Nos debates sobre a crise na Ucrânia, muitos companheiros levantam como um dos argumentos para atacar o imperialismo o fato inegável de que só há uma preocupação com os ucranianos porque eles são “brancos e europeus”.
A denúncia faz referência ao fato de que os milhões de mortos produzidos pelo imperialismo na África, Ásia e América Latina não produz nem um décimo da comoção causada pelas notícias – muitas delas inclusive duvidosas – que aparecem nos jornais capitalistas de supostos ucranianos morrendo e tendo que fugir de seu país.
Claramente há uma gritante diferença de tratamento. É como se as vidas de milhões de pessoas no mundo que já morreram em bombardeios, invasões, guerras civis produzidas pelo imperialismo e a miséria não valessem nada perto da vida dos europeus.
A indignação é legítima e a denúncia do fato é importante. Mas esse fato não explica totalmente o problema em questão na Ucrânia e nas ações do imperialismo no mundo.
A comoção com o sofrimento dos ucranianos, mostrado segundo a segundo na imprensa imperialista mundial não está diretamente ligado ao fato de que eles são brancos. A explicação para essa diferença no tratamento deve ser buscada nos interesses do imperialismo.
Se o interesse do imperialismo é atacar os russos, mostrando como são maldosos e genocidas, eles farão a propaganda de que os ucranianos estão sendo massacrados.
Se é o imperialismo invadindo o Iraque, por exemplo, a propaganda será muito diferente. Os norte-americanos invasores são mostrados como os heróis libertadores, os iraquianos como um povo bárbaro que precisa aprender com os EUA o que é a democracia.
Vejamos um exemplo que comprova ser fundamentalmente um problema político: a guerra da Bósnia. A guerra aconteceu em plena Europa e foi promovida pelo imperialismo com o objetivo de dilacerar a antiga Iugoslávia. Ali, o fato de os sérvios serem brancos não impediu o imperialismo de ataca-los e bombardeá-los. Não havia comoção com o povo bombardeado, que era sérvios, portanto, brancos. Na realidade, a propaganda imperialista procurava mostrar as atrocidades contra os bósnios, povo majoritariamente muçulmano, justamente porque isso servia aos seus interesses contra os sérvios.
O conflito interno acabou resultando de fato num massacre, que não foi impedido pelo imperialismo, que se limitou a fazer propaganda. Da mesma maneira que hoje o imperialismo faz propaganda contra um suposto massacre russo contra os ucranianos, mas não está movendo uma palha para defender nenhum ucraniano.
É fato que os países de maioria negra são os que mais sofrem nas mãos do imperialismo, afinal, a maioria dos países oprimidos estão na África, na América Latina e na Ásia. Esse fato não é nenhuma coincidência, logicamente que os povos mais escuros são os que mais sofrem no mundo e ninguém liga a mínima para esse sofrimento. Mas a comoção não é guiada pela cor, mas em primeiro lugar pelos interesses materiais do imperialismo.
Aqui fica claro que o racismo é um problema de fundo econômico. É uma ideologia que serviu para justificar a exploração, a rapina e a opressão dos povos pelo mundo. Mas o imperialismo, para conseguir seus interesses, está disposto a atropelar qualquer um, disso, não podemos ter dúvida.