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Campanha eleitoral

Boulos, PSOL e MTST substituem a luta por golpes de publicidade

Grupinho "invadiu" a sede da Bolsa de Valores de São Paulo, sem qualquer resistência, e arrancou elogios da Folha de S.Paulo

Na tarde desta quinta-feira (23), um grupinho de pessoas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) invadiu, sem qualquer resistência, o prédio B3 da sede da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Segundo divulgado pela entidade por meio das redes sociais, a invasão teria sido um “protesto” contra a fome. A ação logo recebeu elogios de Guilherme Boulos e de outras figuras de peso do PSOL, como a deputada federal Sâmia Bomfim.

E não foram só os parlamentares do PSOL que se comoveram com a cena. A própria imprensa golpista retratou a invasão do prédio da Bovespa com a mesma doçura com que trata a privatização de alguma coisa que o PSDB não tivesse privatizado ainda. O Estado de S. Paulo chamou o grupo de manifestantes — e não de invasores e bandidos, como normalmente chamam os militantes da luta pela terra —, enquanto a Folha de S.Paulo fez questão de destacar que o ato era pacífico.

Qual seria então a “genialidade” do MTST? Como foram capazes de invadir um prédio e receber da imprensa golpista o mesmo tratamento que a direita golpista recebeu quando saiu às ruas para derrubar o governo do PT? Por que, em vez de reprimir brutalmente a manifestação, a burguesia deixou essa farra acontecer dentro de sua casa?

A resposta é simples, e não tem coisa alguma a ver com genialidade ou milagres. A burguesia deixou rolar porque a ação não lhe causa prejuízo algum. A “invasão” do prédio da Bovespa — que, diante da ausência de qualquer resistência, poderia ser mais propriamente chamada de “passeio” — não colocou sob risco a política e a dominação da burguesia. O MTST entrou e saiu e a situação permanece exatamente a mesma.

Se a manifestação de nada vale, qual o seu intuito, então? Ora, o único intuito possível para atos “simbólicos”: a promoção de um determinado grupo com objetivos eleitorais. Isto é, a única coisa para a qual esse tipo de “invasão” serve é apresentar o MTST como um grupo “radical”, “disposto”, o que interessa particularmente para a imagem do pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, que controla a entidade.

Para que de fato a iniciativa do MTST fosse séria, como a ação deveria proceder? Há várias possibilidades. Se o grupo é composto por famílias que estão passando fome, o MTST poderia, por exemplo, organizá-las para saquear um supermercado, o que resolveria, de uma maneira mais imediata, o problema em questão. Se o objetivo é resolver o problema por meio de uma forma mais política, o que poderia trazer um resultado mais amplo, o MTST poderia organizar essas pessoas para ocupar a prefeitura de São Paulo e exigir o cumprimento de um conjunto de reivindicações.

O MTST poderia, inclusive, organizar uma invasão do prédio da Bovespa, como também do Banco Itaú, da FIESP ou de qualquer outro prédio que desempenhasse um papel importante para a burguesia. O raciocínio, até aí, não é de todo errado: se a fome é o resultado da política neoliberal, e a política neoliberal é impulsionada e financiada pelos operadores da Bolsa de Valores, logo, pressionar esses agentes levaria a algum benefício para o conjunto da população. O problema, no entanto, é como pressionar? Um passeio por um supermercado não vai encher a barriga de nenhum sem teto, seria preciso saqueá-lo. Assim como um passeio pela prefeitura não irá garantir uma única cesta básica, é preciso ameaçar quebrar tudo caso o prefeito não cumpra com as reivindicações.

É aí que a “invasão” do prédio da Bovespa se torna ridícula. Como o MTST espera pressionar os capitalistas se entraram e saíram ordeiramente? Não quebraram uma única vidraça, não causaram dano algum. Os manifestantes não deixaram o prédio após um acordo, simplesmente foram embora porque já deram por missão cumprida ter aparecido na televisão e feito um discurso vazio no meio do saguão onde ficam os operadores.

A preocupação com o “simbólico” é tão grande que o MTST levou ossos de carne para a ação, de modo a protestar que “até osso que era dado em açougue agora é vendido”. Foi uma espécie de teatro, uma forma de chamar a atenção. Para a Bovespa, no entanto, não significou nada. Segundo nota, “a manifestação nesta tarde ocorreu de forma pacífica e já foi encerrada, não tendo havido impacto para as operações de mercado”.

Essa não é, nem de longe, a primeira ação “simbólica” organizada pelo MTST ou por Guilherme Boulos. Em agosto, um grupinho autodenominado “Revolução Periférica”, ligado ao MTST, ao PSOL e ao próprio Boulos, tentou queimar a estátua do bandeirante Borba Gato. Segundo um dos envolvidos, o objetivo seria “abrir o debate”. Em 2018, Guilherme Boulos organizou a “invasão” de um triplex no Guarujá que havia sido utilizado para incriminar o ex-presidente Lula.

Em ambos os casos, o conteúdo real da ação veio à tona. Boulos “invadiu” o triplex logo após a prisão de Lula porque não moveu uma palha para defender o ex-presidente. Agiu “simbolicamente” porque, na prática, não fez absolutamente nada. Pior: lançou sua candidatura presidencial para tentar roubar o eleitorado de Lula e não participou de um único ato em Curitiba pela liberdade do ex-presidente. Da mesma forma, a “Revolução Periférica” tentou queimar o “genocida” (sic) Borba Gato porque naquele mesmo dia o MTST, Boulos e o PSOL defenderam a participação dos verdadeiros genocidas nos atos Fora Bolsonaro.

O tal do “ato simbólico” é, portanto, um nome bonito para a pelegagem. Como Guilherme Boulos defende uma política muito direitista, que é a da submissão da esquerda à burguesia por meio da “frente ampla”, como defende uma esquerda ordeira e pacífica enquanto os trabalhadores vão sendo esmagados, organiza uma “luta” que não é luta nenhuma. Imagina-se até como é que são as reuniões preparatórias dessas ações: “gente, vamos invadir a sede do genocídio brasileiro, mas não é para quebrar um único telão, não é para esbofetear um único almofadinha, nem roubar um único copo. Entrem, saiam, depois votem em mim que vai dar tudo certo”.

Há ainda uma última coisa que precisa se respondida. Que Boulos e o PSOL não tenham nada de revolucionário, isso já foi devidamente esclarecido. Agora, mesmo que não cause dano, por que a burguesia resolveu dar tanta “colher de chá” assim? Porque a questão vai além de “não incomodar”. Para a burguesia, ter uns paspalhões de plantão como Guilherme Boulos, que estejam dispostos a fazer esses circos só para sair na televisão, é algo útil. A burguesia manipula sua marionete Boulos, que por sua vez manipula, através de um aparato extremamente burocrático, alguns pobres coitados que merecem algo concreto, não simbólico. Isso é útil porque confunde os setores mais atrasados da esquerda nacional e impõe um obstáculo para que os setores verdadeiramente combativos da esquerda apontem o caminho correto, que é o da mobilização contra a burguesia.

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