O jornalista Renato Rovai foi um dos que se colocou abertamente contra o golpe de Estado em 2016. Assumidamente de esquerda, procurou defender, na pauta da Revista Fórum, uma série de temas relacionados ao chamado campo progressista. Algo no meio do caminho, no entanto, fez a trajetória de Rovai mudar de rumo.
No último período, o editor da Revista Fórum se dedicou a defender um grupinho que não está do mesmo lado da trincheira da luta contra o golpe. Trata-se do PSOL, legenda de deputados e professores universitários que surfou como pode na histeria “contra a corrupção” para atacar os governos do PT e a figura do ex-presidente Lula. Ao contrário do PT, da CUT, do MST e, de certo modo, do próprio Rovai, o PSOL oscilou entre pedir abertamente a cabeça de Dilma Rousseff — como no caso de sua dirigente Luciana Genro e de Valério Arcary, então PSTU, mas que futuramente ingressaria no partido — e reunir-se em torno da Frente Povo sem Medo de Guilherme Boulos para lutar “contra a política econômica” do governo de Dilma Rousseff.
Valendo-se de pretextos esquerdistas, o PSOL fez, na prática, o mesmo que Deltan Dallagnol, William Bonner ou Jair Bolsonaro: uma campanha de que o governo do PT deveria ser derrubado. Um partido, portanto, golpista.
E o apoio do PSOL não se deu por acaso. Justamente por ser um partido de um setor muito conservador da classe média, o PSOL é incapaz de, nos momentos em que a luta de classes se torna mais acirrada, tomar partido da classe operária. Está tão ligado ao regime político e à burguesia, que sustentam seus cargos e privilégios, que acaba ficando a reboque dos inimigos dos trabalhadores.
Nessa transição do Rovai contra o golpe para o Rovai do presente, o editor da Revista Fórum decidiu criar uma fábula para justificar o apoio do PSOL ao golpe de 2016. De tão estranhamente obcecado em defender o PSOL hoje em dia, Rovai fez para o PSOL a autocrítica que nem mesmo a legenda fez: disse que o PSOL de 2013 era diferente do PSOL de hoje e que o partido seria atualmente um verdadeiro partido de esquerda, comprometido com o povo. Na verdade, quem mudou foi Rovai.
O PSOL de hoje é o mesmo partido de sempre ou até pior: ultra-oportunista, super pequeno burguês e, portanto, bastante direitista. A composição do partido permanece a mesma, e os caciques de outrora foram substituídos por caciques com o mesmo perfil. Nas duas últimas eleições, o partido cumpriu o seu papel de dividir voto do PT — até mesmo no absurdo caso em que Boulos, sem a menor condição de ser eleito, saiu candidato com Lula estando preso. Seu programa, é o mesmo. E, finalmente, suas picaretagens são as mesmas.
Recentemente, o PSOL, fazendo jus à sua trajetória oportunista, votou contra uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visava a aumentar o controle do Congresso sobre o Ministério Público. E por quê? Simplesmente porque a rede Globo, que vem promovendo o partido desde a sua fundação, bateu o pé e disse para o partido votar contra. Os votos do PSOL, afinal, foram decisivos para que a PEC não passasse.
E a acusação de que as ordens vieram da família Marinho não são pura especulação: além das óbvias relações — a Globo apoiou a candidatura de Marcelo Freixo em 2016, por exemplo —, um quadro do próprio PSOL entregou o jogo:
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No PSOL quem decide é a globo.
— Leonel Brizola Neto (@leonelbrizolarj) October 21, 2021
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Rovai, que acompanhou a luta contra o golpe e sabe que apoiar o Ministério Público seria uma loucura, não quis sair em defesa do PSOL. No entanto, sua posição, em vez de ser a de criticar o PSOL e denunciar que a legenda está ao lado daqueles que querem expulsar o PT do regime político, decidiu apenas “lamentar”:
[novashare_tweet tweet=”
Um tweet que explica muito do que aconteceu hoje e que decepcionou muita gente de esquerda como eu…. https://t.co/ZiGsuH5SId
— Renato Rovai (@renato_rovai) October 21, 2021
” hide_hashtags=”true”]
A reação de Rovai só revela que o compromisso com o PSOL é bastante profundo — mesmo diante de uma patifaria, o editor da Revista Fórum recusa-se a criticar. É o triste caso de um jornalista que, em meio à polarização política, perdeu-se no caminho e passou do lado da luta contra o golpe para o lado de auxiliares dos golpistas.