Há uma parcela da esquerda que defende que qualquer política é passível de ser defendida, desde que seja, mesmo que só supostamente, contra o “extremismo da direita”, em outras palavras, contra o bolsonarismo. Essa política na realidade coloca a esquerda a reboque da direita.
Essa atuação serviu para que a direita, teoricamente não aliada de Bolsonaro e seu governo, conduzisse uma série de ataques contra o povo brasileiro, menos uma real atuação contra o presidente ilegítimo.
A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados em 2019 foi um ótimo exemplo de que essa política é na realidade uma política contra os trabalhadores, que leva-os para uma derrota.
Essa concepção guiou uma parcela da esquerda e em especial o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) a se aliar ao bloco liderado pelo DEM para eleger Maia presidente na época, sob o pretexto de eleger uma figura do chamado centrão, supostamente para se fazer oposição ao bloco oficial de Bolsonaro.
Vale lembrar que o DEM é o partido herdeiro do antigo partido da ditadura militar no Brasil e um dos principais partidos no golpe de Estado de 2016, que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (PT) através de um impeachment fraudulento.
Nesse período de sua presidência, de lá para cá, Rodrigo Maia procurou conter uma série de ações do governo, no entanto, se aliou no que era a política essencial neoliberal, na política de ataque ao povo trabalhador brasileiro.
Mas ao que se refere a ataques diretamente contra o governo esse bloco não agiu. A Câmara recebeu 56 pedidos de impeachment contra o chefe golpista do Poder Executivo. Foram diversos pedidos, entre parlamentares da pseudo-esquerda, da esquerda com um pedido popular com partidos de esquerda e organizações populares e até mesmo da direita. Destes, 4 já foram arquivados e os demais 52 continuam em “análise”. Somente neste ano de 2020 foram 51 pedidos.
Para a abertura de um processo de impeachment é necessário que o Presidente da Casa aceite o pedido e faça a abertura do processo, como Eduardo Cunha (MDB) fez contra a presidenta Dilma Rousseff (PT). Contudo, derrubar Bolsonaro não é do interesse de Rodrigo Maia, que segue engavetando todo pedido que recebe.
Acontece agora que a esquerda repete o erro e pode chegar a votar novamente no candidato de Rodrigo Maia, do partido da ditadura militar, para a nova presidência da Casa.
A esquerda pequeno burguesa foi envolvida na operação da frente ampla da direita golpista que, sob a alegação do lutar contra o bolsonarismo, apoia candidatos da direita. Pode-se dizer, em outras palavras, na política do “menos pior”. Trata-se, na realidade, de uma falsificação.
Nesta formulação, no período eleitoral, falsamente a esquerda apresenta ao povo de que é obrigada a optar apenas entre duas candidaturas, o ruim e o horrível. Que deve participar da escolha de quem irá implementar os ataques da burguesia contra a população. Nesse sentido, quase sempre a escolha se dá entre um candidato da direita tradicional, em geral um nome ligado a setores mais poderosos da burguesia, e outro, da extrema-direita ou ligado a ela. Nestes casos, o primeiro é apresentado como democrático, neste período de pandemia, até mesmo como científico e civilizado, defensor da vida, enquanto o outro é apresentado como um candidato horrível. Daí surge a nomeação do “menor pior” numa campanha histérica.
Essa situação leva a uma derrota da classe trabalhadora. Justamente porque a burguesia tem seus interesses atendidos, mesmo que por uma manobra. O “mal menor” acaba por levar ao “mal maior” para os trabalhadores.
Tanto a direita tradicional como a extrema direita, estão a serviço da mesma classe social, que é a burguesia. Nesse caso, a situação, se torna pior justamente porque a manobra passa por submeter a esquerda e os trabalhadores.
A esquerda envolvida nessa manobra acaba por apoiar o aprofundamento do golpe de Estado. A direita vai destruindo os direitos políticos da população a cada movimentação golpista, levando o País para uma ditadura. Pela esquerda, não há resistência, mas uma política de adaptação, em nome de alianças com qualquer um que seja contra Bolsonaro.