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Sob a batuta do PSDB

Impugnação de Bolsonaro: uma manobra dos sem voto

Depois de ter matado mais de 550 mil pessoas impunemente, agora Bolsonaro aparece, nas capas da imprensa capitalista, como um criminoso por defender o voto auditável

Durante milênios, vem sendo contada a famosa lenda do julgamento de Salomão, segundo a qual o rei de Israel, considerado um homem muito sábio, desvendou quem seria a verdadeira mãe de uma criança. Hoje, um outro Salomão, que não é rei, mas acha que é, e é tão sábio quanto um discípulo de Olavo de Carvalho, quer entrar para a história como o homem que impugnou um presidente da República.

Esse Salomão é um ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e decidiu, na última terça-feira (3), convocar integrantes do governo Bolsonaro para investigar os “atentados contra o sistema eleitoral”. Segundo Luís Felipe Salomão, o objetivo do inquérito seria obter respostas às falas de Jair Bolsonaro, acusado de “ataques sem prova contra as urnas eletrônicas” e “ameaças à realização de eleições”. O presidente fascista, bem como seu ministro da Justiça, estão entre os participantes da transmissão ao vivo em que Bolsonaro teria desferido os supostos ataques.

A aventura de Luís Felipe Salomão, que nunca recebeu um único voto na vida e, diferentemente de seu Salomão antepassado, sequer é conhecido pela população, recebeu o mais entusiasmado aplauso da burguesia. O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e até o jornal alemão Deutsche Welle dedicaram páginas inteiras de sua edição apenas para repercutir o inquérito aberto pelo TSE. Mas não só a burguesia: um setor da esquerda nacional também decidiu comemorar a molecagem do reizinho de toga.

Comemorar o inquérito do ministro Salomão só pode significar duas coisas. Ou esse setor da esquerda acredita que a batalha contra o voto auditável é uma bandeira progressista ou considera que a insurgência do TSE contra o governo — independentemente do mérito do inquérito — seja algo favorável aos seus interesses. Em ambos os casos, trata-se de uma posição ridícula, cuja contradição já se mostra a partir do momento em que o inquérito do reizinho Salomão foi recebido com fogos de artifício pelos inimigos do povo.

A cruzada contra o voto auditável por parte da esquerda é uma coisa verdadeiramente estúpida. É defender que um pequeno grupo de pessoas tenha controle sobre o processo eleitoral — o que, na prática, torna o processo eleitoral um processo fraudulento, pois não está nas mãos de cidadãos, mas sim de uma maioria. É a defesa, portanto, que quem controle as eleições no Brasil seja Luís Felipe Salomão e sua trupe, e não o povo. E, a menos que alguém esteja disposto a acreditar que Luís Felipe Salomão é a encarnação da Justiça divina, isso significa que quem escolhe os governantes não é o povo, mas sim Luís Felipe Salomão e sua trupe. O que, inclusive, não torna o regime político brasileiro, neste sentido, tão distante do regime de Salomão, já que naquela situação o poder também ficava nas mãos de um grupinho ultraminoritário.

Acontece que não só Luís Felipe Salomão não é uma encarnação da Justiça divina, pois tal coisa não existe, como ele é notoriamente um delinquente político. Ele estava no TSE em 2018, quando essa corte cassou a candidatura do maior líder popular do País, o ex-presidente Lula, o que pavimentou o caminho para a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. O próprio ministro Salomão assinou uma das inúmeras arbitrariedades contra o PT naquele momento, estipulando multa de R$ 500 mil caso a figura do ex-presidente Lula aparecesse na propaganda de rádio e TV.

Ao fato de que o sistema eleitoral fica sob controle de uma quadrilha, e não da população, a burguesia levanta o argumento, ecoado por um setor da esquerda, de que a urna eletrônica seria “neutra” e até mesmo “auditável”. Nada poderia ser mais mentiroso.

A máquina, obviamente, é neutra de um ponto de vista político. Se você apertar dois dígitos, ela não vai contabilizar algo diferente do que foi colocado simplesmente porque ela “quer” algo diferente. Contudo, o mecanismo utilizado para apurar os votos é que depende de procedimentos sob o qual a população não tem controle. Quem garante que as máquinas foram, em primeiro lugar, programadas corretamente pela quadrilha do reizinho Salomão, de modo que todo 1 e 3 digitado na urna corresponda a um voto para o PT? Depois, quem garante que a contabilidade feita automaticamente pela urna corresponderá ao número que será divulgado pela quadrilha do reizinho Salomão? Ninguém pode garantir, a não ser a fé cega da esquerda pequeno-burguesa naquilo que já virou uma espécie de religião da “santa urna”.

