O Partido dos Trabalhadores publicou em seu sítio, no último dia 7, uma nota comentando o resultado das eleições municipais de 2020 e reforçando a posição do partido em defesa da candidatura do ex-presidente Lula.
Assinada pelo Diretório Nacional do PT, a nota foi lançada após uma sequência de ataques oriundos da ala direita do partido, com declarações amplamente repercutidas pela imprensa golpista, que reproduziam os ataques da burguesia contra a liderança de Lula e ameaçavam um golpe contra o partido e a presidenta Gleisi Hoffmann.
Lembrando o papel destacado dos monopólios capitalistas de comunicação -em especial a Rede Globo- e da atuação direta do setor judicial da burocracia em favor da direita no período eleitoral, a nota elenca, como consequência das eleições, campanhas urgentes a serem desenvolvidas pela militância petista, entre as quais, “ o resgate dos direitos políticos do presidente Lula.” Segue abaixo a reprodução do trecho que destacamos:
“Acima de tudo, o resultado nos impõe a responsabilidade de fortalecer com a esquerda e os movimentos sociais a oposição ao governo Bolsonaro, aos seus aliados e as políticas neoliberais, bem como construir as condições políticas para disputar as próximas eleições presidenciais com uma agenda de reconstrução do país, dos direitos, da soberania nacional e da democracia. E esta tarefa começa já, colocando na ordem do dia as questões que a grave crise nacional e o enfrentamento da pandemia nos exigem:
Garantir o acesso universal e gratuito às vacinas, a testagem em massa e a todas as ações de enfrentamento da pandemia;
Defender a manutenção do auxílio emergencial, enfrentar a carestia, o aumento da pobreza e a profunda crise social que vão se agravar pelo descaso do governo federal ante o sofrimento do povo;
Criar milhões de empregos em todo o país;
Devolver o processo político brasileiro à normalidade democrática, com o resgate dos direitos políticos do presidente Lula.”
Pressão golpista contra Lula e a esquerda do PT
A publicação da nota vem na esteira de uma sequência de ataques contra o partido, feita por elementos notoriamente direitistas dentro do PT. É o caso de Jaques Wagner. Usando-se de um suposto lugar de fala afetivo, o senador pelo PT baiano foi a uma rádio soteropolitana declarar-se “refém” de Lula:
“A gente não pode ficar refém. Sou amigo-irmão do Lula, mas vou ficar refém dele a vida inteira? Não tem sentido. É minha opinião sincera, parabéns aos jovens que participaram e ganharam”.
Adendo importante, entre os jovens parabenizados por Wagner, estava João Campos, prefeito eleito do Recife em meio a uma campanha bolsonarista contra a candidata petista, Marília Arraes.
Outros petistas menos conhecidos também manifestaram-se pela aposentadoria compulsória de Lula, como o até então desconhecido membro do Diretório Nacional do partido, Alberto Cantalice:
“o PT tem várias lideranças: (o ex-prefeito Fernando) Haddad, (governador) Camilo (Santana), (o senador Jaques) Wagner, (os governadores) Rui Costa, Wellington Dias e Fátima Bezerra. Vários senadores. O Lula já deu muito para o partido. É hora de abrir espaço.”
A declaração do petista, dada ao jornal golpista O Globo (logo onde?), foi instantaneamente repercutida por toda imprensa burguesa, inclusive O Antagonista.
Em seu perfil no Twitter, Cantalice postou ainda a seguinte mensagem, com referências veladas à presidenta Gleisi Hoffmann:
“Não se pode converter derrota em vitória. Derrota é derrota. O papel do dirigente político é o de buscar as causas das derrotas. Fora disso, é o autoengano, teimosia, obtusidade. O PT precisa voltar a ser o partido do futuro. Passado é passado”.
Alvoroçados pelo resultado eleitoral, a direita petista chegou mesmo a ensaiar um golpe dentro do PT, para forçar o término antecipado do mandato presidencial de Gleisi Hoffmann.
Também em entrevista a’O Globo, o deputado estadual pelo PT fluminense, José Américo, defendeu o golpe:
“Diante dos resultados que foram muito abaixo das nossas expectativas, é importante que a gente antecipe o congresso do PT para 2021. Em função dos problemas que o partido enfrentou na eleição, temos que fazer um balanço, debater a nossa tática e renovar a direção”.
Crise interna e reforço da posição lulista
O mal-estar pelas declarações direitistas geraram uma forte repercussão. Ao Brasil 247, o também integrante da Direção Nacional do PT, Valter Pomar, lembrou que a expressão usada por Jaques Wagner, “refém de Lula”, apareceu em outra ocasião, porém dita por ninguém menos que Ciro Gomes.
Contestando a frase de Wagner pela sequência de eventos que marcaram as eleições de 2018, o dirigente petista lembra que “todos queríamos que Lula fosse candidato em 2018. Quem impediu sua candidatura foi o golpe, a condenação ilegal, a prisão injusta, a interdição fraudulenta.”
“Lula é refém do STF, que poderia e deveria declarar Moro suspeito e abrir caminho para a recuperação dos direitos políticos de Lula. Mas há dois anos o habeas corpus está para ser julgado. E não vejo sinais de julgamento à vista, menos ainda de justiça. Portanto, se depender do STF, o PT será forçado a lançar outro nome à presidência da República”, conclui.
Posicionando-se também em defesa da candidatura de Lula, a presidenta golpeada, Dilma Rousseff, postou uma série de mensagens em seu Twitter, lembrando ainda que -ao contrário do que Jaques Wagner defendeu- “líderes com a força eleitoral e política de Lula, não surgem repentinamente”:
“Toda a direita, aí incluída a parte neoliberal e aquela que se disfarça de centro, em suas diversas graduações, se une mais uma vez para conter a ameaça que Lula representa para suas ambições.
Para eles, Lula não pode ser candidato, porque ganha a eleição. Defender e lutar efetivamente pela absolvição de Lula é a única saída para que surja um país democrático e com justiça social.
Devemos ter claro que líderes com a força eleitoral e política de Lula têm, em geral, histórias longas, não surgem repentinamente, pois são forjados em anos de lutas identificadas com o povo.”
Às ruas por Lula presidente!
Os setores populares, duramente atingidos pela política golpista desenvolvida pela burguesia, só tem um atalho seguro para acuar o golpe e colocar o regime político em crise: Lula.
Principal liderança da classe trabalhadora, o ex-presidente Lula encarna a tendência popular a não aceitar o regime de miséria, genocídio e terror representados pela direita, qualquer ala que seja, com o País se aproximando de 180 mil vítimas fatais do Coronavírus, uma pandemia melhor controlada em países onde o interesse popular se impôs aos interesses da burguesia.
Em meio ao terror dos assassinatos cometido por uma das principais bases sociais do bolsonarismo -a PM-, ameaçados pela carestia, o desemprego, o fim de um auxílio emergencial, os trabalhadores e as amplas massas devem ser mobilizados pelos partidos que de fato representam o interesse popular, na luta pelo “Fora Bolsonaro” e, como contraponto para evitar manobras da burguesia, por “Lula presidente”.
É preciso mobilizações de massas, em todo o País, para superar o regime genocida e impor, pela força do povo, uma nova política, que atenda a população.