Desde que a população tomou as ruas, impulsionada pela mobilização do dia 1º de maio na Praça da Sé (SP), o movimento Fora Bolsonaro está marcado por uma intensa luta política, que reflete a luta de classes que se desenvolve no País. O Partido da Causa Operária (PCO), partido político que faz parte do movimento, sempre foi acusado de tentar “dividir” a esquerda por causa das suas críticas e polêmicas feitas por meio da imprensa partidária.
A principal polêmica se deu em torno da questão da ampliação dos atos, algo que foi proposto pela esquerda pequeno-burguesa. Esta ampliação significa, na verdade, o apoio à presença da direita tradicional (PSDB, MDB, DEM, MBL, Vem Pra Rua, Rede, PSL, PSD) nas mobilizações e a desfiguração do caráter classista do movimento.
Os partidos Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) acusavam o PCO de estar favorecendo o governo Jair Bolsonaro, na medida em que se opunha à presença da direita nas mobilizações. Segundo estes partidos – adeptos da Frente Ampla – a direita tradicional apresenta contradições reais com Bolsonaro e isto deve ser explorado politicamente. Portanto, a presença da direita seria um fator positivo de aglutinação de forças que causaria um isolamento do bolsonarismo no cenário político.
Os verdadeiros partidos antibolsonaristas seriam aqueles que queriam a presença dos partidos e movimentos de direita. Contudo, as vaias aos representantes políticos da direita no último ato de 02 de outubro na capital paulista significaram o fracasso da política da infiltração. Diante desse fato objetivo, o repúdio das bases à Frente Ampla com os golpistas, os direitistas já organizaram o cancelamento dos atos e o fim das mobilizações de rua.
O cancelamento das mobilizações, independentemente dos pretextos apresentados, representa a destruição do movimento. Os frente-amplistas atuam em conjunto para acabar com a possibilidade de derrubar o governo Bolsonaro. A única via para o povo é a mobilização de rua, uma vez que já é claro que o Congresso Nacional, dominado pelos partidos de direita, não derrubará Bolsonaro. O Supremo Tribunal Federal atua na linha de conter alguns excessos do bolsonarismo com a finalidade de preservar a estabilidade do regime burguês, e não derrubará Bolsonaro. As demais instituições do regime (Tribunal Superior Eleitoral, Forças Armadas) não têm a menor intenção em derrubar Bolsonaro. É fato que setores do empresariado e dos bancos estão empenhados na candidatura da “terceira via”, querem organizar a sucessão eleitoral de Bolsonaro, mas isso de modo algum significa que querem a derrubada do governo, menos ainda se for pela força das ruas.
Os “antibolsonaristas” da esquerda e da direita que querem o cancelamento dos atos finalmente revelam seu verdadeiro caráter político. É preciso destacar que, em primeiro lugar se opunham ferozmente à mobilização no contexto da pandemia do COVID-19. Quando elas aconteceram, saíram às ruas em bloco para tentar sequestrá-las, impor o verde amarelismo, “o sem partido”, o hino nacional e a bandeira do Brasil em oposição às bandeiras vermelhas dos partidos de esquerda e dos sindicatos. A presença do PSDB foi respondida com chutes e socos na Avenida Paulista, o que causou uma crise. Na sequência, o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua marcaram os atos de 15 de setembro em separado, que se comprovaram um verdadeiro fiasco e expuseram o fato de que a direita não se mobiliza, não tem base social e popularidade de massas.
As vaias aos direitistas na Avenida Paulista e o repúdio das bases ao sequestro do movimento Fora Bolsonaro colocaram um ponto final na tentativa de projeção da Frente Ampla. A manobra em andamento de cancelamento do ato do dia 15 de novembro tem como resultado o fim de toda a mobilização de rua, pois nenhum outro ato foi marcado.
Na inviabilidade de sequestrar a mobilização para se reciclar como “oposição democrática” à Bolsonaro, a direita golpista pretende enterrar os atos, destruí-los de uma vez por todas. É preciso denunciar amplamente a política de acabar com a mobilização dos aliados políticos do PSOL, PCdoB e PDT. Quem deve se abster de ir às mobilizações não é o povo, os sindicatos e a esquerda, mas sim a direita golpista e seus infiltrados.
As polêmicas travadas entre o PCO e outros setores do movimento Fora Bolsonaro são salutares e educativas, na medida em que contribuem para o esclarecimento sobre as diferentes posições políticas em relação aos rumos da luta. Uma polêmica jamais divide o movimento, pelo contrário, o fortalece, educa e politiza. A política de estímulo à infiltração da direita por parte da esquerda é que está esvaziando e destruindo o movimento popular. Devido à inviabilidade (e o perigo) de acabar com o movimento de rua pela repressão policial, a direita optou por tentar destrui-lo por dentro, pela via da implosão.