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Queda de Cabul

Esquerda: carpideira do imperialismo derrotado no Afeganistão

Em vez de soltar fogos de artifício com a demonstração de debilidade do governo norte-americano, "bem pensantes" decidiram chorar no ombro de Joe Biden

Imagine, caro leitor, como seria se o mundo que você conhece fosse oprimido por uma poderosa polícia internacional, armada até os dentes. Imagine se um povo não pudesse escolher os seus governantes, não pudesse decidir o destino de suas riquezas naturais, não pudesse nem mesmo escolher que língua falar. Que no momento em que a população de um dado país elegesse um representante de seus interesses, um tanque de guerra passaria por cima de qualquer direito, que o seu petróleo fosse escoado diretamente para empresas estrangeiras e parasitas, que as suas fronteiras fossem arbitrárias para facilitar a sua dominação. Pois é, é exatamente assim que é o mundo hoje.

O mundo tem dono — ou alguns poucos donos. São os monopólios, constituídos sobretudo pelos bancos, que interferem em todos os países para garantir que seus interesses sejam atendidos. Corrompem a Polícia Federal, o Congresso Nacional e o Ministério Público para dar um golpe no Brasil, mobilizam as forças armadas para dar um golpe na Bolívia, fraudam eleições mundo afora, ameaçam invadir a Venezuela, perseguem Julian Assange, Edward Snowden e todos os seus inimigos — tudo isso para que possam continuar roubando a tudo e a todos.

Acontece, para a alegria dos oprimidos e para o desespero desses monopólios, que o seu poder não é pleno. Pelo contrário: na medida em que o imperialismo é a fase decadente do capitalismo, a capacidade dos países imperialistas — ou seja, os governos nacionais que servem como instrumento dos monopólios — de oprimir os povos está se desintegrando.

Uma das demonstrações mais cabais dessa debilidade foi a espetacular tomada da cidade de Cabul pelo Talibã. Um grupo de apenas 80 mil pessoas, subequipado com fuzis de assalto e picapes, se colocou na ponta de uma enorme insurreição popular e colocou para correr as tropas imperialistas que ocuparam o Afeganistão. O investimento de guerra de mais de 1 trilhão de dólares (5% do PIB norte-americano e mais de 5.000% do PIB afegão) foi varrido pela bravura de um povo que não contava com mais do que a sua determinação em se ver livre da intervenção imperialista.

A polícia do mundo foi colocada de joelhos. Foi humilhada, exposta para que todos vissem sua fragilidade. Nem mesmo os jornais imperialistas, como o Financial Times e o The New York Times esconderam o fracasso total dos Estados Unidos em sua empreitada no Afeganistão. Foram duas décadas de guerra, milhares de baixas em seu exército, que não resultaram em nenhuma vitória no país. Consciente do fracasso, a imprensa compara a tomada de Cabul pelo Talibã com a queda de Saigon, no Vietnã, com a revolução iraniana e até mesmo com a revolução cubana, que desaguou no primeiro Estado Operário da América Latina! E a situação é ainda mais preocupante — para o imperialismo — quando levado em consideração que a guerra na Síria também foi praticamente para o saco, que a crise em Israel vai se aprofundando e que a situação no Iraque é explosiva.

Mesmo sendo protegido pelo imperialismo de conjunto, Biden não está sendo poupado das críticas, que vêm de todos os lados. Ele, afinal de contas, incorreu em um pecado que poderá sair muito caro: mostrou a todos os povos oprimidos que o imperialismo pode ser derrotado. Se um exército de flagelados, como o Talibã, derrotou o imperialismo, o que dizer da Venezuela, que possui uma milícia nacional, organizada e apoiada sobre o Estado, com mais de meio milhão de membros? E o que dizer da China, com 2 milhões de membros ativos em seu exército?

Se a queda de Cabul tiver as mesmas consequências que a revolução cubana — coisa que o próprio imperialismo não descarta —, é possível que surjam, no futuro próximo, centenas e centenas de movimentos de insurgência contra a dominação imperialista. O que seria, portanto, um avanço espetacular na luta de todos os oprimidos.

