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Ladra, mas não morde

Voto impresso, armamento e o radicalismo “nutella” de Bolsonaro

Demagogia da extrema-direita não tem interesse algum em romper com o regime

A demagogia do fascista Jair Bolsonaro em torno do voto auditável tem tomado conta das capas de todos os jornais no último período. Atual presidente da República — cargo conquistado por meio de uma fraude grotesca e escancarada — e candidato da direita com mais votos para 2022, Bolsonaro está alardeando, não sem razão, que o sistema eleitoral brasileiro é uma farsa e que as próximas eleições podem ser fraudadas.

A princípio, o que Bolsonaro diz não mereceria qualquer repercussão. Dizer que, no Brasil, onde tudo é uma esculhambação total, as eleições não são confiáveis deveria ser o mesmo que alguém dizer que um banqueiro gosta de dinheiro. Ninguém iria parar no Jornal Nacional se falasse tamanha obviedade. E mesmo Bolsonaro tendo sido o maior beneficiário da fraude de 2018, seu medo de ser roubado nas próximas eleições também é algo absolutamente factível. Afinal, Bolsonaro não é um representante tradicional da burguesia, mas tem mais votos que todos os políticos do DEM, do PSDB e do MDB juntos. A única maneira de eleger um bolsonarista de terno, como João Doria, que não tem votos nem no condomínio onde mora, é roubando a eleição como a seleção brasileira foi roubado na última Copa do Mundo.

Mas o que faz essa reivindicação democrática, de que as eleições sejam auditáveis, bem como a crítica ao sistema eleitoral, “chocarem” a opinião pública — ou, melhor dizendo, o rabo das cascavéis da redação d’O Globo? Ora, é justamente o fato de que, por incrível que possa parecer, neste caso, Bolsonaro tem razão! O sistema eleitoral brasileiro é uma farsa absoluta e a Rede Globo quer roubar a eleição para “eleger” o seu candidato. O estardalhaço é porque Bolsonaro está revelando o jogo da burguesia.

Não sem contradições, obviamente. A burguesia está armando contra Bolsonaro porque ele é uma figura da extrema-direita que conquistou seu espaço no regime político por causa de sua capacidade de mobilizar uma determinada base social. Trata-se de uma figura, portanto, que, por mais que esteja no bolso dos capitalistas, é pressionada por um setor que, vez ou outra, vai entrar em conflito com os interesses da burguesia. E, sendo assim, para a burguesia, é impossível confiar totalmente em Bolsonaro. Diferentemente de um Geraldo Alckmin, que não tem como se defender caso a burguesia decida lhe atacar, Bolsonaro, conforme está demonstrando agora, tem poder suficiente para impor derrotas ao conjunto da burguesia.

Todo o esquema podre montado pela Rede Globo e pelo TSE — esquema curiosamente apelidado de “democracia” — tem como fim, portanto, não combater o fascismo, mas sim combater os políticos que têm voto. E, como o voto é a expressão dos interesses da população, ao roubar os candidatos que têm voto, a burguesia estará roubando a população de conjunto.

No caso em questão, está em marcha uma operação para roubar 90% de todo o eleitorado brasileiro. Afinal, se o objetivo do TSE é fraudar as eleições de 2022 para “eleger” o candidato da “terceira via”, a burguesia terá de roubar não só Bolsonaro, mas aquele que tem ainda mais votos que ele: o ex-presidente Lula. A direita já fez isso em 2018, a única novidade seria incluir Bolsonaro na lista de vítimas da fraude.

Se a esquerda e a extrema-direita são alvos de uma operação da burguesia, isso quer dizer que têm um interesse em comum? Não, de jeito nenhum.

A extrema-direita se lança na defesa das urnas auditáveis não porque quer o controle popular sobre as eleições, mas sim porque quer ter, também, o “direito” de roubar as eleições. Sem a urna auditável, o monopólio sobre o processo eleitoral está nas mãos do TSE. Com o voto auditável, segundo o projeto de lei em trâmite, Bolsonaro poderia exigir auditoria nas urnas controladas pelos seus adversários, enquanto manteria todos os esquemas de fraude e manipulação eleitoral que são conhecidos desde a República Velha. Não é uma defesa real sobre o controle popular das eleições.

