Há algumas semanas, a Folha de S. Paulo, um dos principais órgãos de imprensa da burguesia brasileira, publicou uma entrevista com Jones Manoel. Na ocasião, o jornal golpista cedeu um amplo espaço para o pré-candidato ao governo do estado de Pernambuco pelo PCB para expor as suas opiniões políticas.
De cara, cabe a pergunta: em que momento os pré-candidatos do PCO nos estados serão convocados pela Folha para expor as suas opiniões políticas em um artigo de destaque. É um convite que deve ser aguardado com muita paciência. Quem sabe nas próximas eleições gerais…
Por que, então, Jones Manoel aparece na Folha? Por que, finalmente, Jones aparece em dezenas de veículos burgueses como é o caso de sua recente entrevista à Globo?
Vejamos do que se trata a sua entrevista para, então, concluirmos o motivo de tão misteriosos convites.
“Lula não é um candidato de esquerda”, diz Jones
O título, Lula não é de esquerda, e Bolsonaro é fantoche das elites, diz Jones Manoel, já é, por si só, um absurdo. Coloca, claramente, o tom da crítica “à esquerda” feita por Jones contra Lula.
Entrando no mérito de sua argumentação propriamente dita, Jones afirma que “Lula é o verdadeiro centro desse país, o centro democrático é Lula”. Ou seja, o pré-candidato da Folha procura colocar Lula no mesmo patamar que figuras grotescas como FHC, Temer, Dória, Simone Tebet e outros algozes do povo brasileiro. Somente por esse ângulo já se pode perceber o tamanho da barbaridade política cometida por Jones.
Não se pode esquecer que Jones tem um histórico infame no que diz respeito aos seus ataques contra a esquerda e, mais especificamente, contra o PT. Afinal, ele apoiou o golpe de 2016 exatamente com os mesmos argumentos pseudoesquerdistas: “o PT não é suficientemente progressista para o meu gosto”. Com esse disfarce, apoia a política da direita contra os trabalhadores.
Se Lula é do centro, então Jones é da direita?
Lula é um candidato de esquerda extremamente moderado? Sem dúvida nenhuma. É um candidato que prega a conciliação de classes? Sem dúvida nenhuma. Ele é reformista, e não revolucionário? Sem dúvida nenhuma. Agora, negar que os governos do PT foram governos de esquerda é de uma canalhice digna de Jones Manoel.
Finalmente, Lula fez muito mais do ponto de vista social pelos brasileiros do que o PCB, não há dúvida nenhuma quanto a isso. Na realidade, nem Jones Manoel, nem o PCB têm autoridade alguma para dizer quem é de esquerda, quem é de direita e quem é de centro. Afinal, o que o PCB fez de mais importante no último período foi apoiar o golpe orquestrado pelo imperialismo para derrubar os governos do PT.
Não é à toa que Lula é o candidato mais popular de toda a história do Brasil. O povo sentiu na pele o que foi o governo neoliberal de FHC e, posteriormente, viu os esforços – apesar de muito limitados – dos governos do PT de reverterem este cenário de devastação. Algo que, em grande medida, foi alcançado.
Sem contar no fato de que Lula surgiu da luta operária contra a ditadura, na luta metalúrgica que desembocou na criação da maior central sindical – a CUT – e do maior partido político – o PT – de toda a América Latina. O que é o PCB perto disso senão o partido que, uma vez infestado pelo stalinismo, jogou a esquerda brasileira em uma ressaca de décadas?
Jones saiu de uma fábrica sob encomenda da burguesia
A reportagem em questão deixou claro qual é o sentido da popularidade artificial de Jones Manoel. Finalmente, a declaração fornecida por ele à imprensa capitalista foi feita sob medida para a propaganda da burguesia em favor da terceira via. Por isso, Jones cumpre o seu papel que é, inequivocamente, trabalhar para a ideologia imperialista. E não é a primeira vez que ele aparece claramente identificado com esse papel.
Afinal, segundo a lógica de Jones, de um lado, para o cidadão de direita, Lula é uma ameaça; para o cidadão “bem pensante” de classe média, é um corrupto; e, para finalizar, para o esquerdista comum, não é nem de esquerda. Ou seja, um desenvolvimento que resulta diretamente na conclusão de que Lula não é digno de nenhum apoio. Sobrando, portanto, a terceira via.
Decerto que as candidaturas “revolucionárias” do PCB são, simplesmente, insignificantes. Todavia, a colocação política de Jones, ainda mais em um órgão como a Folha de S. Paulo, terá um impacto político, uma repercussão. É, em outras palavras, uma mensagem de que os verdadeiros esquerdistas – segundo o parâmetro de Jones – não apoiam Lula. Antes, o enxergam como um mau aos trabalhadores. Então, a candidatura de Lula é atacada por todos os lados.
Por isso, aparece na Folha; enquanto isso, o PCO é escorraçado pela imprensa
É sabido que o PCO apoia, de maneira incondicional, a candidatura de Lula. Será esse posicionamento, então, reproduzido na Folha? Decerto que não. Antes, será propagado que o PCO é de ultra-esquerda, a coisa mais extremista do mundo ao lado de Bolsonaro que, por sua vez, é também um admirador apaixonado do Partido.
Aqui, vale mostrar a diferença entre a chamada fake news e a notícia verdadeira. A notícia verdadeira é uma mentira que todo mundo apoia para torná-la uma verdade. Se trata da especialidade da imprensa burguesa. Mentir e mentir que se está mentindo.
Ou seja, de um lado, o PCO vem recebendo ataques de todos os lados por parte da burguesia após ser incluído no Inquérito das Fake News de maneira ditatorial pelo skinhead de toga Alexandre de Moraes. Figura que, inclusive, é defendida por Jones no artigo da Folha: “A despeito do STF ter algumas posições importantes a arroubos autoritários do bolsonarismo […]”, e o resto é história.
Aqueles que ainda tem a ideia de que Jones é um marxista devem observar minuciosamente esse tipo de movimentação para entender qual é a sua verdadeira função política.
No fim, o imperialismo destina sua artilharia mais pesada àqueles que, de fato, contribuem para a sua derrocada – o PCO, Lula e o PT. Ao mesmo tempo, concede público e trata com graça os que, senão inofensivos, são ativos nos ataques contra a esquerda que genuinamente defende os direitos dos trabalhadores.