O curioso, no entanto, é que a esquerda brasileira não está comemorando a vitória do Talibã — alguns setores, inclusive, estão condenando-a. Para isso, usam todo tipo de pretexto: o Talibã seria um grupo muito agressivo com as mulheres, o Talibã foi financiado pelo imperialismo nas décadas de 1980, o Talibã seria um grupo terrorista etc. Todos “argumentos”, inclusive, que são tirados das páginas da revista Veja.

Quando esteve no governo, no final da década de 1990, o Talibã tinha uma política bastante reacionária em relação às mulheres? Sim, tinha, assim como todos os países do Oriente Médio. A Arábia Saudita, de onde surgiu o Talibã, tem uma política ainda mais agressiva até os dias de hoje. Tudo isso é o resultado inevitável do atraso econômico gigantesco da região, junto ao fato de que o próprio imperialismo, por diversas vezes, incentivou o estabelecimento de grupos com esse tipo de política para combater organizações mais progressistas que representavam uma ameaça ainda mais radical aos monopólios.

Mas o fundamental, nesta questão, é: a invasão imperialista trouxe algum progresso para as mulheres? Não, de forma alguma. A política de Estado não mudou radicalmente em relação às mulheres, ao mesmo tempo em que a intervenção bélica trouxe novos problemas, como a destruição da infraestrutura, da saúde etc. O que é apresentado como grande “mudança”, que seria o ingresso das mulheres nas instituições de ensino, foi garantido pelo Talibã após tomar novamente o poder.

Independentemente da política do Talibã em relação à mulher, o fato é que o grupo impôs uma derrota ao imperialismo — uma derrota que será sentida em todo o mundo. E uma vez que a libertação da mulher só é possível com a derrota do imperialismo, a tomada de Cabul pelo Talibã é um avanço na luta contra o maior inimigo da humanidade. Quem defende a mulher e é contra a vitória do Talibã ou defende conscientemente Joe Biden e o imperialismo, uma máquina de opressão da mulher, ou vive num mundo da fantasia de Djamila Ribeiro, segundo o qual bastaria excluir umas palavras do dicionário para acabar com toda a opressão.

As acusações que buscam vincular o Talibã à CIA e ao imperialismo são verdadeiras. De fato, a partir de 1979, os Estados Unidos financiaram vários grupos, sobretudo situados na Arábia Saudita, para combater a União Soviética, que havia invadido o Afeganistão para se proteger. O grande motivo do imperialismo era a preocupação de que, com a revolução no Irã, houvesse um levante generalizado na região. No entanto, uma vez cumprido o papel do Talibã em combater a União Soviética, o imperialismo abandonou todo o seu apoio. E não só isso: o Talibã, com apoio popular e moral alta devido à vitória contra os soviéticos, foi adquirindo uma posição cada vez mais anti-imperialista, quando viu que os Estados Unidos pretendiam avançar ainda mais sobre a região no enfrentamento com o Iraque.

O financiamento do passado nada tem a ver com a relação entre o imperialismo e o Talibã no presente. Estão de lados opostos, e é tão somente isso que importa. É um argumento tão ridículo como o de quem se recusa a usar um computador porque foi fabricado nos Estados Unidos.

Ficar contra o Talibã por ser “terrorista” já é uma declaração total de apoio ao imperialismo. É dizer que as guerras mundiais, a guerra no Iraque, a guerra no Afeganistão, os golpes de Estado, o holocausto e a fome não são “terrorismo”. Terrorismo seria quando dois flagelados explodissem uma bomba e fossem perseguidos até o fim da vida por isso.

A esquerda que chora pelo “desastre” no Afeganistão está chorando pelo desastre do imperialismo, pelo seu fim. Está despejando lágrimas em seu leito de morte. Nada têm de defesa do povo ou dos oprimidos, são carpideiras de um corpo apodrecido.

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