Mais de cem mil trabalhadoras, segundo estimativas dos organizadores, reunindo camponesas, quilombolas, extrativistas, pescadoras, ribeirinhas, agricultoras e outras participaram, nos dias 13 e 14 de agosto, em Brasília, da Marcha das Margaridas, evento que de quatro em quatro anos, no mês de agosto, faz com que centenas de milhares de mulheres de todo o país ocupem as ruas do centro da capital federal, marchando em direção ao Congresso Nacional. Ao movimento se somam milhares de outros populares, trabalhadores urbanos, estudantes, indígenas, professores e servidores públicos, conformando um dos maiores movimentos nacionais de protesto, luta e oposição ao governo.
Neste ano a Marcha das Margaridas coincidiu com a realização dos atos nacionais em defesa da Educação, convocados pela CNTE, quando milhares de estudantes, professores e populares ganharam as ruas do país, no dia 13 de agosto, para mais uma jornada de luta contra os ataques do governo Bolsonaro ao ensino público, às universidades federais e à pesquisa científica. Os atos do dia 13 deixaram consignados também, mais uma vez, o sentimento de repúdio ao governo Bolsonaro, com milhares de manifestantes em todo o país levantando alto e em bom tom o grito de “Fora Bolsonaro”.
O poderio do movimento pode ser aquilatado pelo temor que desperta nas autoridades e no regime político. Já bem às vésperas do evento da Marcha das Margaridas e do ato do dia 13, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz fascista Sérgio Moro, anunciou que a Força Nacional estaria de prontidão para intervir e reprimir os atos, ameaçando diretamente os manifestantes, nos dois dias em que a cidade esteve ocupada pelos protestos. Esta determinação em colocar o aparato repressivo para reprimir, com o uso da força, uma marcha de mulheres e um ato de estudantes, revela o grau de profundidade da crise de conjunto do regime político, acuado pela bancarrota total da economia, dos sinais de recessão que se avizinham, do crescimento do desemprego e da impopularidade cada vez maior da figura do próprio presidente da república.
A sexta edição da Marcha das Margaridas acontece em um momento de grande radicalização da luta de massas em todo o País, onde nacionalmente cresce a disposição dos trabalhadores e de diversos outros segmentos atacados pelo regime golpista em sair às ruas em defesa dos seus direitos e conquistas e contra o governo que vem atacando, em todos os flancos, os trabalhadores e suas organizações de luta. A Marcha realizada em Brasília, um dia após os atos do dia 13 é um indicador seguro de que há um ambiente favorável para ampliar e intensificar as mobilizações dos mais diversos setores contra o governo Bolsonaro, o regime burguês de fome e miséria, a burguesia golpista, a extrema direita e o imperialismo.
O ponto nevrálgico de toda a situação, portanto, está na orientação política, melhor, na ausência de orientação política da esquerda nacional e das direções do movimento operário, sindical, estudantil e popular para guiar a luta de massas no país. A esquerda se recusa a colocar na ordem do dia a luta para colocar para fora o governo mais odiado e impopular da história recente do país. A derrota de Bolsonaro e seu governo de destruição nacional, de acordo com a estratégia, o desejo e a vontade da esquerda, será o resultado não da intervenção dos trabalhadores no cenário político; não das manifestações populares e da luta social de massas no país, mas dependerá do calendário eleitoral, das eleições municipais de 2020 e das eleições gerais de 2022. Até lá, Bolsonaro deverá continuar governando, ou seja, operando a maior obra de destruição da economia nacional; a liquidação dos direitos sociais e trabalhistas; o ataque aos negros, às mulheres e aos indígenas; a destruição do meio ambiente; a entrega do patrimônio público ao capital estrangeiro e ao imperialismo (Embraer, Petrobrás, Correios)
Não há qualquer perspectiva minimamente progressista nesta política, que aponta para a mais completa capitulação diante dos ataques, das investidas e da ofensiva de Bolsonaro e dos golpistas contra as condições de vida das massas. É necessário superar esta política, defensiva e de derrotas, substituindo-a por outra orientação, que coloque como prioridade a luta e a mobilização (e não as eleições) para o enfrentamento direto contra o governo de extrema direita, reacionário e servil aos interesses do imperialismo.