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Sem pé, nem cabeça

Acabar com a OTAN sem apoiar a Rússia?

Partido Revolucionário Operário (POR) propõe acabar com a OTAN, ao mesmo tempo que propõe a derrota das tropas russas na Ucrânia. Faltou explicar como faz isso na prática

A operação militar russa na Ucrânia completou pouco mais de um mês e meio – iniciada em 24 de fevereiro – e descortinou para o mundo a maior crise da dominação imperialista das últimas décadas, talvez a maior desde o surgimento do imperialismo. A Rússia desafiou a ditadura da burguesia imperialista internacional e ocupou vastos territórios na Ucrânia com vistas a garantir sua segurança como país, de seus habitantes e de russos na Ucrânia principalmente.

A crise é acompanhada pelas ações desesperadas das instituições imperialistas para amenizar o estrago, como a velha propaganda de guerra tocada pelos monopólios das comunicações internacionais, os quais servem como autarquias do Departamento de Estado norte-americano, reproduzindo bovinamente a cartilha do Pentágono. A cartilha diz “Putin, ditador”, “A Rússia é dominada por Putin e seus aliados autocratas”, “A Rússia está atacando civis, está cometendo crimes inimagináveis contra os ucranianos” etc. Todo esse roteiro reproduzido há décadas contra seus adversários como contra os chineses, norte-coreanos, vietnamitas, iraquianos, iranianos, venezuelanos, cubanos, sérvios, líbios, sírios e, agora, os russos.

Como dito, é um roteiro há muito tempo reproduzido e que não deveria ser surpresa para a esquerda, a qual deveria, ao menos, reconhecer há quilômetros o imperialismo como inimigo definitivo da classe operária mundial. Isso seria algo minimamente aceitável para qualquer esquerdista, mas quando nos referimos a um setor que se diz revolucionário deveria ser um dos pilares, na elaboração de uma política para o proletariado.

No começo deste mês o Partido Operário Revolucionário (POR) publicou um artigo, de título “Um mês de guerra”, no qual busca fazer uma avaliação da operação russa na Ucrânia, se dispondo a dar uma “orientação” quanto à natureza do conflito e as motivações das forças envolvidas.

Na parte inicial do texto já há uma caracterização do conflito no trecho “O povo ucraniano, os explorados europeus e de todo o mundo arcam com a guerra de dominação”, no qual o termo guerra de dominação serve para atacar a ação militar russa como tendo um propósito “ruim, mal” a dominação, subjugação de um outro país e seu povo. Uma argumentação de caráter moral e que não tem grande valia para entender a política real, principalmente porque o que está em questão não é uma “vontade, um desejo” dos russos de dominar o país vizinho, mas sim responder a uma grande provocação que vem sendo montada há anos pelo imperialismo, que arma a Ucrânia e financiando mercenários com objetivos claros de atacar a Rússia.

O argumento da dominação russa não se sustenta sob nenhum aspecto. No campo econômico a Rússia como uma grande fornecedora de matérias-primas, principalmente, energéticas não está em território ucraniano para dominar nenhum mercado em particular, até porque Rússia já era o principal parceiro comercial da Ucrânia, mesmo após o golpe de 2014. Também pelo âmbito militar não há nenhum sinal de que os russos estejam se apossando definitivamente do país, o que nos últimos dias ficou muito claro com o recuo das tropas da região de Kiev e cerco aos bolsões de militares ucranianos no leste, bem como a ausência de uma invasão massiva do território, como afirmado pelo próprio Putin desde o início da operação aonde deixou claro que os objetivos são a desmilitarização do país.

É o tipo do argumento equivalente aos que caracterizam a Rússia como um país imperialista, por estar atuando além das suas fronteiras. O que não faz o menor sentido, pois o país não possui o controle dos monopólios econômicos internacionais, em nenhum mercado, mesmo estando entre os maiores produtores de energia do mundo. Esse suposto poderio não se justifica pelo seu poder militar, pois o controle definitivo do mundo é feito pela burguesia imperialista internacional em primeiro lugar com o controle dos mercados e não somente com as armas. Isso é reafirmado com a série de sanções impostas ao país pelo imperialismo, apesar de não terem surtido o efeito desejado. Um país imperialista, detentor do controle de mercados inteiros não seria sancionado, mas sim estaria na posição oposta.

Outro aspecto de confusão citado no texto é “Prolongar ou abreviar a guerra, infelizmente, depende apenas das forças burguesas envolvidas na guerra comercial e na escalada militar”.

