A Folha de São Paulo, um dos principais órgãos de imprensa da burguesia brasileira, publicou um artigo acerca da liberdade de expressão no último dia 30. O destaque é para a pesquisa da ONG Artigo 19 que indicou que esse direito democrático atingiu uma baixa histórica durante o governo Bolsonaro. O objetivo da matéria é pintar o presidente Bolsonaro como o grande inimigo da liberdade de expressão. Apesar de ter uma avaliação correta, a Folha cinicamente esconde quem são os reais inimigos desse direito, ela própria, o Globo, o Estadão, isto é, os monopólios da comunicação.
A pesquisa em si não indica que Bolsonaro é o inimigo da liberdade de expressão no Brasil, mas sim o golpe de Estado de 2016. O Brasil se encontrava na mais alta pontuação desde 2011 até o ano de 2015, auge do processo de golpe contra a presidenta Dilma, quando começou a cair rapidamente no ranking. A maior queda se deu durante o governo do golpista Michel Temer e continuou de forma mais atenuada durante o governo Bolsonaro. Mesmo não sendo uma fonte confiável esse fato já revela o tamanho do cinismo da Folha de SP.
O ponto em que o Brasil teve uma alta durante o governo atual foi o de ataques a jornalistas e veículos de imprensa, foram 430 em 2021, o maior número desde os anos 1990. Nas palavras da ONG “no trabalho de campo, em vez de serem protegidos por suas identificações, os jornalistas são frequentemente escolhidos, assediados e atacados”. Contudo isso não pode ser utilizado como o grande dado para medir a liberdade de expressão no país. Os grandes jornais da imprensa burguesa, mesmo com esse aumento de forma alguma tiveram uma dificuldade maior para publicar as suas opiniões.
Enquanto a Folha se utiliza da falsa defesa dos direitos democráticos para atacar Bolsonaro, ela mesma é uma das maiores defensoras do fim desse direito. A ideia ditatorial de que a liberdade de expressão não pode ser absoluta, que existe um abuso da expressão, que existe crime de opinião é difundida pelos monopólios da imprensa todos os dias. Não só isso como os tribunais que impõe essa ditadura também são constantemente defendidos. O caso recente dos ataques do STF aos bolsonaristas e ao PCO deixam isso muito claro. A imprensa burguesa escancarou que é inimiga da liberdade de expressão.
Bolsonaro, mesmo sendo um defensor da ditadura, no atual momento se encontra na defensiva perante as forças políticas que dominam o Brasil, que se aglutinam em torno da 3ª via. Nesse sentido ele, pelo menos na retórica, desde que os seus aliados bolsonaristas passaram a ser atacados pelo judiciário em 2021 se tornou um maior defensor da liberdade de expressão que a própria Folha de São Paulo. No caso do PCO, por exemplo, ele se colocou abertamente contra o bloqueio na conta do Telegram. Isso ocorre devido a seu interesse de não ter as suas próprias contas bloqueadas, mas é exatamente assim que funcionam os direitos democráticos, é preciso defendê-los até para os seus inimigos pois se eles não existem você se tornará o alvo da repressão, principalmente se você for de esquerda.
A Folha de São Paulo não ataca a liberdade de expressão somente com a sua campanha pró judiciário e pró crime de opinião, existe também a gigantesca campanha em defesa do cancelamento e do identitarismo. A imprensa burguesa é quem lidera os processos de caça às bruxas que na prática destroem a liberdade de expressão, foi assim com o jogador de vôlei Mauricio Souza, foi assim com Chico Buarque, foi assim com Monark e com todos os escândalos fabricados que terminam com o alguém sendo punido apenas por ter expressado uma opinião.
A ideologia identitária toda se baseia no policiamento das ideias, o mal do mundo não provém da realidade material, da pobreza, da luta de classes mas sim de conceitos na cabeça das pessoas. Caso a pessoa tenha uma ideia errada que pode ser categorizada como racista, machista ou homofobica ela não tem o direito de expressá-la pois é por meio dessa expressão que a opressão acontece, e sendo assim é preciso reprimir a expressão para por um fim a opressão. Essa tese completamente errada só se sustenta devido ao financiamento do imperialismo, inclusive por meio dessa própria imprensa, visto que é muito interessante chegar a conclusão que a repressão é a solução para os problemas do mundo.
Bolsonaro é um verdadeiro inimigo da liberdade de expressão, mas ele não é o maior deles. Os seus maiores inimigos são justamente os que decidem quem pode e quem não pode falar, o que pode e o que não pode ser dito, ou seja, os que detêm o poder. E o mesmo vale para o outro lado, os maiores defensores da liberdade de expressão, bem como de todos os direitos democráticos, são os que não tem o poder, os que são oprimidos, e que lutam para se libertar desse estado. A classe operária é quem tem o maior interesse, por isso desde a sua fundação o marxismo foi um ávido defensor dos direitos democráticos e por isso o PCO segue até hoje os defendendo intransigentemente.
