Após as revelações feitas por este Diário a respeito das ligações de Guilherme Boulos com importantes organizações da burguesia brasileira, o pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL, afirmou em entrevista ao Diário do Centro do Mundo no Youtube, que sua relação com empresários como Walfrido Warde, presidente do IREE, não passam de uma “antiga amizade”.
Ao ser confrontado por inúmeras perguntas durante a transmissão ao vivo de sua entrevista, Guilherme Boulos não deu em nenhum momento qualquer explicação. Na realidade, visou anular o debate, não respondendo sobre o fato de trabalhar no mesmo instituto que figuras como Raul Jungmann e Sergio Westphalen Etchegoyen, da extrema-direita nacional.
Por outro lado, o candidato do PSOL foi incapaz de rebater os fatos e admitiu ao público que é empregado por Warde no IREE, o que de maneira cínica buscou “esclarecer” que não passava de um mero serviço, chegando a comparar o seu trabalho para instituições burguesas com o trabalho de um operário que vende sua força de trabalho ao capitalista.
Com esta afirmação, Boulos tenta mostrar que um dirigente da esquerda ser pago por grandes capitalistas, envolvidos no golpe de estado e inclusive com a política de golpes do imperialismo em toda América Latina, não seria algo anormal, mas sim, meramente profissional. O que Boulos busca mascarar com isso, é que o trabalho prestado por um operário no chão de sua fábrica ao patrão nada tem a ver com os serviços de um pequeno-burguês aos capitalistas.
Como explica Trótski, se por um lado o operário vende seu corpo, ou seja, sua força de trabalho ao patrão, o pequeno-burguês por outro lado vende sua alma. O operário em seu trabalho precisa se comprometer apenas com seu corpo, o colocando a serviço dos capitalistas, no entanto, o pequeno-burguês, que muitas vezes encontra-se nas mesmas tarefas que Boulos presta ao IREE, como professores, palestrante e muito mais, precisa vender sua alma e seguir a política imposta por aqueles que o pagam.
Boulos busca afirmar que o IREE seria “plural” por isso conteria desde figuras da esquerda, como ele mesmo, até generais do exército, famílias de torturadores da ditadura etc. No entanto, não é possível acreditar que haja qualquer “democracia” por de parte da mesma burguesia que está ao lado do regime golpista e que financia em todo continente a opressão e a ditadura do imperialismo contra os trabalhadores.
Guilherme Boulos incrementa sua posição colocando que em toda sua militância no MTST jamais foi pago por seus trabalhos, buscando contradizer uma frase que o mesmo disse em 2018, durante a reforma trabalhista, em que afirmou: “Quem paga a banda escolhe a música”. Afinal, se Boulos é um militante e dirigente do MTST seria normal e justificável que recebesse algo para se dedicar ao movimento. O que não é normal é receber dos inimigos dos trabalhadores.
De fato, como mesmo disse no passado, quem paga Boulos é quem dita sua política. Se por um lado seria totalmente legítimo que como dirigente de um movimento popular Guilherme Boulos recebesse por seu trabalho, por outro é totalmente criminoso o fato de um dirigente da esquerda ser na prática financiado pelos maiores inimigos dos trabalhadores. E quanto a isso, Boulos não tem como negar que sua relação de “amizade” com a burguesia vai além de Warde, se estendendo à sua coluna na Folha de S. Paulo, um dos principais jornais do golpe de Estado e a professor de aulas de mestrado na PUC, uma das maiores universidades privadas do País.
Todas estas fontes de renda promovidas por figuras do golpe revelam as profundas ligações que Boulos tem com toda a burguesia brasileira, que por sua vez serve em inúmeros casos, como vimos na Lava Jato, no golpe e na prisão de Lula, aos interesses do imperialismo.
A figura de Boulos é impulsionada assim dentro da esquerda pela burguesia e não como um fenômeno natural de uma suposta popularidade no movimento dos trabalhadores. Boulos surgiu com o “Não Vai ter Copa”, que como mesmo disse Aldo Rebelo, que foi ministro dos Esportes, foi um movimento orquestrado pelo imperialismo contra o governo do PT, um dos passos para o golpe de 2016. Após isso, seu partido apoiou a operação Lava Jato, também denunciada por Lula como uma operação do imperialismo contra o PT, assim como todo regime político e a economia nacional.
Não é sobre suas “amizades” que Boulos deve explicações, mas sim as suas relações com aqueles que massacram ano após ano toda a população brasileira.