O vereador Dr. Jairinho (ex-Solidariedade-SD, sem partido), preso pela tortura e assassinato do garoto Henry Borel Medeiros, de 4 anos, tem relação com grupos milicianos que atuam na Zona Oeste da capital fluminense.
Um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “Seis por meia dúzia? Um estudo exploratório do fenômeno das chamadas ‘milícias’ no Rio de Janeiro”, publicado em 2008, entrevistou moradores de áreas controladas por milícias, que apontam Dr. Jairinho como líder miliciano.
Seu pai, ex-deputado estadual pelo partido político Solidariedade (SD) e coronel aposentado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, conhecido por Coronel Jairo, também é apontado como líder de milícias que atuam na Zona Oeste. Apesar de ter sido investigado em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na ALERJ, citado por moradores como miliciano e indicado por receber propina para aprovar projetos do interesse do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), o coronel jamais foi condenado.
Há indícios de que o vereador e seu pai participaram na tortura de mais de sete horas de jornalistas do jornal O Dia, que estavam fazendo reportagens sobre milícias que atuavam na favela do Batan. Durante a sessão de tortura, uma repórter reconheceu a voz de um vereador, filho de deputado estadual. A Polícia Civil do Rio de Janeiro investigou a denúncia contra o coronel Jairo, que não chegou a ser indiciado. Dr. Jairinho sequer foi oficialmente investigado.
Nas eleições de 2018, o coronel Jairo tentou se reeleger e, para isso, contou com o apoio de um dos filhos de Jair Bolsonaro, o atual senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). Ao não conseguir a reeleição, o militar aposentado encerrou sua vida na política institucional.
Após a morte de Henry, no dia 8 de março, o vereador Dr. Jairinho ligou para o governador em exercício no Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), com a finalidade de dar sua versão sobre as investigações relativas à morte do menino. O político também ligou para outras autoridades, inclusive policiais, para dar sua versão sobre os fatos.
A imprensa capitalista cobre o assassinato do garoto Henry, porém não dá destaque às relações das milícias com os poderes públicos local e estadual. Dr. Jairinho e o Coronel Jairo são elementos ligados à burguesia fascista carioca, que moram em áreas nobres da capital e convivem diariamente com os “cidadãos de bem”. Jairinho, um modelo do “cidadão de bem”, foi propagandista da candidatura de Jair Bolsonaro e fez campanha eleitoral com as consignas “Defensor da Família”, “Contra a Ideologia de Gênero”, ”A favor do Escola Sem Partido” e “Fechado com Bolsonaro”.
Os dois milicianos possuem relações estreitas com os representantes políticos da burguesia no Rio. No caso, o vereador ligou até mesmo para o governador do Estado, o que demonstra claramente uma ligação política direta. Por serem políticos burgueses, é evidente que possuem relações com o alto empresariado.
Os milicianos, Jair Bolsonaro, seus filhos e os bolsonaristas, estes últimos expressões ideológicas e políticas de uma tendência política, são monstros fascistas. O presidente fascista é responsável direto por um genocídio em marcha, que já ceifou mais de 360 mil vidas, conforme os dados oficiais, já manipulados e subnotificados. Contudo, é importante destacar que a burguesia como classe é uma monstruosidade, devido à sua natureza.
A burguesia não tem qualquer preocupação com a situação sanitária e social da população. No Rio de Janeiro, os políticos burgueses todos se apoiam na Polícia Militar, que, por sua vez, é infestada de nazistas, fascistas, assassinos profissionais, grupos de extermínio, bolsonaristas e todo tipo de escória social. São conhecidas as relações entre a PM e os grupos de extermínio e esquadrões da morte, muitos deles criados na época da ditadura militar para realizar a repressão paraestatal. Não à toa, Coronel Jairo era policial militar.
As milícias são parte do aparato de repressão nas comunidades pobres do Rio de Janeiro. Não seria possível sua existência sem a cumplicidade da Polícia Militar, Polícia Civil, Forças Armadas. Elas são compostas, em geral, por militares, policiais militares, policiais civis, bombeiros e seguranças privados.
A classe dominante necessita das milícias para garantir o controle social sobre as favelas. O aparelho de repressão oficial não dá conta de fazê-lo, devido ao número e complexidade das favelas que existem na cidade. Por isso, a burguesia não faz nada para suprimi-las e mantém uma posição de “vista grossa” quanto às suas atividades.
De tempos em tempos, é preciso fazer operações policiais para prender alguns milicianos e divulgar na imprensa que algo está sendo feito por parte das autoridades para combater as milícias. Não passa de jogo de cena. É impossível a sustentação do domínio da burguesia no Rio de Janeiro sem uma rede de milícias, grupos de extermínio e esquadrões da morte, ligadas à Polícia Militar e ao poder público.