir parcela do livro “Combates e Batalhas”, de Brandão – primeiro diretor de A Classe Operária -, a fim de propagar a reformulação do nosso portal. Como explicado no evento de lançamento do novo formato do DCO, agora nosso sítio tem mais de 20 blogs, duas publicações diárias diagramadas (o próprio DCO em PDF e o boletim Bandeira Vermelha) e um plano estético completamente novo.

Assim, os leitores e colaboradores do DCO terão de maneira mais acabada o entendimento da importância de uma imprensa operária, revolucionária e partidária. A intenção é, também, incentivar a interação e a colaboração cada vez maior dos nosso leitores com o DCO, seja escrevendo para o nosso jornal, seja contribuindo financeiramente, seja divulgando o portal nas redes sociais ou imprimindo e distribuindo nossas publicações como o Bandeira Vermelha.

“A Classe Operária”

(in Brandão, Octavio. Combates e Batalhas – Memórias – Volume 1. Alfa Omega, 1978)

O perigo era grande. Eu vivia ilegal, clandestino, desde 5 de julho de 1924. Vesti uma blusa de zuarte, o que era comum entre os trabalhadores da época. Disfarcei-me, a fim de escapar à vigilância da polícia, à prisão e à deportação para a Clevelândia. Comecei a trabalhar. Durante anos, muitos operários viram-me disfarçado. Mas guardaram sempre o mais completo sigilo e fidelidade ao amigo.

À tarde de 30 de abril de 1925, o 1º número do jornal estava composto numa tipografia da rua Frei Caneca, perto da rua Riachuelo. Mas a máquina de impressão se quebrou na hora necessária. Assim, à meia-noite, saí pelo mundo, à procura de outra tipografia. Encontrei-a à rua Luiz de Camões. Não dormi. Trabalhei 26 horas sem interrupção. Mas, na manhã de 1ºde maio de 1925, A Classe Operária estava impressa em pequeno formato, com 4 páginas. À tarde, foi distribuída amplamente no comício da Praça Mauá e acolhida carinhosamente pelos trabalhadores.

Os operários da célula comunista de O Paiz solicitaram à direção que A Classe Operária fosse composta e impressa nas oficinas desse jornal governista. Foram atendidos. O governo, em luta com os revoltosos, não queria complicações com os operários. Temia-os. E o nosso jornal melhorou muito, já no nº 2.

Eu recebia o salário de 250 mil réis por mês, para quatro pessoas, véspera de cinco.

O esforço, exaustivo. Levantava-me cedo. Trabalhava até meia-noite, uma e meia da madrugada.

A princípio, por causa da pobreza do jornal e por falta de gente para servir gratuitamente, tive de acumular os cargos e as tarefas. Fui diretor, redator, administrador, caixa, paginador, pacoteiro e expedidor de A Classe Operária. Depois, apareceram auxiliares gratuitos. Mas o trabalho aumentava sempre.

Eu fazia tarefas múltiplas. Multiplicava-me. Fazia o balancete. Escrevia artigos. Ia às fábricas e oficinas. Cominava a colaboração com os outros camaradas. Dedicava atenção especial às cartas e aos artigos dos trabalhadores. Passava-os a limpo, respeitando rigorosamente os originais. Punha em ordem os materiais. Ia à tipografia. Atendia aos pacoteiros. Distribuía o jornal.

Publiquei em A Classe Operária artigos e reportagens, notas e comentários. Expliquei as características do imperialismo, recorrendo aos pseudônimos de Krieg e Karl Krieg (nº 6 e nº 10).

Fui às fábricas e oficinas do Rio de Janeiro. Aí colhi diretamente materiais concretos. Sobre esta base, publiquei reportagens a respeito das condições de vida e trabalho. Formulei as reivindicações imediatas, indicadas pelos próprios trabalhadores. Chamei-os à luta, especialmente tecelões, marítimos, ferroviários, padeiros, trabalhadores da fábrica de cigarro Souza Cruz, do Moinho Inglês, da Light, dos estaleiros das ilhas de Niterói. Escrevi no nº 5 a respeito das sobrevivências feudais do Nordeste. Inseri uma narrativa sobre “A Vida de um Metalúrgico”. Desmascarei a 2º Internacional e Albert Thomas. Ataquei a estreiteza corporativista, empregando o pseudônimo de Manoel Braúna. Exaltei episódios da História do Brasil como o Quilombo dos Palmares e a bravura do Zumbi. Glorifiquei al uta de Espártaco, no nº 10, com o pseudônimo de João Garroeira.

Carreguei aos ombros pacotes enormes do jornal. Distribuí-os à porta das empresas industriais do Rio de Janeiro. Escrevi inúmeras cartas aos amigos e simpatizantes nos Estados desde o Amazonas e o Pará até o Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Enviei-lhes prospectos, folhetos e jornais.

A Classe Operária ia dar um salto. O desenvolvimento histórico não se faz por linhas retas, rígidas, uniformes. A perspectiva era de uma tiragem cada vez maior. Tínhamos economias para comprar papel para 100 mil exemplares.

