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Impeachment x Fora Bolsonaro

O PCdoB e o fantasma da “frente ampla” pairando sobre os atos

Vanessa Grazziotin morde a isca da burguesia e vai atrás de impeachment com a direita nacional

Todo sermão de padre, não importa sobre o que ou que forma tenha, sempre leva ao mesmo lugar: pedir perdão ao “senhor” pelos pecados e dizer “amém”. Assim é qualquer artigo que se leia no Portal Vermelho, editado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Não importa o assunto, não importa se o texto é longo ou curto, não importa quem o escreveu: no fim, a lição é a mesma. E a lição é: “é preciso ampliar a frente ampla para que ela seja mais ampla que a frente amplíssima que o partido defendeu amplamente no artigo anterior”.

O discurso da vez veio da ex-senadora Vanessa Grazziotin, no seu artigo “O Fora Bolsonaro é uma necessidade”. O texto é repleto de obviedades e de frases de efeito vazias de conteúdo: “o 19J (…) foi maior — muito maior — que o 29M”, “O Fora Bolsonaro (…) não é uma hashtag”, “o momento é grave e exige (…) responsabilidade política”, “não podemos mais continuar perdendo tantas vidas” etc. Porém, como em todo discurso de um político, aquilo que mais interessa está em sua intenção: afinal, o que querem Grazziotin e o PCdoB?

A ex-senadora não esconde: o impeachment de Bolsonaro. Até aí, isso não significaria grande coisa. Apenas que o PCdoB está reforçando que é um partido institucional, do regime, e não um partido que deposita suas esperanças na mobilização das massas. Nenhuma novidade, ainda mais levando em conta sua tradição stalinista. O problema, no entanto, vai muito mais além.

Para quem não acompanha a política nacional e vê a defesa tão apaixonada do Fora Bolsonaro — “não é uma hashtag” —, parece até que Grazziotin foi quem pariu a palavra de ordem pela derrubada do governo. Mas é a realidade é o oposto do que parece. O Fora Bolsonaro, enquanto palavra de ordem, enquanto clamor pela queda do governo ilegítimo, já existe desde o segundo turno das eleições. E o PCdoB, que teve um papel dirigente importante nos atos de maio de 2019 através da UNE, atuou deliberadamente no sentido de impedir que a palavra de ordem das massas fosse essa, substituindo-a por generalidades como “pela educação”. Grazziotin e seu partido só tuitaram “Fora Bolsonaro” pela primeira vez depois de quase um ano e meio do governo de extrema-direita.

Essa consideração é importante para que fique claro que não estamos, neste caso, debatendo com alguém que de fato faz parte do movimento, que o impulsionou, que atuou firmemente para que ele se desenvolvesse, mas sim alguém de fora, que só apareceu depois que o movimento ganhou as ruas. Alguém, no entanto, poderia comentar: se Grazziotin e o PCdoB mudaram de posição, isso não quer dizer que, agora, representam o movimento? Bem, só seria assim se de fato tivessem mudado de posição.

Sua fala em torno do impeachment não é de alguém que deixou de lado sua política reacionária — o “fica Bolsonaro” e o “fica em casa” — e agora está dando voz a quem sempre teve razão — o movimento de luta contra o golpe, que estava nas ruas pedindo Fora Bolsonaro. Grazziotin fala como alguém que, alegando ser uma representante do movimento, pede exatamente o oposto do que quer o movimento:

“(…) Há de se fazer uma análise profunda de todos os aspectos do movimento para estabelecer os próximos passos das mobilizações que tem um objetivo claro: a saída, o impedimento, o impeachment de Bolsonaro, já!”

Acontece, no entanto, que o impeachment não é a palavra de ordem do movimento. Não foi o impeachment que levou os trabalhadores às ruas, nem foi o impeachment a palavra de ordem dos atos que antecederam o 19 de junho. O povo está nas ruas pressionado pela crise econômica e sanitária e quer, para solucionar os seus problemas, a queda do regime golpista. Isto é, que o governo seja liquidado imediatamente.

O impeachment, por sua vez, é a palavra de ordem que a burguesia quer impor ao movimento. A Rede Globo, a Folha de S.Paulo e carreiristas como Roberto Freire atuam, neste sentido, de maneira semelhante ao PCdoB: não apoiaram os atos — e continuam não apoiando —, mas, sabe-se lá por que, se acham no direito de aparecer como “conselheiros” da esquerda. Querem dizer o que o povo pensa e o que a esquerda deve fazer, sendo que estão contra o povo e contra a esquerda.

A manobra em torno do impeachment é muito clara. A burguesia quer fazer parecer que as manifestações querem o impeachment para que a mobilização explosiva, que tem o potencial de derrubar o governo, seja dirigida para o cemitério da mobilização popular, que é o Congresso. Quer que a esquerda, em vez de se ocupar em ir aos bairros populares e às fábricas, em vez de organizar o povo para tomar as ruas, perca seu tempo em jantares com o sindicato de ladrões que é o parlamento barganhando a votação do impeachment. Sem mobilização, a burguesia poderá ou pautar o impeachment para ser derrotado e, assim, frustrar o movimento, poderá aprová-lo junto a alguma manobra para colocar algum direitista no lugar de Bolsonaro ou pode simplesmente não pautar o pedido. Com o povo na rua, a burguesia, ameaçada, se verá obrigada a dar alguma solução para a crise.

Mas isso não é tudo. Colocar o impeachment como palavra de ordem, além levar a luta para o campo do adversário — isto é, as instituições golpistas —, abre a brecha para que os setores mais direitistas da esquerda consigam fazer o que está tentando há muito tempo: colocar o movimento pelo Fora Bolsonaro a reboque da direita golpista. Utilizando o argumento da “maioria no Congresso”, esses setores deverão buscar o apoio de todos aqueles que se uniram para derrubar Dilma Rousseff. E isso já está acontecendo: há uma articulação em torno de um novo pedido de impeachment que envolveria até mesmo o ator pornô fascista Alexandre Frota!

Vanessa Grazziotin, embora não se aprofunde na aliança com Alexandre Frota, dá o recado: “precisamos construir uma grande e ampla Frente Democrática em defesa do Brasil”. É o chamado para os maiores inimigos de qualquer democracia, que derrubaram uma presidenta eleita e fraudaram as eleições de 2018, para que defendem a democracia que eles estupraram…

Os trabalhadores não devem se deixar enganar pelos jogos de palavras dos setores da esquerda nacional que querem colocar as mobilizações a reboque de seus interesses carreiristas. Não há frente que possa ser mais ampla do que a frente com o povo brasileiro, com suas organizações de massas, com todos os seus sindicatos, associações, torcidas organizadas, comitês de bairro, movimentos populares etc. É essa frente que colocou o governo Bolsonaro em xeque e que está mostrando que a candidatura de Lula, sem apoio de qualquer picareta da burguesia, é capaz de derrotar o regime golpista de conjunto.

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