A crise política no país tem tornado infrutíferos os esforços da burguesia para driblar a polarização entre Lula e Bolsonaro. O pesado investimento na candidatura de Simone Tebet tem dado pouco retorno e a estratégia pseudo-esquerdista de Ciro Gomes fica mais exposta do que em 2018. Após sequestrar a legenda do PDT, Ciro procurou se apresentar como uma figura popular, evocando um desenvolvimentismo nacionalista nas figuras de Getúlio Vargas, que criou o PTB que antecedeu o PDT, e Leonel Brizola. Logo ele, que desempenhou papel central na destruição da Gurgel enquanto governador do Ceará no começo dos anos 1990.
Este Diário já vem denunciando o papel do oligarca regional nas eleições pós-golpe de 2016 há bastante tempo. Para muitos, sua “fuga” para Paris no segundo turno das eleições de 2018 foi o fato que explicitou sua atuação contra o PT. Anos depois, a evolução da crise fez com que o próprio declarasse bem antes do período oficial da curtíssima campanha eleitoral que sua tarefa era “derrotar o PT no primeiro turno”. A desculpa para tal disparate foi que o PT seria o partido com menor chances de derrotar Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022.
Agora, na reta final do pleito e derretendo eleitoral e politicamente, Ciro mostra até para quem não quiser enxergar para que ele serve à burguesia. Após anúncio prévio, o candidato à presidência divulgou um “manifesto à nação”, transmitido em redes sociais. Pressionado por apoiadores da candidatura de Lula, inclusive de dentro do PDT, o oligarca deu uma “aula” de história ao alertar que “o Brasil está na iminência de sofrer a maior fraude eleitoral da sua história”. Depois da deposição da presidenta eleita em 2014 após apenas dois anos e da prisão e impedimento do líder nas pesquisas nas eleições seguintes, segundo Ciro, essa “maior fraude” não teria como alvo o PT como nas duas últimas eleições.
“Na reta final da campanha mais vazia da história, embalam tudo no falso argumento do voto útil. Com essa pregação, querem eliminar a liberdade das pessoas de votarem no regime de dois turnos, primeiro no candidato que mais representa seus valores e, se for o caso, de optarem depois por aqueles que mais se aproximem de suas ideias”
“Os que pensam que apertar o 13 elegerão Lula, mesmo que com seus defeitos, estarão, na verdade, elegendo os mesmos que saquearam o país nos últimos anos, com os quais Lula vergonhosamente de novo se aliou”
“Lula e o PT passaram 14 anos no poder e deixaram o Brasil com os mesmos problemas que encontraram. A prova disso é a rápida evaporação dos efeitos da fugaz benesse que conseguiram produzir, impulsionada por ciclos favoráveis de commodities”
“Bolsonaro, sua cria maligna, seguiu parte dessa cartilha, aliando-se ao Centrão e rendendo-se à corrupção e ao clientelismo. E acrescentou, sem dúvida, conteúdos gigantescamente mais pavorosos: o desrespeito às instituições e crimes contra a humanidade”
“Nada deterá a minha disposição de seguir em frente a empunhar a bandeira do novo projeto nacional de desenvolvimento e, também, a denunciar os corruptos, farsantes e demagogos que tentam ludibriar a fé popular com suas falsas promessas”
A tal fraude seria a inevitável polarização política criada pelo golpe de Estado e pela resistência popular a ele. Resistência que se aglutinou na defesa da candidatura de Lula em 2018 e novamente agora em 2022. O combate agressivo à polarização é um serviço que Ciro tem tentado tresloucadamente cumprir para a burguesia, que tentou emplacar uma candidatura por fora dos dois polos reais da situação política. Existem três cenários possíveis para essas eleições: Lula, Bolsonaro ou a terceira via. Ao atacar os dois primeiros, como candidato travestido de esquerdista, Ciro mira desestimular especialmente o voto em Lula.
Diante dos apelos ao que seria um candidato de esquerda na “luta contra o fascismo”, Ciro se pintou de mártir da democracia: “Estou sendo vítima de uma gigantesca e virulenta campanha, nacional e internacional, para retirada da minha candidatura”. Lula foi preso e impedido de derrotar Bolsonaro em 2018, Ciro recebeu um apelo público que, certo ou errado, apresenta esse objetivo de impedir a reeleição de Bolsonaro. Diante da realidade objetiva, Ciro desponta nos holofotes como uma figura fraca e decadente, incapaz de cumprir seu papel para o setor principal da burguesia.