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Conciliação de classes

Boulos é uma aberração ao programa do PSOL

Até mesmo para o programa política pequeno-burguês do PSOL, Boulos é um direitista, mas por isso mesmo se adequa bem a ele

Rafael Martarello*

A base fundamental que estrutura os princípios, as pautas e a conduta de um partido é seu programa. O companheiro Rui Costa Pimenta, na obra “O caráter político e ideológico do Partido Socialismo e Liberdade” de 2005, já empreendeu uma rica análise crítica, assim como, as devidas pontuações ao programa e ao nascimento do PSOL. 

Neste texto irei me concentrar na relação específica entre o tratamento dado pelo PSOL ao imperialismo e o caso Boulos.

Tenho total consciência de que quando parte dos atos do caso Boulos ocorreram ele não era integrante do PSOL. Entretanto, além de prosseguir com os mesmos vínculos e com a mesma missão política, ele foi absorvido pelo partido, que mantém uma postura acrítica acerca de suas relações anormais. Na gíria popular, o PSOL consente.

Considerações do Programa do PSOL sobre o imperialismo

O programa considera que o sistema capitalista imperialista mundial é causador de uma ampla crise global. Praticamente em todos os itens do programa há alguma menção de cunho opositor ou que atribui um caráter negativo ao capital financeiro ou às formas de manifestação da dominação financeira.

O programa aponta como tarefa fundamental da militância e simpatizantes construir, de um lado um caminho de rompimento com a dominação imperialista, e, de outro, criar uma alternativa socialista contra a ordem capitalista vigente. Nas palavras do programa “Um programa alternativo para o país tem que ter nas suas bases fundadoras o horizonte da ruptura com o imperialismo e suas formas de dominação”.

O programa tem claro que há uma ofensiva econômico-militar indiscriminada do capital imperialista financeiro – nominalmente citando os EUA – e menciona que a “classe dominante brasileira é sócia da dominação imperialista”. Desta maneira, o programa exorta a rechaçar a conciliação de classes para manter a independência política da classe trabalhadora.

Como aspecto correlato desta tratativa, o programa do PSOL empreende a crítica ao monopólio capitalista dos meios de comunicação, citando o controle, manipulação e poder que este exerce para manutenção do poder econômico e político da burguesia.

Noções básicas sobre o Imperialismo

A tônica da abordagem leninista sobre o imperialismo é dada pela obra “O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo”. De forma resumida, a obra entende que a fase vigente do capitalismo não é mais sua forma concorrencial, mas sim a forma monopolista.

Esta etapa de grau elevado do desenvolvimento do capitalismo seria caracterizada pela cartelização da vida econômica a nível internacional pela associação de monopólios, pela participação dos bancos de forma determinante dentro da indústria, pela concentração da grande produção e do capital, pela maior magnitude da exportação de capital, e pela partilha territorial do mundo entre as grandes potências.

Nesta fase superior, o capital bancário, antes restrito ao controle das operações bancárias, investimentos e do crédito, deu um passo adiante e por meio das ações ocorreu a fusão entre o capital bancário e o capital industrial e/ou comercial, denominada de capital financeiro. Nos termos do grande revolucionário, o imperialismo é o domínio do capital financeiro.

Nesta dominação financeira, tendo como base econômica fundamental o monopólio, há não só uma trama de vínculos entre capitalistas para manutenção da classe, há também conflitos intercapitalistas. Em ambos os casos há uma generalizada tendência à violência. 

De forma cotidiana, por meio das diversas formas de dominação para garantir a manutenção monopolista (pressão bélica, políticas de subalternidade, sanções econômicas, relações diplomáticas desiguais, cooptação política, interferência e desestabilização externa, dependência produtiva) busca-se expandir territorialmente o controle do capital financeiro e minar qualquer tipo concorrência assegurando, assim, o controle sob o regime político e sob as riquezas dos países subdesenvolvidos. Essa partilha do mundo aos monopólios, assola a qualquer projeto soberano de desenvolvimento nacional, assim como os interesses coletivos da população atendida por políticas sociais. Ao final, o dinheiro e o bem-estar ficam acumulados países desenvolvidos para a manutenção fundamental do regime capitalista.

Considerações sobre o Programa do PSOL e o Caso Boulos

Vimos que o PSOL é de forma programática contra as formas de dominação do capital financeiro e contra a conciliação de classes. Vimos também que o capital financeiro é o capital que conjuga capital bancário com o industrial, formando e sustentando grandes grupos monopolistas.

Pelo levantamento do Escândalo Boulos-Warde, há uma relação de suporte e remuneração entre figuras, empresas e agências dos EUA para com o líder político psolista. A campanha de 2014 “não vai ter copa” liderada por Boulos – e que deu fama política a ele – recebeu suporte financeiro da Ford, por meio do Fundo Brasil. Boulos mantém vínculo de subordinação empregatícia com a Folha de S. Paulo – que foi desfeita devido às eleições – e com o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). No caso tanto o IREE, quanto a Ford receberam e recebem dinheiro indireto da Agência Central de Inteligência (CIA).

