A partir de 2013, a necessidade de um golpe para derrubar a esquerda do governo federal promoveu a ascensão da extrema-direita, habituando a população a nomes que remetem ao esgoto da política, desde pessoas até siglas. “Recém nascidos” como MBL, Vem Pra Rua, João Doria e Arthur do Val somaram-se a criaturas até então irrelevantes mas já ascendentes, sendo o então deputado federal Jair Bolsonaro o principal destes. Eis que em 2021, em meio a uma vertiginosa decomposição do regime político, os primeiros convocam um ato nacional para este domingo (12) e não chamam o hoje presidente Bolsonaro.
O fato é surpreendente. Sendo oriundos da extrema-direita, a afinidade entre os personagens foi além da campanha golpista iniciada contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, estendendo-se às eleições gerais de 2018, onde “BolsoDoria” sagrou-se governador de SP pelo PSDB e Bolsonaro tornou-se presidente do Brasil, ambos apoiados pelo conjunto da horda. Mas não para por aí.
O ato deste domingo, convocado supostamente contra Bolsonaro e pela democracia, conta ainda com o apoio do MDB de Temer, que está no governo, e também pelo PSDB, partido de uma das oposições mais governistas já vista. Mas neste dia 12 não! Fascistas e golpistas estarão unidos pela democracia e contra o fascismo.
Cinicamente, o governador paulista declarou em coletiva que “como cidadão, como brasileiro, defendo e apoio todos que se manifestarão, seja em São Paulo, seja em qualquer outra cidade do país, no próximo dia 12, a favor da democracia, a favor da liberdade, a favor da Constituição, e favor, principalmente, da maioria expressiva dos brasileiros”, disse Doria, que no último dia 7 negou a Paulista à esquerda em favor dos bolsonaristas e depois tentou negar às forças populares o próprio direito de se manifestar no Anhangabaú, no que foi derrotado pela pressão da esquerda.
Não vamos esquecer que os tucanos são contra o impeachment do presidente golpista. Uma das principais palavras de ordem deste domingo era “nem Lula, nem Bolsonaro”, uma forma centrista de dizer “nem Lula, nem Lula”, alterada posteriormente para não entregar o jogo, mas já era tarde demais. Ocorre que o grande capitão da luta contra Lula e o PT, tendo sido inclusive eleito presidente em nome dessa política, é o próprio Jair Bolsonaro.
Porque então Bolsonaro não está convidado? Não é essa a única política bolsonarista que norteia o ato, que entre outras conquistas da extrema-direita pós 2013, anulou o vermelho em favor do branco, a cor dominante na manifestação deste dia 12, algo que foi recebido com entusiasmo por esquerdistas como Orlando Silva (PCdoB-SP), que achou “bacana todo mundo ir de branco”.
A união entre golpistas da direita tradicional e fascistas em ascensão produziu o monstro usado para agredir – sem eufemismos – a esquerda desde meados da década passada, derrubar o PT, prender Lula, fraudar as eleições de 2018 e empossar Bolsonaro. Por que razão haveria agora de ser contra o presidente fascista em qualquer aspecto que interesse à esquerda?
Salvo o interesse eleitoral destoante, são inúmeros os pontos de convergência dos fascistas que estão convocando o ato contra o fascismo e o fascista que está na presidência. Fora isso, fosse o movimento por trás do dia 12 coerente, Bolsonaro também deveria ser convidado.