Nesta hora, chegou Albert Thomas ao Brasil. Os jornais das classes dominantes diziam: — “É um grande socialista”. Na realidade, era um social-reformista, instrumento da burguesia. Veio continuar em nosso país sua obra de traição: montar no movimento sindical uma agência do Birô Internacional do Trabalho e do oportunismo internacional.

A própria base do PCB não sabia quem eram Albert Thomas e seu Birô. Na massa operária, havia ilusões. Os sindicatos dos transportes, como o dos estivadores, dirigidos por amarelos e policiais, abriram as portas a esse traidor.

Que fazer? Se atacarmos Albert Thomas, o governo possivelmente fechará o jornal. Se silenciarmos, o reformismo se reforçará. Decidimos arriscar. No pior dos casos, cairíamos de pé, lutando. Abriríamos a perspectiva de uma vitória futura.

Saiu o nº 12 de A Classe Operária, a 18 de julho de 1925. Desmascarou implacavelmente o reformismo, os pretensos “socialistas”, A 2º Internacional, o Birô Internacional do Trabalho, de Genebra, e seu chefe Albert Thomas.

O ministro da Justiça, Afonso Pena Júnior, fechou imediatamente A Classe Operária. Deste modo, os agentes da burguesia e da 2ª Internacional eram protegidos pela reação semifeudal e semiburguesa do brasil, a serviço do imperialismo.

Eu estava na tipografia de O Paiz, paginando o nº 13 do jornal. Subitamente, fui agarrado e empurrado pelos operários e afastado do local. A matilha de policiais invadiu a tipografia e deu a ordem de proibição do jornal. Os policiais agarraram o chumbo de toda a composição e meteram-no nas caldeiras das linotipos.

Escapei por um triz. Fiquei escondido numa pagassem, atrás de uma porta. Assim, mais uma vez, livrei-me de ser preso e deportado para a Clevelândia. A vigilância e a fidelidade dos operários salvaram o amigo.

O pretexto para o fechamento foi a campanha contra Albert Thomas. Este partiu. A redação de A Classe Operária enviou-lhe a bordo do navio “Lutecia” o radiograma: “Podeis agradecer governo benefício interdição jornal operário”.

Depois de uma luta épica, cheia de nobreza e grandeza, A Classe Operária foi, pois, fechada pelo ministro da “Justiça” do governo Bernardes: Afonso Pena Júnior.

Os advogados drs. Roberto Lyra e Carlos Sussekind de Mendonça foram ao ministro. Em nome de A Classe Operária, solicitaram-lhe a nomeação de um censor oficial. O ministro recusou. Os advogados propuseram-lhe, então, que a censura oficial cortasse o que quisesse, contanto que o jornal continuasse a aparecer.

Afonso Pena Júnior respondeu: — “Impossível! Li com atenção todo o jornal, sua linguagem é a mais calma e a censura nada tem a cortar. Mas o que há de terrível é o espírito do jornal. Não poderá reaparecer!”

Afonso Pena Júnior era um politiqueiro de Minas Gerais, ligado aos latifundiários, à burguesia e à clericalha. Ocupou o cargo policial de secretário do Interior de Minas. Foi consultor “jurídico” do Banco do Brasil, muito bem pago. Tornou-se ministro da “Justiça” do governo Bernardes. Deste modo, pactuou com todos os crimes desse governicho. Depois, mascarou-se de “liberal” e “revolucionário”. Foi líder da Aliança Liberal e da pretensa “revolução” de 1930.

Era um subliterato. Entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1947. Aí, este reacionário ocupou o lugar de dois intelectuais avançados e progressistas. Sua cadeira tinha como patrono Castro Alves. Teve como ocupante Euclides da Cunha. Que decadência! Se Castro Alves e Euclides da Cunha estivessem vivos sob o governo Bernardes com o ministro Afonso Pena Júnior, não escapariam à cadeia e a Clevelândia!

O fechamento de A Classe Operária repercutiu em todo o país. Suscitou inúmeros protestos ao ministro da “Justiça” – cartas, mensagens, telegramas e abaixo-assinados como os dos operários e operárias das fábricas de fumo de São Félix, Cachoeira e Muritiba, na Bahia, com centenas de assinaturas. Esses protestos foram divulgados numa publicação especial.

O PCB fez várias tentativas para fazer reaparecer o jornal. Em vão. No Rio de Janeiro, nenhuma tipografia aceitou publica-lo legalmente. Em São Paulo, havia muita perseguição. O estado de sítio, um fato. A censura policial sobre os jornais impediu a publicação de quaisquer notícias a respeito do fechamento. As dificuldades políticas e técnicas foram insuperáveis.

De qualquer forma, A Classe Operária editou um total de 98.613 exemplares. Gastou 14 contos e 588 mil réis, dinheiro dado pelos trabalhadores, tostão por tostão.

O PCB era uma vanguarda que travava uma luta terrivelmente desigual contra imensas forças coligadas. Apesar de tudo, continuou a batalha. Lançou manifestos, panfletos, boletins, jornais avulsos. O fogo ficou sempre aceso. O proletariado perdeu seu órgão. Mas não o esqueceu. Finalmente, a 1ºde maio de 1928, A Classe Operária reapareceu, numa ascensão ainda maior!

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