Particularmente, no caso da montadora Ford, eu já escrevi um texto chamado “Quem é a Ford que financia Boulos?”, no qual é exibido não só a grande cooperação da Ford com as medidas imperialistas sustentadas pelos EUA, como também são mencionadas suas práticas comerciais imundas.

Talvez não tenha ficado claro ainda ao PSOL que a Ford não é uma simples indústria, ela é um dos maiores exemplos do grande capital financeiro internacional. A Ford é uma empresa de capital aberto desde 1956, e atualmente, conforme figura abaixo, os principais titulares das ações da Ford, isto é, quem tem poder decisório, injeta dinheiro e recebe o retorno de investimento, são os bancos e os fundos mútuos de investimento. Ora, há a fusão entre o capital bancário e o capital industrial. 

O entrelaçamento entre os monopólios capitalistas é algo assombroso. Podemos ver que o Bank of American é um dos grandes acionistas da Ford. Se procurarmos os acionistas do Bank of American, nós vamos encontrar a grande participação do JP Morgan, e ambos têm sua porcentagem no Citigroup ou no Morgan Stanley e por aí vai.

Para além disso, os fundos mútuos de investimento são só um grande disfarce, neles podem ser participantes os mesmos bancos, outras montadoras etc.

Neste cenário de um capitalista coletivo um ataque contra a Ford é um ataque a toda teia capitalista. É um ataque que afeta os bancos, as montadoras, as farmacêuticas, as alimentícias, as petrolíferas, as seguradoras de saúde, os varejos e afeta os demais monopólios, isto é, é um ataque ao imperialismo. 

Assim o dinheiro da Ford, é o dinheiro do capital financeiro, é o dinheiro do imperialismo, é o dinheiro usado para as formas de dominação da associação internacional de monopólios.

Página secundária da Folha de S. Paulo

Nunca é demais lembrar que o Grupo Folha – do qual o Boulos é subordinado – é conhecido, há quase um século, pela sua colaboração com o golpismo, pelo autoritarismo antidemocrático, pela difamação contra militantes e movimentos de esquerda no Brasil, e pela subserviência ao imperialismo americano. Valeria redigir um texto só para esmiuçar a Folha de S. Paulo. 

Além disto, o grupo bilionário também atua no mercado financeiro. O Grupo Folha – junção da Folha de S. Paulo com o UOL – tem como uma de suas subsidiárias a PagSeguro PagBank. Esta é uma organização de capital aberto e tem como acionistas diversos bancos e demais monopólios, confira clicando no link. Aqui impera o mesmo fenômeno de entrelaçamento de monopólios.

Ao que parece a Folha de S. Paulo não só tem o poder de controlar e manipular a sociedade pelas suas máquinas ideológicas, mas também faz parte da trama monopolista de manutenção do poder econômico e político da burguesia.

Diante desta progressiva cooptação, o site do PSOL virou uma página de compartilhamento da Folha de S. Paulo. Os escritos sobre o Boulos no site são menções indiretas (falas, aparições, etc), no geral feitas na Folha de S. Paulo. 

Não se encontra em nenhuma parte os textos de autoria própria da figura política. Ele não escreve para os veículos de imprensa do PSOL, leia-se como, ele não colabora para o desenvolvimento de uma imprensa independente do grande capital, popular e democrática. Ao contrário, ele colabora com um dos maiores monopólios capitalista dos meios de comunicação: o Grupo Folha.

Acesse você mesmo: https://psol50.org.br/search/boulos/

Fechamento

Em vias conclusivas, ainda que no documento fundante do PSOL exista o rechaço ao capital financeiro e à conciliação de classe, sua principal figura política (mas não só ele) não só não rompe com o imperialismo (capital financeiro), mas o impulsiona e é impulsionado por ele.

Essa classe dominante brasileira que é sócia da dominação imperialista citado pelo programa do PSOL é o Luiz Frias da Folha, é o Walfrido Warde e os diretores do IREE que atuam como operadores do imperialismo no Brasil.

Por fim, a leitura do programa retorna para um tempo no qual o PSOL se dizia a favor da mais ampla liberdade de expressão e organização, da autodeterminação dos povos, da defesa da Venezuela, da independência política e de pautas da classe trabalhadora, entre demais pautas democráticas. Quanta mudança!

Não há rompimento com o imperialismo enquanto a esquerda for subserviente aos mandos da burguesia!

Não há soberania nacional enquanto existir o capital financeiro!

Não há democratização da imprensa enquanto a Folha de S. Paulo não cair!

*Simpatizante do Partido da Causa Operária

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