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Abram os olhos!

É preciso acabar com as ilusões sobre uma direita “democrática”

Nem FHC, nem Renan Calheiros, nem qualquer golpista ajudará a luta dos trabalhadores avançar

O encontro do ex-presidente Lula com o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso despertou um conjunto de reações no interior da esquerda nacional. Nada mais natural: Lula é o político mais importante do País, e o seu encontro com um dos piores presidentes que o País já teve merece ser cuidadosamente analisado. Um setor aproveitou o encontro para atacar a candidatura de Lula. Seria essa a prova cabal de que Lula é um “oportunista”, alguém que não mereça confiança alguma das massas. Já para outro setor, o almoço entre Lula e FHC seria o elemento que estaria faltando para a derrota do bolsonarismo.

Ambas as concepções estão equivocadas. Porque ambas consideram as ideias e as posições individuais de Lula como aquilo que seria mais importante para definir um governo. Ignoram, portanto, o papel das classes sociais na luta política. Lula admirar FHC ou querer uma aliança com ele não torna o conteúdo de sua candidatura mais ou menos direitista. Assim como Lula e FHC almoçarem juntos não torna a aliança entre ambos viável.

Lula e FHC são expressões de forças sociais muito acima de suas cabeças. Lula representa o movimento operário que vem da luta contra a ditadura militar. Um movimento já bastante antigo, de massas e que passou por experiências bastante radicais. Esse mesmo movimento, hoje, se funde com o movimento da luta contra o golpe, que tanto tem radicalizado os setores que lutaram contra a ditadura, como também tem servido de ponte entre a geração atual e o movimento lulista. FHC é o exato oposto de tudo isso. É um representante dos bancos, que tanto financiaram a ditadura, como são os grandes responsáveis pelo golpe de 2016. As massas que apoiam Lula estão cada vez mais revoltadas com o golpe; a classe que FHC representa, por outro lado, quer aprofundar o golpe.

Esse mesmo erro de análise, focada no que pensam os indivíduos, e não nas classes que representam, pode ser visto em vários outros casos. Um dos que mais chamou a atenção recentemente foi o da ex-presidente Dilma Rousseff, que, em entrevista à DCM TV, disse que Renan Calheiros não seria golpista. O motivo para tal consideração seria o fato de que Renan Calheiros teria mais interesses em comum com o PT do que outros oligarcas nordestinos, como, por exemplo, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Todos esses interesses, no entanto, são extremamente superficiais. Vale lembrar, inclusive, que Renan Calheiros, embora não tenha feito campanha aberta como Jair Bolsonaro ou Aécio Neves (PSDB-MG), votou a favor do impeachment.

Mesmo que não tivesse votado a favor do golpe, Renan Calheiros não deixaria de ser um inimigo da esquerda. Para ser contra o golpe, não seria preciso ser um revolucionário, bastaria fazer o cálculo de que quem quer o golpe de Estado quer, também, destruir a indústria nacional, com a qual políticos como Renan Calheiros têm uma ligação forte. Mas para que, de fato, fosse um aliado na luta contra o golpe, seria necessário muito mais.

A luta contra o golpe não é uma questão individual. A burguesia de conjunto havia determinado que o PT deveria ser esmagado, e a fidelidade do político à burguesia é mais poderosa do que a propensão individual. O dirigente de esquerda consegue ter uma posição firme de oposição ao que a burguesia quer quando ele tem o apoio das massas. Lula pode, de fato, se colocar contra o golpe porque tem, em sua retaguarda, milhões de trabalhadores. Já Renan Calheiros é um dirigente de si próprio — é incapaz, portanto, de resistir a toda a pressão que a burguesia coloca sobre seus ombros. Basta lembrar, por exemplo, que, no momento em que Renan Calheiros estava atrapalhando os planos do imperialismo no Senado, a burguesia, via STF, ordenou sua prisão.

Renan Calheiros não vai servir ao PT contra a burguesia, não porque ele pensa de um jeito ou de outro, mas pela própria necessidade da burguesia. Ele, como todo político burguês, é uma pessoa comprometida com a burguesia. Para que ele estivesse de fato ao lado do PT, ele precisaria romper com a burguesia, ou a burguesia precisaria, por algum motivo, estar apoiando o PT, o que é absurdo.

No fim das contas, o que aconteceu no golpe de 2016 é o mesmo filme que deverá passar em 2022. A direita nacional pode até não querer que Bolsonaro seja reeleito. No entanto, como a burguesia não está disposta a permitir que o PT chegue ao poder, a burguesia vai forçar a todos os seus a apoiarem a extrema-direita.

A burguesia só permite a esquerda vencer as eleições quando ela está interessada em controlar o movimento radical dos trabalhadores. Quando a situação é tão explosiva que a esquerda precisa assumir para acalmar os ânimos. Quando a vitória da esquerda é compreendida como um “mal menor”, diante da possibilidade de uma insurreição. O momento, no entanto, não é este. A burguesia está atrás de um governo que possa aplicar todo o programa monstruoso que a crise capitalista exige. Um governo que possa aplicar uma reforma da Previdência ainda mais profunda, que destrua de vez a CLT, que acabe com todo o patrimônio nacional, que não deixe pedra sobre pedra. Com um governo da esquerda, tal programa seria inviável.

É por isso que a esquerda tem que acabar com as ilusões. A política não é uma operação de soma, de aritmética. A direita mais a esquerda não vai dar positivo pra esquerda, não vai somar. Seja com Renan Calheiros, seja com Fernando Henrique Cardoso, a política de boa convivência só leva a um resultado: a desmoralização da esquerda perante as massas. É a chave para que a direita, mesmo odiada, consiga derrotar a esquerda. Ao aparecer ao lado de bandidos políticos como FHC e Renan Calheiros, a esquerda estará prestando um serviço a um partido falido como o PSDB ou o MDB e um desserviço a si mesma.

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