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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Abutre antipetista

Candidatura de Jones Manoel serve à direita contra o PT

Youtuber fez carreira atacando Lula e o Partido dos Trabalhadores e agora foi alçado a pré-candidato ao governo do Estado para cumprir o papel que o PSOL sempre desempenhou

jones

Quem se lembra do saudoso jingle do candidato José Maria Eymael — “Ey, Ey, Ey-mael, um democrata cristão —, agora poderá cantar a sua versão identitária — “Jo-nes Ma-noel, um abutre antipetista”. Ao menos, aquele cujo título de eleitor estiver registrado em Pernambuco.

Recebido com pompas e circunstâncias pela imprensa psolista — Jornalistas Livres e Revista Fórum —, o youtuber do PCB, Jones Manoel, lançou sua pré-candidatura ao governo pernambucano. Seu programa? Ninguém sabe, como é típico dos políticos artificiais como Guilherme Boulos. Na falta de um programa, seus apoiadores despejam os chavões de um trailer de chanchada: “o mais jovem pré-candidato da história”, “o mais negro”, “o mais trabalhador”, “o maior cabelo” etc.

Ser pré-candidato ao governo de um Estado e ser jovem não é necessariamente um atestado de que mereça qualquer confiança. Basta lembrar que o governador mais jovem da história é o vigarista Eduardo Leite — mais conhecido como “BolsoLeite” ou “BolsoGay” — o carrasco dos professores e funcionários públicos do Rio Grande do Sul. O carimbo de “negro” também não diz nada a respeito do seu programa — tanto é negro o militante de base André Constantine, do PT, como é negro o fascista Sérgio Camargo, capacho do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro.

Porque Jones é considerado o único “trabalhador”, também não se sabe. Seu nome não consta na folha de pagamento da Petrobras, da Volkswagen ou de qualquer fábrica. A não ser que ele se considere “trabalhador” do PSB, o partido que lhe emprega no portal Socialismo Criativo. Neste caso, é tão “trabalhador” quanto o também pré-candidato Geraldo Julio, prefeito do PSB e dirigente do partido.

Por trás dessa enrolação do mais isso e mais aquilo, a pré-candidatura de Jones Manoel oculta o verdadeiro interesse ao qual defende.

Em entrevista à Fórum, Jones Manoel declarou que o objetivo de sua pré-candidatura seria construir uma tal “frente de esquerda popular e radical em Pernambuco”. Faltou dizerem a ele, contudo, que o PSTU já fala isso há duas décadas. Qual seria a diferença, portanto, da pré-candidatura de Jones Manoel para o peleguismo com verborragia radical do PSTU?

Não há diferença. E para constatar isso, basta ver o que Jones Manoel propõe. Se o objetivo é formar uma frente “popular” e “radical”, qual a opinião dele sobre uma frente em torno da candidatura do ex-presidente Lula, que é o líder mais popular do País e, talvez, a maior liderança operária do planeta? O que pensa Jones Manoel sobre os atos Fora Bolsonaro, que estão sendo assassinados pelas direções da esquerda nacional, incluindo o seu próprio partido? Qual a posição do youtuber a respeito da política de frente ampla, saudada pelo secretário-geral de seu partido, Edmilson Costa, durante o papelão do “superpedido de impeachment“, e defendida pelo seu ídolo nacional, Guilherme Boulos?

A resposta para tudo é… o mais absoluto silêncio. É um discurso vazio. Uma “frente radical” contra ninguém, pois Jones Manoel tem rabo preso com os vigaristas da ala direita da “frente ampla” (PSB, Folha de S.Paulo e Rede Globo). Uma “frente popular” sem ato de rua, uma vez que o youtuber simpático ao abutre Ciro Gomes (PDT) não defende as manifestações populares contra a direita golpista e canalha. Uma “frente em Pernambuco” que não tem a ambição de travar uma luta nacional, já que Jones Manoel se recusa a apoiar Lula e a luta contra o golpe, e que, portanto, será inevitavelmente uma frente eleitoreira, pois nenhum interesse sério dos trabalhadores está circunscrito a uma disputa paroquial. Uma “frente de esquerda”, portanto, que passa pano para a direita, abre as ruas para a direita e deixa as urnas nas mãos da direita para manipular as eleições como bem entender.

A tal “frente radical” de Jones Manoel seria, na melhor das hipóteses, uma conversa para boi dormir. Mas não se pode cogitar a melhor hipótese neste caso.

Na mesma entrevista à Fórum, Jones Manoel declara que pretende formar a sua frente com a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), o PSOL, o MTST e companheiros do MST e movimentos de cultura. O MST entra aí por pura demagogia — o movimento é bastante heterogêneo politicamente e sua política pode variar bastante, a depender do seu dirigente local. Em Pernambuco, por exemplo, seus dirigentes são bastante ligados ao patrão de Jones Manoel, o PSB. Mas o restante dos “aliados” de Jones Manoel são os eternos companheiros do PCB. São os satélites do PSOL, que se consolidou como o astro-maior de todos esses grupelhos durante a candidatura de Guilherme Boulos a prefeito de São Paulo ─ da qual Jones foi garoto propaganda, viajando inclusive a São Paulo para a campanha. É o conjunto mais bem acabado da esquerda pequeno-burguesa — isto é, de classe média — antipetista, que sabotou as candidaturas do PT em 2020, boicotou a luta pela liberdade de Lula e foi a favor do golpe de 2016.

