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Stalinistas batem cabeça

Mas afinal de contas, a China é socialista ou não é?

Polêmica com Elias Jabbour e Jones Manoel

Entre os filostalinistas, órfãos da burocracia soviética, tem se tornado moda correr para o colo da burocracia capitalista chinesa. No Brasil, o principal expoente partidário dessa política ultra-oportunista é o PCdoB.

O partido vem ao longo dos últimos anos servindo de correia de transmissão do PC chinês. Nada mais natural para um partido que defende a aliança com Deus e o mundo e diz que isso é necessário para a “acumulação de forças” na “construção do socialismo”.

A prática é velha. Stálin traiu a Revolução de 1917, se aliou com Churchill, Roosevelt e até com Hitler. Seu herdeiro direto, Nikita Khrushchev, embora tenha tentado se reciclar jogando toda a culpa da traição contrarrevolucionária apenas em Stálin, seguiu seus passos e aprofundou a política de integração ao regime imperialista com a farsa da “coexistência pacífica”.

Tal política da burocracia soviética empurrou seus Estados satélites do leste europeu para o abismo, destruindo por dentro os Estados Operários em 1991. A China, no entanto, não sofreu uma mudança tão drástica, de substituição do partido comunista por um capitalista com outro nome embora com os mesmos membros – como foi no leste europeu.

Mas acompanhou a dissolução total do poder operário implantando um feroz regime neoliberal com Deng Xiaoping, que foi ainda mais brutal contra os trabalhadores que se rebelaram com a destruição completa da Revolução de 1949 ao reprimir multidões no famigerado Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989.

Apesar disso, muitos dos filostalinistas sem pai nem mãe desde 1991 se agarrarem no “socialismo com características chinesas” (ou seja, socialismo que não é socialismo, também conhecido como capitalismo).

Elias Jabbour, intelectual do PCdoB que estuda a China há anos, é um dos gurus brasileiros dos filostalinistas iludidos. E, para a surpresa daqueles que acham que o PCdoB é reformista e pelego mas o PCB (ou melhor, o agrupamento que saiu do PCB em 1992 após sua extinção) é revolucionário, vemos que o youtuber do PCB, Jones Manoel, é um dos pupilos do ideólogo do PCdoB sobre a maravilha socialista chinesa!

O pior de tudo: o tuiteiro pecebista vem superando as análises mirabolantes do PCdoB a respeito do “socialismo” chinês. Em recente polêmica com Jabbour, Jones o critica não pela esquerda, mas pela direita. Vejamos.

Jabbour, em vídeo para o canal da Fundação Maurício Grabois, do PCdoB, intitulado “A China é socialista?”, apresenta a tese correta de que o socialismo é uma sociedade superior ao capitalismo, muito mais desenvolvida, uma sociedade de abundância e não de miséria. No entanto, ao abordar a questão da China, explica que Marx e Engels erraram ao prever que o socialismo seria instaurado primeiro nos países capitalistas avançados, uma vez que a história produziu o socialismo primeiro na Rússia e depois nos países cuja revolução socialista veio da libertação nacional, isto é, os países atrasados, como a China.

Desde então, a China estaria dando os primeiros passos em direção ao socialismo, ou, nas palavras de Jabbour, estaria na “fase de teste” do socialismo. Portanto, a tese do dirigente do PCdoB seria esta: a China fez a revolução em 1949 e desde então, embora não tenha alcançado o socialismo, pois esse é um processo lento e gradual, está trabalhando para alcançar o socialismo, atualmente “embrionário”.

Jones Manoel buscou rebater um de seus gurus (não tanto quanto Domenico Losurdo, é claro). Sem sair de seu tradicional centrismo – típico da esquerda pequeno-burguesa – a respeito da China, o blogueiro discordou de Jabbour. Não definiu claramente sua posição, se a China é socialista ou não, de uma maneira taxativa. Porque o esquerdista pequeno-burguês tem medo de expor claramente suas posições.

Ele, então, afirma: “o critério central da transição socialista é o poder político.” Não vamos entrar na questão teórica mais aprofundada sobre a questão do poder político dos trabalhadores. Mas Jones diz isso para justificar a posição que quer esconder: a China é socialista porque o poder está nas mãos dos trabalhadores, independentemente da abundância material ou falta dela.

Sobre a questão da abundância material, do desenvolvimento das forças produtivas etc, é mais do que óbvio que a China não é socialista, assim como nenhum país do mundo jamais foi socialista. Nem mesmo a União Soviética, ou Cuba ou a Coreia do Norte. Afinal, sequer chegaram aos pés do nível de desenvolvimento das forças produtivas encontrado nos países de capitalismo avançado. Ora, se entendermos isso, e não é difícil, então não podemos chegar à conclusão de Jabbour de que Marx e Engels se equivocaram sobre o desenvolvimento socialista.

