Os bastidores das eleições 2022 seguem bastante agitados. A direita tradicional faz entra numa espécie de reta final para tentar emplacar uma candidatura própria, que garanta maior controle e estabilidade para o regime político fruto do golpe de Estado de 2016. Não disfarça, porém, que Bolsonaro segue sendo uma opção para derrotar o PT e a esquerda de conjunto.
A saga da terceira via
A direita tradicional segue tentando articular uma candidatura menos problemática do que Bolsonaro para estabilizar o regime político, que causou um derretimento do setor mais importante da direita. A polarização com a esquerda, e particularmente com Lula e o PT, ficou na mão da extrema-direita que se aglutinou em torno do até pouco tempo irrelevante Jair Bolsonaro.
Tendo em vista a agressividade da campanha antipetista nos monopólios das comunicações, figuras insossas da direita como o próprio “companheiro” Alckmin não foram capazes de capitalizar essa revolta cultivada em setores atrasados da população. Quatro anos após a farsa eleitoral de 2018, essa direita segue com muitas dificuldades nesse sentido, mesmo com todo o apoio das instituições “democráticas” e do setor mais importante da burguesia.
A imprensa burguesa tem dado ênfase às disputas dentro do MDB, partido que herdou diretamente o governo federal após o golpe contra Dilma Rousseff. Dentro de uma articulação que envolve também PSDB, Cidadania e União Brasil, o MDB apresentou a candidatura de Simone Tebet. Uma candidata mulher serviria para tentar limpar a ficha do partido com um banho de identitarismo.
A disputa dentro do PSDB, por sua vez, não para de acumular novos capítulos. Após turbulentas prévias, João Doria, o BolsoDoria, saiu vitorioso dentro do partido. Por sua vez, Eduardo Leite, o BolsoGay, aceitou publicamente a derrota mas seguiu discursando em tom de campanha eleitoral. Agora parece que os tucanos cogitam passar a perna em Doria e não apresentar candidato próprio.
A terceira via é essencialmente anti-Lula
Segundo os monopólios da comunicação, lançar uma candidatura própria é considerado de extrema importância para a cúpula do MDB. Em especial, visando fortalecer as candidaturas para o legislativo, impulsionando a formação de uma bancada forte no Congresso.
Nessa semana foi divulgada uma discussão dentro do MDB, que se baseou em um levantamento interno do partido. Em linhas gerais, entre seus delegados dos diretórios estaduais, parlamentares e prefeitos, o MDB tem mais apoio interno a Bolsonaro do que Lula. Sem candidatura própria, a maioria do partido estaria inclinada a apoiar Bolsonaro de cara, logo no primeiro turno. Para se ter uma ideia, a estimativa do partido dá conta de uma divisão entre 30% que apoiariam Lula contra 70% que apoiariam Bolsonaro.
Uma margem que não permite ter dúvidas sobre o que é o MDB e a direita tradicional como um todo. Contra a esquerda vale qualquer coisa e a “oposição” a Bolsonaro, o “antifascismo” da direita não passa de uma farsa com fins meramente eleitorais. Se a balança pender para o fascismo, aparecem até de bigodinho estranho na televisão para agradar a extrema-direita.
De certa forma, é mais ou menos o que fizeram para capitalizar em favor próprio a conquista do governo federal pelo PT no começo do século, resultado não de uma transformação dos políticos burgueses, mas de uma gravíssima crise econômica e social provocada pelo neoliberalismo. Agora, o alinhamento com a extrema-direita é muito mais natural, pois não existem divergências programáticas importantes, apenas pontuais.
Lula 2022 é nas ruas
Não é preciso ser um analista político experiente para ver que a aliança com a direita não é confiável e ainda não serve de nada para a candidatura de Lula. Pior, consegue a proeza de inibir a militância de esquerda e afasta os trabalhadores esmagados há décadas por essa direita.
Para a direita é terceira via ou Bolsonaro, Lula só se for empurrado goela abaixo. Não será com conversas a quatro paredes, mas com a pressão do povo nas ruas que a candidatura Lula pode se impor. Só se a burguesia temer uma agitação potencialmente revolucionária, que vai ceder para tentar esfriar a situação. Para os trabalhadores, é Lula ou nada!
