No início deste ano, Chico Buarque, um dos maiores músicos de toda a história do Brasil, entrou em uma polêmica envolvendo a sua canção Com Açúcar, Com Afeto. Em uma série documental de Nara Leão, o cantor afirmou que não cantaria mais a sua música, pois desagrada “feministas”.
À época, ficou claro que se tratava de uma censura, apesar de ter sido uma “autocensura”. Afinal, a música, de 1967, retratava a vida de uma típica mulher brasileira que até hoje é, em sua maioria, subordinada economicamente ao homem. Foi um feito que nem mesmo a Ditadura Militar de 64 conseguiu fazer, mas o identitarismo sim.
Um dos principais argumentos colocados, naquele momento, era de que não se tratava de um episódio especialmente grave. Finalmente, era um em meio a diversos outros casos da santa inquisição identitária contra a liberdade de expressão. Aqui, é preciso dizer que tal concepção revela uma incompreensão do mecanismo por trás da censura.
Censure um, amedronte mil
No caso de Chico Buarque, a censura, por si só, já constitui um ato grave que, de maneira geral, é um ataque à liberdade de expressão de todos. Afinal, diz respeito à limitação de um direito que reside no cerne da arte e da livre expressão artística. Todavia, tratando-se justamente de Buarque, outro interesse se coloca por cima da simples censura.
Chico Buarque foi um dos artistas que mais lutou contra a ditadura de 64 no Brasil. Suas músicas entraram para a história como odes à luta contra o golpe, se popularizando de maneira marcante em todo o mundo. Por isso, o fato de que o identitarismo conseguiu censurar o cantor é ainda mais gritante por se tratar de uma figura que resistiu por décadas à censura de ninguém mais, ninguém menos, que os militares.
Em outras palavras, foi um caso importante que foi reprimido e, portanto, criou um precedente que serve para amedrontar os mais tímidos: uma vez que os mais audaciosos foram reprimidos, o resto não fala mais nada. Imagine se Chico tivesse sido censurado veementemente na época da ditadura? Nenhum artista ousaria se revoltar.
O caso STF x PCO
É justamente por essa consideração que o Partido da Causa Operária se encontra no olho do furacão de uma crise institucional gigantesca. Por esse ângulo, os acontecimentos mais recentes têm se dado de uma maneira, em certa medida, lógica. No fim das contas, o PCO representa o setor de vanguarda que, uma vez calado, empurra os mais pressionados para debaixo de suas camas.
Se a burguesia conseguir abaixar a cabeça do PCO, vai se estabelecer um regime de genuíno terror no País. Afinal, o Partido tem sido o partido de esquerda mais ativo nos últimos anos. Levou adiante uma campanha incessante na luta contra o impeachment de Dilma e pela liberdade de Lula. Diferente dos demais partidos que, em sua grande maioria, permaneceram inertes durante o golpe. Quando não simplesmente favoráveis.
Por outro lado, é preciso entender que, justamente pelo PCO se encontrar no centro dos acontecimentos políticos no Brasil, existe uma oportunidade ímpar no que diz respeito ao combate contra o avanço da direita no mundo.
A burguesia já jogou as suas cartas e já passou a vez para o PCO. O Partido está, literalmente falando, com a iniciativa, com o direito de resposta. E, sendo o PCO o partido que é, decerto que virá, como já está ocorrendo, uma resposta gigantesca à ditadura dos fascistas de toga do STF.
Não conseguirão calar a vanguarda dos trabalhadores no Brasil. Não vão calar o PCO.