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Uma ideologia reacionária

Eles não querem queimar só o Borba gato, querem queimar o Brasil

Seguindo a política identitária as últimas consequências se deveria queimar Pedro Álvares Cabral, o Brasil nunca deveria ter existido e portanto, também não deve ser defendido

Diante do ataque a escultura do bandeirante Borba Gato em São Paulo uma grande polêmica surgiu na esquerda, dentro dela diversos aspectos foram levantados como a tática de atacar esculturas como ação política, o suposto radicalismo de uma ação como esta e o papel dos bandeirantes na história do Brasil. Contudo um dos principais aspectos que precisa ser debatido no que concerne a queima/derrubada das estátuas é o justamente alvo destes ataques, que em sua maioria são personagens de pouca relevância na política atual mas de extrema relevância na própria formação do Brasil, a investida contra as estátuas se configura mais como uma ofensiva a própria nação brasileira do que contra a opressão nos dias de hoje.

A política de derrubada de estátuas provem dos setores identitários dos EUA que ao longo das gigantescas manifestações de 2020 contra a repressão policial desviaram a atenção das pautas reais para os ataques a símbolos. A ideia chegou no Brasil no ano passado levantando um debate que se tornou de grande importância agora que de fato uma estátua foi queimada, mas fica claro que a mesma ideologia identitária permeia ambos os fenômenos. Nãos só isso como observando a reação da burguesia, de um apoio tácito e em alguns casos aberto, ao acontecimento é bem possível que o imperialismo esteja envolvido não só com sua campanha ideológica. O que nos leva a discussão inicial sobre o caráter do ataque a história nacional.

A escolha da estátua de Borba Gato na realidade demonstra o falso radicalismo do movimento, os bandeirantes são figuras históricas muito secundarias no que concerne a opressão a população brasileira, a sua participação mais agressiva durou algumas décadas, período em que eles escravizaram centenas de milhares de indígenas a mando dos senhores de terra, que são os reais responsáveis pelo ataque a população nativa. Mas não é só isso, dentre os bandeirantes Borba Gato foi um dos menos agressivos aos indígenas, ele viveu em um período em que a principal atividade realizada por estes paulistas era a procura de minérios preciosos, o próprio Borba Gato viveu mais de 15 anos em uma aldeia indígena quando estava foragido do governo colonial.

Além de o personagem em si ser secundário, a própria obra de arte não é considerada muito importante, a estátua de Julio Guerra é considerada por muitos estaticamente feia e de não muito destaque. Por sua vez o Monumento às Bandeiras de Brecheret é muito mais imponente, sendo provavelmente a mais importante escultura brasileira, e além disso é muito mais famosa e fica num ponto de destaque na cidade de São Paulo, um ataque sério se daria contra essa escultura pois teria um impacto muito maior.

Isso revela que não há nada de radical na ação realizada, foi escolhido um tema e uma estátua de última importância para fazer um golpe de marketing sem que houvesse uma grande reação negativa. Existem diversas estátuas no Brasil, até mesmo estátuas de figuras da ditadura militar como o marechal Castelo Branco que deu o golpe de 1964, derrubar essa estatua, seria um protesto real contra o governo fascista de Bolsonaro. Outras estátuas se destacam com as de D Pedro II, que foi o imperador do Brasil no auge da escravidão, um alvo que pareceria mais natural de se atacar mas que levantaria uma resistência de muitos setores conservadores. A realidade é que o ataque foi feito aos bandeirantes pois não houve coragem o suficiente para atacar o alvo de fato, Pedro Alvares Cabral.

O discurso dos identitários deixa muito claro que o navegador português é um dos principais inimigos, em muitos artigos “anti-estatuas” as esculturas de Pedro Alvares Cabral são citadas. Essa política também provem do identitarismo dos EUA que já tem a um longo tempo uma política de ataque a Cristóvão Colombo, apesar deste nunca ter pisado no país. A ideia por trás disso seria que a chegada dos europeus às Américas, e no nosso caso ao Brasil, que gerou toda a sociedade latino-americana atual, seria um momento de mal absoluto, o pior evento que já aconteceu em toda a história. Isso porque nos 500 anos que se passaram houve um gigantesco sofrimento para as populações indígenas e de negros.

O argumento em si é extremamente fraco visto que a história da civilização humana é uma história de sofrimento, as classes exploradas estão sempre em luta para sair desta situação e isso gera o progresso da civilização, não há nada que difira o que houve na América do que nos demais continentes do mundo. Mas o argumento furado tem um objetivo político, deslegitimar completamente a história e a cultura do Brasil, afinal tudo que veio após a chegada de Cabral, ou seja, quase a totalidade do que é brasileiro seria de certa forma moralmente errado porque proveio deste mal absoluto. Levando o argumento as últimas consequências o Brasil nunca deveria ter existido e portanto, também não deve ser defendido.

Ai que se encontra o ponto crucial, os identitários fazem um coro pela esquerda com o imperialismo contra a cultura e a história nacional aumentando a dominação que este tem de nosso país. A cultura nacional tende a ser demonizada, em vez de se exaltar as virtudes da sociedade brasileira, a miscigenação, o samba, a capoeira, o futebol etc se realiza um ataque confuso e moral a toda a história nacional. Queimar Pedro Alvares Cabral seria queimar tudo o que veio depois dele, e portanto queimar todo o Brasil. A política identitária é propagada pelo imperialismo justamente pois ela insere essa confusão para tentar fazer os próprios brasileiros se odiarem.

O ataque aos bandeirantes levou setores da esquerda a afirmar que todo a sua história teria um papel negativo, ou seja, seu principal legado, que foi a extensão territorial enorme do Brasil, não seria um progresso, um argumento absurdo. Contudo isso ainda se ofusca frente ao tamanho do absurdo que é o ataque a Pedro Álvares Cabral, afinal o legado deste é a própria nação brasileira. A classe operária é a única capaz de superar não só a opressão atual do capitalismo, mas todos os vestígios de opressão deixados ao longo da história do Brasil, contra os indígenas, contra os negros, contra as mulheres e todos os setores oprimidos. A luta dos trabalhadores não passa nem perto do identitarismo, ela se dá sim contra o expoente dessa ideologia, o imperialismo.

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