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2 de outubro

PSTU & MBL – diário de uma paixão (parte II)

Juntos para derrubar o PT, de mãos dadas para eleger João Doria

Estamos em 2012, ano em que aconteceria um dos cento e cinquenta mil apocalipses anunciados por profetas passados, que Londres voltaria a sediar os jogos olímpicos e que Barack Obama seria reeleito para chefiar o planeta. Um senhor calvo, de nome Zé Maria, liga a televisão e não acredita no que vê. Seu coração acelera, suas pupilas dilatam, um fio de baba começa a escorrer pelo canto da boca. Depois de tantas décadas, finalmente havia encontrado a outra metade de sua laranja.

Sim, ninguém acreditaria! Ele, que tantas vezes pregou no deserto que o maior mal que acometeu a humanidade, desde a tentação de Eva, havia sido o nascimento de um pernambucano de nove dedos, que o bicho papão usava broche de estrelinha e boné vermelho, viveria para ver a revolução. De tanto gritar histericamente em cima de seus caixotes de bacalhau, finalmente conseguiu convencer o mundo de que era preciso se ver livre do PT.

A Rede Globo, o Congresso Nacional, o STF, outrora tão ingênuos, agora não se deixariam mais enganar. Depois do incansável trabalho do PSTU, de ir do Oiapoque ao Chuí, de aldeia em aldeia, de povoado em povoado, para exorcizar os demônios petistas que se encontravam no meio do povo, a verdade veio à tona. O PSTU, afinal, tinha razão: para a humanidade progredir, era necessário colocar abaixo o governo do PT.

Mas entre os que aprenderam a lição, houve quem se destacasse. Um grupinho de jovens muito talentosos, a máxima expressão da inteligência de uma nova geração de ativistas que surgia, leu as cartilhas do PSTU e passou a defender como ninguém a derrubada do PT. Nascia, então, o Movimento Brasil Livre (do PT), o MBL. Ou, como acreditava Zé Maria, Movimento Morenista Revolucionário Fora Dilma, Zé Maria Presidente, o MMRFDZMP.

A paixão foi instantânea. O MBL, como o PSTU, não apenas tinha ódio do PT. Ele queria colocar abaixo o seu governo. E, para isso, lançou uma campanha bem objetiva: “vamos para as ruas derrubar o governo do PT, não importa quem assuma”. O PSTU, ofendido por ter suas ideias originais roubadas, mudou sua proposta para algo mais mirabolante, mas com o mesmo conteúdo: “vamos para as ruas derrubar o governo do PT, depois o governo pós-PT, depois o governo pós-pós-PT até finalmente Zé Maria assumir”.

Embora muito criativos na propaganda, ambos escondiam que quem queria derrubar o governo do PT, além deles próprios, era o imperialismo. Os bancos, os monopólios, a corja podre e parasita que estava derrubando todos os governos nacionalistas na América Latina para impor uma política de terra arrasada. E que, portanto, o governo do PT, de base popular, era um entrave à política do imperialismo. Fazer a campanha de que o governo do PT deveria ser derrubado era o mesmo que favorecer a ação do imperialismo no Brasil.

Dito e feito. O MBL, menos envergonhado, colocou sua campanha na rua, e de forma abertamente fascista e pró-imperialista, com reivindicações neoliberais e elogios aos Estados Unidos. O PSTU, ciumento, não conseguiu fazer a campanha com tanta desenvoltura, limitando-se a defender que a esquerda usasse o verde e amarelo e que não defendesse o governo do PT do golpe em curso. Seja como for, ambos são responsáveis pelo governo Temer.

Do governo Temer, veio o governo Bolsonaro, resultado também da campanha do PSTU e do MBL contra Lula e o PT. O PSTU mostrou que seu “fora todos” era pura balela, pois não levantou o “fora Bolsonaro” e o MBL, que havia cumprido a função para o qual foi contratado, guardou a viola no saco.