A esquerda antipetista nada tem a ver com o povo — é uma espécie de grife que está sendo promovida pela imprensa burguesa justamente para impedir o desempenho eleitoral do PT. Basta ver a maneira como O Globo e a Folha de S.Paulo tratam os circos organizados pelo MTST e as pataquadas de Guilherme Boulos, para ver que isso tudo está a anos-luz de uma esquerda verdadeiramente combativa.

E a CUT, a maior central sindical da América Latina, uma das mais importantes conquistas da classe operária brasileira do século XX? O youtuber sequer menciona. E não é à toa: Jones Manoel segue a política inaugurada pelo PSTU e seguida pelo PSOL e pelo PCB de formar “centrais sindicais revolucionárias”. Isto é, de sabotar a unidade da classe operária em uma central sindical poderosa capaz de organizar uma greve geral. O “socialismo” que Jones Manoel pretende construir em Pernambuco é, portanto, um “socialismo” construído nas universidades, sem a participação dos mais importantes setores da classe operária. E é justamente por esse caráter acadêmico de sua candidatura que Jones Manoel encontra tempo em sua entrevista à Fórum para se queixar de que o PSB é “inimigo da natureza” e que não há uma “política efetiva de combate ao racismo estrutural, ao patriarcado, ao machismo e à LGBTfobia (sic)” em Pernambuco, mas esse discurso identitário é incapaz de defender o candidato mais popular do País, o fim da Polícia Militar, a expropriação do latifúndio ou qualquer outra medida concreta.

E o PT?

Surpreendentemente, Jones Manoel considera o PT em seu arco de alianças. Mas isso não o redime, de forma alguma, de seu apoio ao golpe. Pelo contrário: expõe todo o caráter oportunista de sua política em relação ao partido do ex-presidente Lula.

Segundo o youtuber do PCB disse à Fórum, “a tendência é o PT sair junto com o PSB”. Isto é, o PT, de acordo com Jones Manoel, não teria candidato em Pernambuco. Para os trabalhadores, se tal coisa fosse verdade, seria um desastre, pois eliminaria qualquer chance de a esquerda vencer as eleições em um dos mais importantes Estados do País, deixando o caminho livre para o mais parasitário candidato que a burguesia encontrar. Para a burguesia e para a esquerda antipetista, a notícia seria maravilhosa: ambas comungam da ideia de que o maior entrave para os seus objetivos é o PT.

O PT abrir mão de sua candidatura seria o mesmo que deixar o caminho aberto para a máfia da família Campos, do tucano Armando Monteiro — diretor do instituto onde Guilherme Boulos e Juliane Furno, de quem Jones Manoel é um apêndice, trabalham —, de Jarbas Vasconcelos (MDB) e de Mendonça Filho. Mas o esquerdista antipetista acredita — ou finge acreditar — que a destruição do PT levará inevitavelmente ao triunfo de um grupelho pequeno-burguês e artificial como o seu. Jones Manoel mal consegue conter sua empolgação com tal possibilidade.

No entanto, o estagiário do portal do PSB revelou à Fórum não só a sua disposição em fazer frente com a direita para atacar o PT, mas também o seu extraordinário talento para o abutrismo. Após agourar tanto o PT, torcer tanto para a aposentadoria do “coroa de Garanhuns” e vibrar com as campanhas contra o governo de Dilma Rousseff, Jones Manoel tem a cara de pau de pedir voto para… o eleitor do PT!

“E estamos chamando também as bases do PT”, disse o youtuber. Segundo ele, “vários e várias lutadores e lutadoras do PT não aguentam mais o PSB, (…) então estamos chamando os militantes petistas insatisfeitos com um acordo com o PSB para se somar à nossa pré-candidatura, para construir esse programa socialista, radical e popular para Pernambuco”.

Se o Jornalistas Livres destacou a “juventude” do pré-candidato a governador Jones Manoel, o que realmente merece destaque é conseguir, com uma carreira tão curta, ser mais cínico do que Ciro Gomes. O pedetista, ao menos, guarda um pouco de sua autenticidade quando xinga os petistas de “fascistas vermelhos”, demonstrando tanto desprezo pelos eleitores de Lula quanto pelo próprio Lula. O youtuber, no entanto, vai além: ajuda a esfaquear a vítima e depois vai consolar a viúva.

Aparte seu espetáculo de cinismo, seu cabelinho da moda e os jograis do batuque da UJC, Jones Manoel não traz qualquer novidade na política nacional ou mesmo na política pernambucana. Seu papel é o mesmo que o dos psolistas Guilherme Boulos, Heloísa Helena, Luciana Genro, Edilson Silva (hoje no PCdoB) ou Dani Portella: atacar o PT e tentar abocanhar seu eleitorado.

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