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Cultura do cancelamento

Caso Johnny Depp revela o perigo da caça às bruxas identitária

A cultura do cancelamento tem imitado comportamentos que eram comuns nos tempos da caça às bruxas. Direitos básicos, como o amplo direito à defesa, são completamente ignorados

Entre os dias 11 de abril e 27 de maio deste ano, ocorreu o julgamento de difamação de Johnny Depp e Amber Heard no Tribunal do Condado de Fairfax, na Virgínia, EUA.

O caso

Depp e Heard começaram a namorar em 2012 durante as filmagens de Diário de Um Jornalista Bêbado, alguns anos antes. Em 2015, eles se casaram e permaneceram juntos até 2016, onde deram entrada no divórico que, em 2017, foi finalizado.

Na época, Heard alegava que Depp havia lhe agredido física e verbalmente. A atriz relatou que foi brutalmente espancada por Depp em várias ocasiões e protocolou um pedido de medida protetiva contra ele. Ela acusa Depp de “abuso emocional, verbal e físico excessivo, agressões raivosas, hostis, humilhantes e ameaçadoras”.

Em decorrência disso, Depp foi prontamente excluído de todas as produções nas quais participava ou iria, no futuro, participar. Seu contrato em Piratas do Caribe foi cancelado, bem como em um filme spin-off de Harry Potter. Efetivamente, Depp foi excluído da sociedade, sendo constantemente atacado pela grande imprensa que não poupou esforços para fazer um ponto acerca da suposta violência doméstica que havia cometido.

O julgamento

O julgamento em questão não diz respeito, pelo menos não de maneira direta, à materialidade ou não do abuso o qual Heard acusa Depp. É, na realidade, um processo movido por Depp que acusa Heard de difamação e calúnia em decorrência de uma matéria de sua autoria publicada no Washington Post, um dos maiores jornais imperialistas do mundo, em 2018.

Intitulado Amber Heard: eu me manifestei contra a violência sexual – e enfrentei a fúria de nossa cultura. Isso precisa mudar, o artigo de opinião, na voz de Heard, conta a história da atriz no que diz respeito às violências que já sofreu. Ao mesmo tempo, faz um propaganda em prol do movimento #MeToo que, na época, infestou a imprensa burguesa americana como o principal porta-voz da política identitária.

Entretanto, na contramão do que massivamente propagandeou a imprensa imperialista, as sessões estão mostrando de maneira clara que toda a perseguição a Depp não passou de uma grande farsa.

Afinal, a equipe de Depp trouxe ao julgamento fotos, gravações, testemunhas, depoimentos, documentos e inúmeras provas de que Heard promoveu um regime de abuso físico contra o ator durante os últimos anos de seu relacionamento. Ao mesmo tempo, os advogados de Heard não trouxeram absolutamente nada concreto. Após uma encenação da atriz que, diga-se de passagem, não foi a melhor de sua carreira. Fato que chamou a atenção de milhões de internautas nos últimos dias.

Nesta terça-feira (01), o júri chegou finalmente a uma decisão. Por unanimidade, considerou Amber como culpada de difamação e decidiu que a atriz deveria pagar 15 milhões de dólares ao ator. Depp, por sua vez, também foi considerado culpado por difamação. A diferença é que o processo veio em decorrência de uma alegação de um antigo advogado seu. Ele foi obrigado a pagar 2 milhões de dólares à atriz.

Uma campanha maior do que Depp e Amber

À medida que o tempo passa, fica cada vez mais evidente o tamanho da farsa das acusações contra Depp. Aqui, é preciso entender que não se trata de um caso isolado, mas sim de uma campanha firme orquestrada pelo imperialismo para impor um regime autoritário à luz do identitarismo. Uma campanha que, nos últimos anos, tomou a forma da chamada “cultura do cancelamento”, na qual “cancela-se” aqueles que se colocam contrários ao imperialismo sob o pretexto de pautas supostamente humanitárias.

Algo que, inclusive, já se tornou um modus operandi do imperialismo, principalmente o americano. Tanto é que, em diversas ocasiões, já utilizaram a questão da mulher – como demagogia – para atacar outras figuras que, diferente de Depp, representam um enfrentamento à hegemonia imperialista. Nesse sentido, Depp é um peixe pequeno da operação, um mero efeito colateral de uma luta política que pretende atingir todo o mundo.

É o caso de Julian Assange, fundador do Wikileaks, portal que trouxe à tona os crimes de guerra grotescos que o imperialismo cometeu no Iraque. Mais tarde, Assange foi perseguido pela justiça sueca sob acusações de estupro e agressão sexual. Até o momento, permanece preso e está sendo vítima de um processo de extradição aos EUA. Uma enorme farsa para calar a voz que mostrou ao mundo o tamanho da monstruosidade do imperialismo.

No final, é um pretexto que invariavelmente se volta contra as forças progressistas do mundo, contra todos aqueles que enfrentam a hegemonia do imperialismo no mundo. E mais: é baseado em um malabarismo lógico incrível, que parte do pressuposto de que as mulheres nunca mentem. Decerto que Margaret Thatcher, Angela Merkel, Kamala Harris e outras são bastiões da honestidade.

O que diz a imprensa?

Uma forma importante de analisar os acontecimentos de qualquer sorte, é por meio da imprensa burguesa. Afinal, ela é a principal representante da ideologia da burguesia e, portanto, noticia os fatos segundo os seus interesses de classe.

Concordando com a análise apresentada neste artigo, a imprensa capitalista de todo o mundo ficou ao lado de Heard, apelando, como era de se esperar, para o identitarismo, para a “luta da mulher”.

Foi o caso, por exemplo, da Folha de S. Paulo, no artigo intitulado Johnny Depp fez de Amber Heard uma vilã megera em júri circense e da revista Isto É. Fica claro que são todas declarações não à favor da mulher, mas sim à favor da repressão contra todos aqueles que se colocam contrários ao identitarismo e à sua bizarra ideologia.

O resultado mostra: foi uma farsa

Agora, com o resultado do julgamento, a farsa foi desmascarada. Entretanto, assim como disse Depp, isso lhe custou “nada menos do que tudo”. Sua reputação, portanto, estará para sempre manchada.

Entretanto, o problema não é esse. Depp não é, de maneira alguma, uma figura importante para a luta dos oprimidos. Entretanto, Assange é. Assim como outras pessoas e instituições que também foram alvo da caça às bruxas do identitarismo.

E, na justiça burguesa, precedentes são extremamente valiosos. São a base da política burguesa de “comer pelas beiradas”. Julga-se um caso que, aparentemente, não tem nada a ver com demais lutas políticas e firma-se uma decisão que, futuramente, será utilizada como base para campanhas da burguesia mais importantes e delicadas.

É o que aconteceu aqui no Brasil, com a operação Lava-Jato, por exemplo. A luta inicial era, aos incautos da esquerda pequeno-burguesa, justa e razoável. Afinal, todos deveriam ser contrários à corrupção. E onde foi parar? No golpe contra Dilma e na prisão de Lula.

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