Ao contrário do que a direita e o PSOL, o PCB e outros setores da esquerda nacional alegam, as eleições de 2018 não foram mais um episódio da “democracia brasileira”. Foram, acima de tudo, parte de uma grande manobra realizada pela burguesia, que conseguiu avançar vários passos no aprofundamento do golpe de Estado.
Em primeiro lugar, a direita conseguiu evitar que o maior líder popular do País participasse das eleições e que estas fossem ganhas tranquilamente por um candidato capacho do imperialismo. Em segundo lugar, a burguesia conseguiu dispersar de maneira muito intensa o movimento de luta contra o golpe, uma vez que a maioria dos setores que integram esse movimento foram tragados pela campanha eleitoral de Fernando Haddad – uma campanha que jamais poderia ser vitoriosa em tempos de golpe.
Como se os estragos feitos não fossem suficientes, a direita conseguiu, durante as eleições, fortalecer a ala direita do Partido dos Trabalhadores e criar condições para que partidos como o PSB, o PDT e o PC do B pressionassem o PT para se adequar aos interesses do imperialismo. Uma das figuras mais importantes nesse movimento foi, sem dúvida, Ciro Gomes, que culpou o PT por todos os males do país e prega que seria “saudável” para a esquerda abandonar o ex-presidente Lula e minimizar o protagonismo de seu partido.
Recentemente, o PDT – partido comandado atualmente pelos irmãos Ciro e Cid Gomes – deu mais uma demonstração de quais são os planos dos supostos partidos “progressistas” para a próxima etapa política. Segundo o próprio Cid Gomes, o PDT deverá apoiar Rodrigo Maia (DEM) para ser reeleito presidente da Câmara dos Deputados, uma vez que este daria uma maior “estabilidade” ao regime político.
A declaração de Cid Gomes é, esclarecedora da posição reacionária desses políticos burgueses. Primeiro: seu partido, que tanto critica o PT e tanto culpa a “intransigência” do PT por tudo de ruim que acontece no País, estaria disposto a apoiar um político tradicional filiado ao partido herdeiro da ditadura militar de 1964. Segundo: evidencia que a preocupação do PDT não é derrubar o governo Bolsonaro, mas sim fazer com que este seja “estável”, isto é, forte o suficiente para massacrar os trabalhadores sem ser ameaçado de cair.
A burguesia não está disposta a fazer uma oposição verdadeira no regime político vigente, uma vez que ela é parte do golpe de estado e da fraude que abriu caminho para a nova etapa do regime golpista. Para que Bolsonaro consiga levar adiante todos os planos macabros do imperialismo, será necessário governar apenas com seus pares. Por isso, um partido como o PT, que sofre muita pressão popular, precisa ser extinto ou sofrer uma reforma muito grande, como defende a sua direita.
Partidos como PC do B, PDT, PSB e PSOL, por outro lado, se mostram completamente dispostos a participar do “jogo de compadres” em que a direita pretende transformar o regime político. E a declaração de Cid Gomes é, nesse sentido, bastante esclarecedora: o papel do PDT não é defender a “democracia”, como tanto alegaram, mas sim defender a burguesia e o próprio regime golpista.
Fica claro, portanto, que não há nenhuma frente realmente democrática que possa ser estabelecida com o PDT ou outros partidos da burguesia. A única frente viável é uma frente de luta dos explorados e das suas organizações de luta, aquelas que lutaram e lutam contra o golpe e pelas reivindicações dos trabalhadores diante da ofensiva da direita, que coloque a necessidade da liberdade de Lula e denuncie a fraude eleitoral.