Novamente afirma-se aqui que os russos seriam uma das partes da guerra comercial entre a burguesia dos respectivos países (EUA, União Europeia, China e Rússia), o que em parte naturalmente é verdade pois o governo russo, assim como o de 99% dos países do mundo é burguês. Mas, a afirmativa é colocada no texto para caracterizar que o governo russo e sua ação na Ucrânia não pode ser apoiado pelos trabalhadores, por ser burguês. O que é de uma miopia acentuada, pois mesmo sendo burguês um determinado governo pode realizar uma política que seja progressista para o país, o que é exatamente o caso em questão. O governo Putin está realizando uma exitosa, até o momento, operação de enfrentamento ao imperialismo mundial, o que por si já é um grande fator de progresso para o país, pois afastar as garras do imperialismo da economia nacional é o que de melhor pode acontecer para um país dentro do sistema capitalista, no qual as condições para revolução proletária não estão dadas. E os frutos já estão sendo colhidos, com a possibilidade de apropriação do patrimônio dos monopólios que deixaram o país, o que pode ajudar a desenvolver setores da economia russa.

O texto segue na sua caracterização do conflito, com a evocação de “mantras” sempre utilizados quando se quer justificar conclusões que estão longe da realidade dos acontecimentos como “é preciso uma política independente dos trabalhadores e uma luta unitária”. Isso para introduzir o ponto mais importante da questão “que não devemos apoiar a Rússia”.

Na sua parte final a proposta para “resolver o conflito” é que revela a real intenção do texto. Evocando novamente “o nome sagrado” dos explorados, afirma-se que para estes a prioridade seria cessar imediatamente a guerra do que se propõe a o desmonte da OTAN, revogação das sanções econômicas, autodeterminação, unidade territorial e retirada das tropas russas.

Novamente assim como faz a esquerda “nem, nem” que se coloca em cima do muro e pula nos braços do imperialismo, os camaradas “revolucionários” do POR fazem semelhante ao propor o fim da política mais beligerante existente no imperialismo atual, a atuação e o avanço da OTAN pelo leste europeu, a partir da saída das tropas russas da Ucrânia. O que leva a qualquer pessoa de mínimo senso prático a perguntar, como isso poderia ser feito?

Já que os camaradas resolveram chamar, ou melhor reproduzir o termo imperialista de guerra da Ucrânia, deveria ter sido apresentada pelos mesmos como uma guerra é resolvida com a retirada de tropas de um dos lados? Sem que haja, de fato, no campo de batalha, uma derrota implicada? Como é possível?

Será que as mais de três décadas de avanço militar da OTAN, não só do leste europeu, mas praticamente circundando toda a Rússia, todas as promessas e acordos quebrados, todas as negativas de negociações pelo imperialismo não são suficientes para esclarecer que o conflito armado é resultante das agressões continuadas contra as fronteiras russas?

De fato, a proposta do texto para a resolução do conflito, mostra que estamos novamente diante de setores da esquerda que perderam o rumo completamente da luta dos povos e países oprimidos contra o imperialismo, que este seria o maior inimigo da classe trabalhadora dos nossos tempos, aliás, há mais de 120 anos. Colocações como estas, que caracterizam um país oprimido pelo imperialismo, que está sendo acossado há décadas, como um equivalente, como igualmente agressor, além de confundir completamente os trabalhadores, contribui junto com a propaganda imperialista para manter a paralisia no movimento operário organizado, por exemplo, e joga boa parte destes nos braços da propaganda de guerra da imprensa monopolista internacional.

Além disso, mostra que não há uma avaliação mais aprofundada sobre os problemas enfrentados pelo Estado de um país oprimido quanto às disputas políticas com os vizinhos e os países imperialistas. Se é favorável a aliança com outros países oprimidos, os custos e vantagens de um enfrentamento real ao poder de uma potência imperialista etc. O que acontece pois não há uma formulação a partir de uma lógica de poder. Ou seja, são conclusões de caráter meramente doutrinários, no máximo, servem como peça de uma propaganda vazia, de algo que não tem como ser posto em prática.

Por fim, o que precisa ficar muito claro para os trabalhadores brasileiros é que a ação da Rússia, em primeiro lugar, é uma ação de defesa contra as agressões do imperialismo que está usando vários países da região, principalmente, a Ucrânia, armando-os e instigando-os a desenvolver uma política agressiva contra a Rússia, desrespeitando inclusive laços históricos. Além disso, a resposta russa ao avanço imperialista está diretamente relacionado com a política atual da burguesia internacional, de destruição das economias dos países oprimidos, de espoliação ainda maior dos trabalhadores, através da política neoliberal, buscando descarregar sobre estes o custo das sucessivas crises do sistema capitalista.

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