Eis que agora, no entanto, o coração de Zé Maria voltou a bater forte. Em mais um dia na poltrona de casa, onde seu traseiro ficou grudado durante um ano e meio de pandemia, ligou a televisão e viu que o MBL novamente queria se juntar ao PSTU. Junto com o Partido Novo e outras aberrações neoliberais, seus líderes falaram “nem Lula, nem Bolsonaro” e logo arrancaram um sorriso de Zé Maria.

E por que razões o romance foi reacendido? Ora, porque, assim como em 2016, a burguesia prepara um novo golpe de Estado e precisa, para procurar legitimar o golpe e diminuir o atrito com o conjunto da população, passar um verniz esquerdista em sua conspiração.

As mobilizações contra o governo Bolsonaro, iniciadas no primeiro de maio, tornaram-se um dos mais importantes fatores da situação política. Não é mais possível fingir que a oposição ao bolsonarismo está acontecendo nas CPIs e nas patifarias do STF, ela acontece nas ruas. E se a burguesia permitir que isso se desenvolva, cada vez mais a situação vai se transformar em uma polarização entre o governo Bolsonaro e a mobilização dos trabalhadores, o que colocaria o regime sob risco muito alto de vir abaixo. Por isso, a burguesia decidiu sequestrar as manifestações.

O MBL, fascista até a medula, agora inventou que é “fora Bolsonaro” e convocou um ato, junto com o PSDB, para mostrar à sociedade sua grande revolta contra o governo. Um fiasco total, que não reuniu nem 5 mil pessoas no País.

Até aí, tudo bem. Cai nesse conto do vigário quem quer. O golpe, no entanto, está em tentar se infiltrar nas manifestações da esquerda com esse pretexto de que seria também contra o governo Bolsonaro. E para esse golpe, o PSTU já abriu as p̶e̶r̶n̶a̶s̶ portas.

Em artigo de título “Todos às ruas: É preciso ir à luta para tirar Bolsonaro e derrotar seu projeto golpista”, o PSTU é taxativo: “a máxima prioridade para a classe trabalhadora, porém, é tirar Bolsonaro, já. E, para isso, é preciso a mais ampla unidade, inclusive com a direita que esteja disposta a ir às ruas por isso”.

A mais ampla unidade contra o imperialismo, entre 2012 e 2016, era impensável para o PSTU porque o governo do PT seria indefensável. Agora, em nome de uma luta abstrata contra o “bolsonarismo”, o PSTU não hesita em ficar do lado do imperialismo. É, portanto, errar de novo e no mesmo lugar. Ficar ao lado do imperialismo contra a esquerda.

O PSTU diria que agora se alia ao MBL não contra o PT, mas contra Bolsonaro. Que não é o mesmo caso do passado. Aí é que está o erro.

O MBL não está na rua contra o governo Bolsonaro, mas sim contra o PT. Os atos organizados no dia 12 deixaram isso claro, quando a direita inclusive levou “pixulecos” de Lula para as manifestações. A contradição da direita nacional com Bolsonaro não é uma questão democrática, é uma questão de programa econômico: o MBL e o PSDB querem privatizar mais e mais rápido do que Bolsonaro é capaz. E só por isso fazem essa oposição de fachada ao governo federal.

No entanto, colocado em um terreno prático, o MBL terá de escolher: ficará com Lula, Bolsonaro ou o candidato do PSDB? Uma coisa é certa: o que leva o MBL às ruas não é a candidatura de Lula, que torna o programa neoliberal inviável. O que o MBL quer é impedir que a revolta contra o governo Bolsonaro seja canalizada por uma candidatura popular, que se oponha ainda mais radicalmente à ofensiva neoliberal. Trazer o MBL para os atos da esquerda, portanto, é trazer a raposa para o galinheiro. É impedir que os atos se desenvolvam no sentido correto: de colocar abaixo o regime para abrir o caminho para um governo dos trabalhadores.

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