Sob o título “Se houver eleição”, o jornalista Jânio de Freitas publicou na Folha de S. Paulo, no último sábado, um alerta no qual assinala que
“Os indícios atuais de golpe já ameaçam o episódio eleitoral”
Jânio de Freitas procura chamar a atenção para ameaças do capitão-presidente ilegítimo, Jair Bolsonaro e dos chefes militares que, na semana passada publicaram nota comemorando o golpe militar de 1964, numa clara defesa dos supostos princípios que teriam norteado a intervenção que levou o País a um dos seus períodos mais tenebrosos, os quais para eles estariam plenamente vigentes.
Mal estar?
Freitas, repete uma insinuação comum entre certos setores da esquerda burguesa e pequeno burguesa de que haveria um sentimento de constrangimento por parte dos golpistas, por serem golpistas e assinala:
Como se os golpistas, os banqueiros, os grandes capitalistas, os chefes militares e outros inimigos do povo trabalhador, que satisfazem seus interesses e vorazes apetites às custas da sua exploração e da sua repressão dos explorados fossem movidos por sentimentos e não por interesses materiais bem concretos.
Com tal pensamento, esses setores buscam – quase sempre – criar a ilusão de que o problema consistiria em argumentar e convencer tais abutres, os quais colocados em um suposto e inexistente conflito moral poderiam ser levados a mudar de atitudes, a serem “democráticos”, “leais” e coisas do gênero.
Exatamente o oposto da realidade, na qual a sanha criminosa e exploradora desses abutres só pode ser detida por meio do seu enfrentamento e derrota diante da mobilização popular, ou seja, da luta de classes, da luta dos explorados na defesa dos seus interesses, contra os interesses desse reduzido grupo desses parasitas sociais.
Por essa oposição à realidade é que a quase totalidade da esquerda nacional deixou de lado qualquer perspectiva de luta e de mobilização, por exemplo, contra a ditadura; abandonando até mesmo os atos formais contra o golpe militar e a pregação golpista que realizava em anos passados no dia 1º de abril. Agora, segundo eles, basta pregar, fazer discursos no congresso e ganhar as eleições que os problemas estariam resolvidos e os militares, sem nem mesmo serem chamados de golpistas, voltariam aos quartéis, para suas funções “regulares”.
Santa ilusão!
Alta sociedade
O articulista da Folha, destaca – ainda que de modo confuso – a submissão dos militares aos interesses da burguesia golpista, a quem chama de “alta sociedade”, quando afirma que:
“Possível vice de Bolsonaro, para uma chapa mais coerente que a feita com o vice Mourão, o ministro da Defesa e seus antecessores não saíram da alegação de ‘anseios da sociedade’ como origem do golpe de 1964 e de 21 anos de ditadura. Braga Netto e os outros não precisariam de mais do que quatro letras para escapar à inverdade: anseios da alta sociedade. Perfeito. A essa sociedade eles serviram sempre, em tudo, excetuado o momento heroico que os derrotou em defesa da Constituição, pela posse do vice em 1961.”
Mas, se os militares são servidores da “alta sociedade” – e de fato, estão à serviço do grande capital internacional e “nacional” contra o povo brasileiro – suas posições golpistas não poderiam ser atribuídas a uma vontade particular dos militares. Se os militares e seu “partido” e seus aliados no Congresso Nacional, no Judiciário etc. são submissos à burguesia, cuja política contra o povo só pode ser imposta por meio de um regime de arbítrio, não seria legítimo atribuir apenas a eles as tendências golpistas presentes na situação atual.
Os guardiões
Mesmo assim, Jânio de Freitas, repete – de certa forma – a versão fantasiosa da situação atual – divulgada por toda a imprensa golpista – de que a crise teria dividido o País entre os bolsonaristas golpistas (liderados pelos militares) e as “instituições democráticas” do regime político, que no mundo real, não existe como tais. Nessa direção, procura opor aos militares golpistas e servidores da “alta sociedade”, aos “guardiões da democracia” o mais precisamente “guardiões da Constituição”, como o por ele citado ministro Edson Fachin, membro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral , de quem toma a frase
“A democracia está ameaçada” / “A Justiça está sob ataque”.
para apresentar como real a lenda de que um dos problemas centrais do País seriam críticas do presidente e militares golpistas ao judiciário golpista que endossou em 100% todos os passos fundamentais do golpe de Estado de 2016 e colocou Bolsonaro na presidência com eleições fraudulentas, nas quais alijaram da disputa, ilegal e inconstitucionalmente, o ex-presidente Luiz Inacio Lula d Silva, seguindo “conselhos” dos militares.
Elogiando Fachin e demais golpistas de toga, para criticar os golpistas de farda, Jânio procura ocultar que os “da capa preta” que não foram eleitos por ninguém e sobre os quais não há qualquer controle do povo (de onde deveria emanar todo o poder na dita democracia), ocultando que suas “excelências” são tão ou mais do que serviçais da “alta sociedade” do que os gorilas dos quartéis que, agora, ocupam o Planalto e os ministérios.
Golpe pós-eleitoral?
Com base em tais ilusões é que Jânio de Freitas, perfila ao lado de quase todo o jornalismo funcionário do Partido da Imprensa Golpista (PIG) que vem destacando o perigo do “golpe pós-eleitoral”, quase sempre com o claro intuito de ocultar os preparativos golpistas para uma nova etapa do golpe, a terceira, depois da derrubada de Dilma Rousseff (primeira) e da condenação e prisão ilegal de Lula (segunda): a busca de derrotar por meios de manobras, manipulações e fraudes a candidatura do ex-presidente, mais uma vez, substituindo-a na disputa com Bolsonaro por uma candidatura ainda mais confiável que Bolsonaro e Cia., no comando do Estado, para intensificar os ataques contra o povo brasileiro.
Nesse sentido, chama a atenção para o perigo, deveras existente, de que um possível golpe dos militares seja antecipado, afirmando que
“Golpe seguindo-se a derrota eleitoral é sempre problemático, mesmo quando se impõe…
para em seguida concluir novamente com elogios aos “homens da capa preta” sob o perigo da antecipação do golpe
“O golpe pós-eleitoral excita reações que, antes de vitórias e derrotas, não costumam expandir-se. Os indícios atuais, que movem Edson Fachin e outros ministros-magistrados, ameaçam já o episódio eleitoral.”
E mais uma desviar a atenção de que esses mesmos senhores do imperial judiciário, do PIG e das camadas mais tradicionais da “alta sociedade” e seus partidos, estão embrenhados na tentativa de preparar o golpe da terceira via.
O golpe da submissão de uma ampla parcela do País a um candidato dos maiores golpistas sob o pretexto e que ele e sua corja de apoiadores são opositores dos golpistas de farda, quando o usaram – e estão dispostos a usá-los novamente, se necessário for, para eles, como recurso para deter uma possível vitória dos explorados por meio da candidatura de Lula.