O stalinismo sempre apregoou a teoria contrarrevolucionária do “socialismo em um só país”, para atacar a teoria marxista da revolução permanente, defendida e desenvolvida por Trótski. O socialismo só pode ser alcançado pela superação do mais alto desenvolvimento capitalista. E, como o capitalismo se desenvolveu plenamente apenas com a sua expansão internacional, ou seja, quando o sistema dominante no mundo foi o capitalismo (imperialismo), o socialismo também só pode ser alcançado se for internacional. Por isso a farsa reacionária do “socialismo em um só país”, que serviu a Stálin para boicotar a revolução mundial a fim de preservar o poder da burocracia soviética e esmagar os trabalhadores de seu próprio país.

O imperialismo é o sistema do mundo hoje, no qual apenas os países que atingiram pleno desenvolvimento capitalista controlam a economia global. Esses países atingiram esse desenvolvimento na virada do século XIX para o século XX, quando o capitalismo de livre concorrência ainda permitia algum desenvolvimento econômico verdadeiro das nações. Depois disso, a entrada na fase imperialista significou a decadência do capitalismo. Portanto, se o capitalismo está em fase de decadência, como analisou Lênin, não há mais espaço para o desenvolvimento dentro dos marcos do capitalismo. A China não atingiu esse desenvolvimento, logo não é um país de capitalismo desenvolvido. E se não alcançou o desenvolvimento capitalista – está, na realidade, muito longe disso, com uma população majoritariamente agrária e pobre materialmente – não chegou ao socialismo.

Mas, e o poder político? Não estaria ele nas mãos dos trabalhadores, que estariam construindo o socialismo através de um governo operário como na Rússia de 1917? Jones Manoel pode ter suas ilusões filostalinistas com o novo papai Xi Jinping, mas a realidade é dura. Como dissemos no começo, os trabalhadores foram integralmente afastados de qualquer chance de controlar o Estado ainda na época soviética.

Quando da Revolução de 1949, eles chegaram ao poder. Esse poder foi exercido pela burocracia aliada de Mao Tsé-Tung, que tomou conta do Estado Operário e o degenerou. No entanto, manteve as características básicas de um governo dos trabalhadores, mesmo na miséria material. Se Jones Manoel estivesse se referindo à China dessa época, não estaria de todo errado: o poder político estava nas mãos dos trabalhadores, embora de maneira indireta, uma vez que o Estado Operário era governado pela burocracia que se apoiava e era dependente dele. Mas, tal como na URSS, a burocracia foi se tornando cada vez mais independente da classe operária até que, finalmente, a traiu completamente e entregou o poder político nas mãos dos capitalistas. Esse definhamento do Estado Operário se completou com Deng Xiaoping e sua “reforma e abertura”.

Hoje, a China não tem nenhuma característica particular que possa lhe conferir o status de país socialista. Primeiro, porque não há abundância material como resultado da libertação das forças produtivas – assim como nunca houve até o momento. Segundo, porque não é um Estado Operário, que poderia ser considerado o regime político de transição ao socialismo. O poder político não está na mão do proletariado, mas sim de capitalistas chineses associados aos monopólios internacionais.

A diferença da China para a URSS é que o Partido Comunista continua com o mesmo nome e não saiu do poder. Os dirigentes “comunistas” chineses são de total confiança do imperialismo, viram que no leste europeu uma parcela das antigas direções dos partidos comunistas foi rifada do poder (embora outra tenha permanecido, como o hoje fascista Viktor Orbán na Hungria) e decidiram entregar o poder fazendo um acordo com o imperialismo para se manterem no governo como gerentes dos grandes monopólios.

Jones Manoel utiliza o poder político como válvula de escape para dizer que o PC chinês, por se denominar comunista, representaria os trabalhadores. Assim, esconde para debaixo do tapete a questão do poder econômico. Claro que nem em Cuba nem na Coreia do Norte, assim como na URSS, a independência econômica foi conquistada – devido ao imperialismo ser o sistema dominante no mundo. Mas nesses países, apesar da burocracia, o poder econômico estava nas mãos do Estado Operário degenerado. Na China, o poder econômico é da Nike ou do City Bank. A burocracia, ao invés de ser uma intermediária entre os trabalhadores e o Estado, é um meio pelo qual os capitalistas controlam o Estado política e economicamente.

Na China, apesar da bandeira vermelha e da fachada pseudossocialista da burocracia, o poder político e o poder econômico foram alijados há muito tempo dos trabalhadores e se encontram concentrados nas mãos dos capitalistas.

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