A esquerda deveria representar os interesses dos trabalhadores. É ela quem está nos sindicatos e que tradicionalmente defende um programa de luta do povo.
O programa das organizações da esquerda deve ser independente, ou seja, deve se guiar pelos reais interesses da população trabalhadora e oprimida e não seguir uma política orientada pela burguesia.
A esquerda brasileira vem fazendo o contrário. Sob o pretexto de fazer oposição a Bolsonaro, ela se coloca a reboque da direita tradicional, que nesse momento está em campanha eleitoral contra o presidente fascista.
Já citamos neste Diário a política absurda da esquerda e dos sindicatos que ficaram a favor das demissões para quem não se vacinar. Com essa política, estão frontalmente contra os interesses dos trabalhadores que deveriam defender, colaborando assim com os patrões que ganham mais um pretexto para demitir em plena crise com quase 15 milhões de desempregados segundo números oficiais.
A novidade é a demagogia de Bolsonaro afirmando que dará aumento salarial para os servidores. Qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico sabe que Bolsonaro, um governo ferozmente inimigo dos trabalhadores, só faz uma declaração como essa porque está em campanha eleitoral.
Qual deveria ser a posição da esquerda? Deveria apresentar um programa ainda mais radical, dizendo que não apenas é preciso dar reajuste salarial, mas apresentar um conjunto de propostas que visem a melhorar as condições de vida dos servidores e dos trabalhadores em geral.
A posição do PT, nesse sentido, mais confunde do que esclarece. Em reportagem do último dia 15 de novembro, na Folha de S.Paulo, alguns parlamentares do partido foram entrevistados sobre o anúncio de Bolsonaro. Em geral, as críticas ficaram no caráter demagógico da proposta, afirmando – o que é verdade – que Bolsonaro é contra os servidores.
No entanto, faltou ao PT e a toda a esquerda parlamentar uma crítica baseada em um programa de defesa dos trabalhadores. Algo que deveria ser parte da crítica é justamente a política fiscal de austeridade que Bolsonaro busca uma brecha para burlar com a PEC dos Precatórios.
A esquerda deveria ser mais clara em sua posição: defender o aumento real de salário de todos os trabalhadores, a revogação do teto de gastos, da reforma trabalhista e da reforma da Previdência.
Bolsonaro tenta um acordo com o restante da burguesia na política de austeridade, mas, ao mesmo tempo, tenta colocar em marcha uma política demagógica com o objetivo de manter sua base eleitoral. Esse é o fundo da discussão sobre a PEC dos Precatórios e do Auxílio Brasil.
A esquerda precisa se posicionar, mostrar que é a verdadeira defensora dos interesses dos trabalhadores, defendendo, por exemplo, um salário mínimo que não pode ser menor que R$6.500.
Se a esquerda não toma uma posição independente e não denuncia os golpistas de conjunto, ela vai empurrar os trabalhadores para o colo da extrema-direita. Esse é um perigo que não deve ser subestimado.