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Tradição

UP: stalinistas e pró-imperialistas

Mais uma vez, a UP mostra que retém uma política absurdamente confusa, chegando a afirmar que a Rússia se trata de um país imperialista e que, portanto, deve ser atacada

Na última semana, Natanael Sarmento, membro do diretório nacional da Unidade Popular (UP), publicou, por meio do site oficial do partido, um artigo intitulado “Invasão na Ucrânia: Guerras Imperialistas e a Posição dos Comunistas”.

O título já dá o tom do texto. A UP, de maneira clara, estaria colocando a Rússia no mesmo patamar dos Estados Unidos, chamando-a imperialista. Ironicamente, longe de ser a posição dos comunistas, demonstra um desconhecimento profundo – proposital, ou não – do marxismo e, principalmente, da análise feita sobre Lênin acerca do imperialismo.

A questão do imperialismo russo

Antes de mais nada, é preciso entender o que a Rússia de fato representa no cenário mundial.

Ao contrário do que diz a UP e parte considerável da esquerda brasileira, a Rússia não é um país imperialista. Finalmente, a economia da Rússia se baseia na exportação de matérias-primas como o petróleo e o gás, e não no capital financeiro, como é o caso dos Estados Unidos, da Inglaterra etc.

A Rússia não domina nenhum monopólio; não detém o controle sobre outro território como é o caso dos Estados Unidos e Israel, por exemplo; não realiza guerras de espoliação visando explorar os outros países. Enfim, os motivos são extensos, mas, de maneira breve, a Rússia, assim como o Brasil, a China e demais países atrasados, são atacados e explorados pelos Estados Unidos e por outras potências imperialistas.

Na lógica da UP, por que o Brasil não poderia ser considerado um país imperialista? Ainda mais à época em que foi a sétima maior economia do mundo? É algo completamente delirante. A diferença fundamental é que o imperialismo conseguiu aplicar um golpe bem sucedido no Brasil. Na Rússia, em grande medida em decorrência do nacionalismo de Putin e demais setores do governo, o Estados Unidos não conseguiram.

Concepção colonialista

Vejamos a passagem abaixo retirada diretamente do texto:

“Outros países fronteiriços da Rússia estão na mira da OTAN (leia-se EUA/EU) e isso representa na visão geopolítica dos capitalistas nacionalistas russos um cinturão que está sendo apertado pelo mundo ocidental em detrimento dos interesses estratégicos da Rússia.”

Então, fica claro que o posicionamento da UP se baseia numa concepção atrasada acerca da conjuntura de forças do mundo de hoje. Isso se confirma até pelo fato de que, na tentativa de criar um “fio” para justificar sua política, utilizam a primeira e segunda guerras mundiais como argumentos do caráter imperialista da Rússia.

O mundo não está mais no colonialismo, onde os conflitos se baseavam primordialmente na conquista territorial, nas zonas de influência e na expansão desenfreada das fronteiras das potências da época. O desenvolvimento do capitalismo quebrou essa relação e, principalmente depois das primeiras e segundas guerras, arrastou o mundo em direção aos grandes monopólios e à dominação da economia global.

Mais à frente, o autor afirma:

“A solução encontrada pelas burguesias monopolistas para manter as taxas de lucros do “ banquete capitalista” segue a velha cartilha colonial: ampliar a exploração dos países mais pobres e usurpar as riquezas minerais dessas nações.”

Aqui, vemos uma falha na conclusão. De fato, o imperialismo invade e golpeia demais países atrasados com o objetivo de espoliar suas riquezas. Entretanto, a forma dessa dominação mudou, foi ampliada. Afinal, o imperialismo americano não precisa ocupar outros países para colher suas riquezas. O faz à distância, por meio de seu controle sobre a economia global. É um dos motivos pelos quais simplesmente não estamos mais no colonialismo.

Nesse sentido, como dito anteriormente, a Rússia não foi no passado e também não é no presente um país imperialista no sentido marxista da palavra. Decerto que já foi um Império, mas o Império Russo compunha a cúpula dos antigos impérios, aí sim presentes no colonialismo. Consequentemente, são completamente diferentes dos atuais. Essa é uma página que a UP ainda não virou e, no decorrer do texto, insiste em sua caracterização de forma ainda mais embaraçosa, afirmando que “Representantes da Rússia, França, Alemanha, Inglaterra e Japão, potências imperialistas, se reuniram em 1885 na Conferência de Berlim […]”. Um revisionismo digno de stalinistas.

Ademais, aqui, cabe a pergunta: quais seriam esses “interesses estratégicos da Rússia”? Esse tipo de raciocínio implica diretamente numa concepção de que a Rússia estaria ativamente perseguindo objetivos expansivos, o que simplesmente não é verdade, uma vez que a Rússia se defende e se arma tendo em vista a ameaça imperialista ao seu redor e no mundo e não apesar disso.

Stalinismo raiz: a UP acompanha a tradicional confusão da burocracia

De maneira firme e pública, a UP se denomina stalinista. Ou seja, seriam seguidores da doutrina de Stalin, seja lá qual for essa doutrina, além de meros burocratas traidores da revolução. Seu posicionamento em relação à questão da Ucrânia mostra que de marxismo não sabem nada, o que condiz, por outro lado, com o stalinismo.

Em um ponto de vista histórico, faz sentido eles se colocarem ao lado da Ucrânia, ou seja, ao lado do imperialismo neste conflito. Finalmente, Stalin não só era conivente com o imperialismo, como também, em diversas ocasiões, como é o caso da Guerra Civil espanhola, se aliaram ao imperialismo contra a revolução socialista.

Sem contar nos momentos em que, sem nem mesmo a ajuda do imperialismo, levaram até às últimas consequências uma política sanguinária contra-revolucionária. Não é à toa que Stalin foi responsável pelo assassinato das principais lideranças da Revolução Russa após entrar no poder.

Ao mesmo tempo, os stalinistas modernos costumam ser favoráveis a países como a China, a Venezuela, Cuba etc. Ou seja, por definição, é uma contradição fatal. Como ser à favor de países oprimidos pelo imperialismo ao mesmo tempo que se é pró-imperialista? Pode ser que a UP descobriu um livro escondido de Marx que fornecia a resposta para esse questionamento, mas há de ser divulgado.

Por fim, a infame política do “fora todos” mostra sua cara mais uma vez. Politicamente, “fora OTAN” e “fora tropas russas” implicam, diretamente, em um apoio velado ao imperialismo. Se isso é consequência de uma profunda confusão política, como foi mostrado neste artigo, ou consequência de puro oportunismo político, não podemos afirmar. Mas o fato é que, as últimas revelações acerca do financiamento da esquerda pequeno-burguesa no Brasil empurram a balança cada vez mais para o lado do financiamento imperialista.

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