O programa da esquerda em relação à questão do processo eleitoral é um programa verdadeiramente democrático: o fim da urna eletrônica. Isto é, que o voto seja feito tão somente no papel e que todo aquele que quiser possa participar do processo de contagem dos votos. Afinal, o projeto defendido pela extrema-direita tanto não é sigiloso — pois é perfeitamente possível descobrir a votação de cada eleitor cruzando os dados registrados na urna eletrônica — quanto não especifica em que termos dar-se-ia a audição. Tal coisa a extrema-direita não está disposta a fazer.

Isso porque Bolsonaro e a extrema-direita não têm princípios, são incapazes de defender um programa democrático. Toda reivindicação democrática passa obrigatoriamente pelo controle do povo, da maioria, sobre as questões relacionadas ao Estado. Como covardes e charlatães profissionais, Bolsonaro e sua trupe têm medo do povo. Apresentam-se como “antissistema”, como adversários do regime político odiado, mas, no fim das contas, formulam apenas uma palavra de ordem extremamente moderada, que não atinge fatalmente a ditadura da burguesia.

Bolsonaro pede o voto auditável porque sabe que atacar o TSE é popular, mas não quer o fim da urna eletrônica porque isso daria ao povo mais poder do que está disposto a dar. Bolsonaro diz que é a favor do armamento, pois a sua base social quer se armar, mas não é a favor do armamento irrestrito da população, pois tem medo do que a favela do Jacarezinho seria capaz de fazer se cada morador seu tivesse um fuzil na mão. Bolsonaro xinga a Rede Globo, manda seus repórteres tomarem no c*, mas nem pensa em cassar sua concessão.

As duas classes fundamentais na sociedade atual são o proletariado e a burguesia, o que quer dizer que ou se apoia nas massas ou, inevitavelmente, não fará cócegas no regime capitalista. Bolsonaro é um falastrão que não quer mais do que um ou outro privilégio que os capitalistas possam lhe dar.

E isso não é, obviamente, uma peculiaridade do fascista Jair Bolsonaro, mas sim uma característica de toda a extrema-direita. Todos os seus representantes são “radicais nutella”, que cantam de valente para cima da burguesia, que finge se amedrontar, enquanto a esquerda pequeno-burguesa, que ama o regime político mais do que a própria burguesia, é quem realmente leva sério as bravatas. No entanto, quanto se vêem sem apoio algum da burguesia, sobretudo quando se vêem desmascarados pelo movimento operário, os valentões da extrema-direita voltam correndo para a saia de suas mamães.

O caso de Bolsonaro, que defende um semi-voto auditável e um semi-armamento nem é dos mais desmoralizantes no que diz respeito à covardia da extrema-direita. O valentão Daniel Silveira, ex-PSL, que gravou um vídeo ameaçando os ministros do STF, logo abandonou sua posição quando foi preso, pedindo desculpas e dizendo que não era bem assim. O PCO, que é um partido de princípios, colocou claramente sua política: a liberdade de expressão deve ser irrestrita, a Lei de Segurança Nacional deve ser revogada e o STF deve ser extinto.

O youtuber Paulo Kogos, o mais folclórico dos bolsonaristas, também voltou atrás de seus xingamentos ao governador João Doria (PSDB) depois que sua mãe, que presta serviços ao PSDB, pediu que se retratasse. Enquanto isso, os professores, que não aguentam mais a repressão e os arrochos de Doria, querem o Fora Doria. O próprio Kogos se diz grande defensor da “liberdade”, mas logo estilou e processou o PCO quando este denunciou seu apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL).

E o que dizer de Arthur “Mamãe Falei”, que se mostrou muito corajoso para intimidar adolescentes nas ocupações de escolas, mas um maricas quando viu a fúria dos trabalhadores no primeiro de maio?

O “radicalismo” da extrema-direita não é um radicalismo de verdade porque a extrema-direita não quer romper de verdade com a burguesia. É uma bravata para mobilizar sua base retardada, que também não quer rompimento algum com o regime. E quem ainda se “choca” com o “radicalismo nutella” de Bolsonaro está, na verdade, se declarando como a mais fiel amante do podre regime golpista.

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