Conforme este Diário tem discutido sistematicamente, a principal ambição política da direita para o Brasil de hoje é acabar com a polarização política, ressuscitando assim o putrefato “centro” político. Para ter sucesso nesta dura missão, é essencial que os partidos de esquerda entrem em campo, para “limpar a ficha” desta direita, que é cinicamente chamada de centro. São várias as iniciativas nessa direção. A mais recente foi a Copa URSAL, um torneio de futebol que juntou em campo o PT e o PSOL – e inclusive o PCdoB e o PCB – a partidos de direita, como o PSB e o PDT.
O nome “Copa URSAL” já é uma referência a Ciro Gomes, um elemento direitista que procurou se apresentar como esquerdista no último período. Durante as eleições, Ciro chegou a surfar na onda da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), que virou tema na política brasileira depois de um debate nas eleições presidenciais no ano passado com o folclórico Cabo Daciolo, que se eternizou pelo retiro espiritual em montes, em plena campanha eleitoral. A farsa era tão grotesca que até como piada é ruim. Afinal, quem poderia levar a sério um Ciro Gomes soviético, como retratado em alguns dos memes?
A política de alianças com a direita, seja ela o PSDB, ou mais dissimuladamente, como neste caso, o PDT e o PSB – afinal, diferente do PSDB, são dois partidos que aparecem como esquerdistas para alguns setores – é um suicídio político. É uma tentativa de segurar um edifício condenado, com problemas estruturais gravíssimos, que é o atual regime político brasileiro. No caso do PT, trata-se de um erro crasso, uma vez que foi justamente o PT que sofreu o golpe da direita, dado com apoio desses partidos, que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff e deram votos para as “reformas” do regime golpista contra os trabalhadores. Já no caso do PCdoB, embora seja mais um escândalo, não é nada que destoe da política geral do partido, que envolve alianças com Rodrigo Maia e o DEM.
É curioso que tanto o PSOL quanto o PCB apareçam nesta manobra. Afinal, são partidos que repetiram sistematicamente no passado, de forma demagógica, que eram contra a política de conciliação de classes do PT. Justamente agora, num momento de gravíssima crise do golpe de Estado e do governo Bolsonaro, estes partidos entram em cena para conciliar com os golpistas.