Mas se houve interferência humana no processo, ela não seria acusada em uma auditoria? A princípio, sim. Mas a grande questão é: como fazer essa auditoria? Quantas pessoas, dos milhões de eleitores, teriam capacidade, de um ponto de vista técnico, de auditar uma urna eletrônica? Evidentemente, isso seria reduzido para um número muito pequeno de pessoas — ou pior, a empresas que, inevitavelmente, têm ligações com o Estado.

O processo já revela, em si, todo o seu conteúdo antidemocrático: em troca de supostas facilidades para a burocracia que teria de contabilizar os votos, o povo fica impossibilitado de saber o que acontece de fato. Em qualquer procedimento democrático, deveria acontecer justo o contrário: os mecanismos de controle deveriam ser os mais simples possíveis para o povo.

A esquerda que é devota da “santa urna eletrônica”, portanto, ainda acredita que os ministros do TSE trabalham demais e devem ter seu trabalho diminuído à custa da total exclusão do povo do processo. Trata-se, portanto, de uma esquerda completamente a reboque de outros interesses.

A luta idiota e reacionária contra o voto auditável é somente uma face do problema. O outro lado, conforme apontado, é o de que o inquérito deveria ser comemorado porque o TSE teria se erguido contra o governo Bolsonaro.

Ora, não há insurgência nenhuma. Antes de pensar na possibilidade de abrir um inquérito que talvez possa levar à impugnação de Bolsonaro, o TSE já impugnou dezenas — ou talvez centenas — de milhares de candidaturas da esquerda em todo o País. Nas últimas eleições, por exemplo, a maioria dos candidatos do Partido da Causa Operária teve suas candidaturas cassadas por causa do TSE. A cada ano que passa, seus ministros inventam novas leis para tornar o processo eleitoral ainda mais direitista e antipopular, repleto de multas e proibições. E, nada custa relembrar, o TSE foi quem selou a cassação da candidatura de Lula em 2018, deixando o caminho aberto para Bolsonaro.

O que acontece neste momento é tão somente uma manobra da burguesia, como tantas outras vistas no último período. E, como se trata de uma manobra, suas consequências serão muito piores que o próprio governo Bolsonaro.

O TSE esperou Bolsonaro matar mais de 550 mil pessoas, escutou todas as gravações da Vaza Jato, ficou calado enquanto os militares ameaçavam a torto e a direita o regime. Por que agora, somente agora aparece esse interesse em impugnar Bolsonaro? Agora, inclusive, quando o motivo para a impugnação é, por incrível que pareça, a defesa de uma reivindicação democrática?

Ora, porque, por um lado, a reivindicação democrática ataca diretamente os privilégios da trupe de Luís Felipe Salomão e, de outro, o interesse da burguesia é o de alavancar um candidato que não conseguiria vencer Bolsonaro em eleições “limpas”. O TSE quer manter os votos não auditáveis para poder eleger seus candidatos que não têm voto. Ou, dito mais claramente, eleger João Doria (PSDB), que parece ser o candidato oficial da “terceira via”. O candidato que é desconhecido no Brasil e odiado no próprio Estado, mas que se torna um candidato competitivo na medida em que conta com esses truques da máquina do Estado.

Obviamente, a luta de Bolsonaro não é para que a eleição seja limpa, não há uma luta baseada em princípios democráticos. Mas sim uma luta para que ele também possa tentar roubar as eleições e se precaver da tentativa de ser roubado em prol de João Doria. O TSE quer o monopólio da fraude, enquanto Bolsonaro, conseguindo o voto auditável, terá mais chances, pedindo auditorias onde lhe convém e impedindo auditorias onde tiver “passado a mão”, de controlar o processo eleitoral.

A briga do TSE para eleger Doria, finalmente, não tem nada a ver com a luta contra o “fascismo” ou contra Bolsonaro em si. O monopólio do TSE serve, justamente, para garantir que quem não tem voto ganhe — ou, de outra maneira, roubar os votos de quem os têm. Neste momento, Bolsonaro é a única figura da direita que tem uma quantidade relativamente expressiva de votos — algo em torno de 15 a 25% —, mesmo sem contar com o aparato estatal. No entanto, com muito mais votos que Bolsonaro, está Lula, muito mais popular e que tem condições de derrotar Bolsonaro e qualquer candidato apoiado na máquina do Estado.

As manobras do TSE não são para eleger Lula. Se estão se voltando contra Bolsonaro neste momento, irão, com toda a certeza, se voltar contra a esquerda para, roubando os votos de Lula e os votos da extrema-direita, dar a vitória ao incrivelmente impopular e odiado PSDB.

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