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Identitarismo

A esquerda vai votar na direita gay?

Pesquisa de jornal imperialista diz que 60% dos brasileiros votariam em um candidato homossexual

A versão brasileira do principal jornal da burguesia imperialista espanhola, o El País Brasil, publicou, na última quarta-feira (11), uma “pesquisa exclusiva” do Instituto Atlas. Segundo tal pesquisa, o periódico espanhol teria descoberto que 60% da população brasileira “votaria em um candidato gay” à presidência da República.

Uma pesquisa tão específica e tão excêntrica não pode vir por acaso. A cada ano, a imprensa burguesa encomenda dezenas de pesquisas eleitorais. Cada uma delas tem uma peculiaridade — “em qual candidato você votaria se Lula não fosse candidato?”, “qual candidato com dez dedos você quer no Palácio do Planalto?”, “você prefere Moro, Haddad ou Mandetta para presidente do Brasil?” etc. No entanto, a curiosa variante “em qual candidato gay você quer votar?” nunca apareceu.

Nunca apareceu, obviamente, porque nunca foi de interesse da burguesia que isso aparecesse. Às vésperas das eleições de 2018, a burguesia não quis mostrar que o povo brasileiro seria tolerante com a população LGBT, uma vez que os capitalistas estavam apoiando um candidato fascista que praticamente prometia campo de concentração para homossexuais. É importante lembrar, inclusive, que não só a burguesia apoiou Bolsonaro em 2018, como procurou justificar sua vitória eleitoral — que se deu em meio a uma das fraudes mais escancaradas da história — como o resultado de uma “onda conservadora” do povo em geral. Isto é, Bolsonaro teria sido “eleito” não porque roubaram as eleições e toda a burguesia o apoiou, mas sim porque a maioria do povo concordaria com seu programa de ataques aos trabalhadores, mulheres, negros, LGBTs e oprimidos em geral.

Agora, a burguesia — sobretudo seus setores mais pró-imperialistas — estão muito interessados em saber se o povo brasileiro é ou não “homofóbico” simplesmente porque o seu plano é eleger um presidente ancorado na demagogia com os LGBTs. Não só com os LGBTs, mas na verdade com todos os setores oprimidos. E esse candidato nem é “gay”, nem “homofóbico”, nem “empoderado”, nem nada: é simplesmente um candidato neoliberal, da direita.

Os dois candidatos mais importantes das eleições de 2022 não são gays publicamente assumidos: Lula e Bolsonaro. Bolsonaro, como os céus e a terra já sabem, é o bufão que sai berrando contra o “kit gay” e a “mamadeira de piroca”. Lula, por sua vez, é um representante do movimento operário, cujo programa está baseado na luta pela melhoria das condições de vida, contra a fome e o desemprego. Qual seria, então, o candidato gay?

Nem é preciso qualquer arqueologia para encontrar os candidatos gays. O gay mais gay, naturalmente, é Eduardo Leite, atual governador do Rio Grande do Sul que, no seu estágio para candidato a presidente pelo PSDB, já aprendeu a bater em professor e prender manifestante. Em entrevista recente a Pedro Bial, um dos empregados da Família Marinho, o governador gaúcho assumiu sua homossexualidade — coisa que era sabida nos bastidores, mas nunca havia sido revelado desde então. E não havia sido revelada por motivos óbvios: Eduardo Leite, há dois anos, defendeu voto no candidato que lutava contra o “kit gay” e a “mamadeira de piroca”. Sua demagogia, portanto, ficou ainda mais ridícula: de BolsoLeite, passou a BolsoGay.

A saída de armário de BolsoGay foi calculada por questões puramente eleitorais. Eduardo Leite é um dos pré-candidatos do PSDB à presidência da República, apoiado parcialmente por Fernando Henrique Cardoso, e sabe que para ter alguma projeção enquanto direitista, sua única opção é se mostrar como “antibolsonarista”. Segundo a propaganda da burguesia, sua “saída do armário” seria um ato de “coragem”, um posicionamento político contra o poder vigente.

Mas Eduardo Leite não é o único candidato gay. O governador calça-apertada do governo de São Paulo, João Doria, embora nunca tenha se assumido homossexual, está procurando se promover através da demagogia com setores oprimidos. A própria deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), direitista que estava na linha de frente do golpe de 2016, entregou a demagogia de Doria no Museu da Língua Portuguesa:

“Houve um evento denominado Diversidade Linguística: Entre a Celebração e a Resistência, no Museu da Língua Portuguesa. Assustador constatar que não foi convidado nenhum participante que questione a tal linguagem neutra. Como um monólogo pode se pretender diverso?”

A linguagem neutra é uma conhecida reivindicação de um setor minoritário e universitário da população LGBT e de organizações feministas. A demagogia de Doria é obviamente um aceno a esse setor.

Some-se a isso o fato de que o PSDB de São Paulo, comandado pelo mesmo senhor João Doria, foi para o ato Fora Bolsonaro no dia 3 de julho sob a forma esdrúxula e improvisada de “PSDB Diversidade”.

Por fim, ainda se tem os que não são do PSDB, mas que estão a reboque do PSDB em todos os momentos importantes da luta contra o golpe: o setor dirigente do PSOL, partido que lidera todo tipo de demagogia com os setores oprimidos. Guilherme Boulos, hoje figura com maior expressão eleitoral do PSOL, está atolado até o último fio de cabelo nesse tipo de política: criou o “gabinete do amor”, usa a tal “linguagem neutra” etc.

E o que Boulos, Doria e BolsoGay têm em comum, além da demagogia com os LGBTs? Ora, que são candidatos sem voto, que correm por fora da disputa entre Lula e Bolsonaro, e que recebem afagos da imprensa burguesa a todo instante.

A demagogia com a comunidade LGBT, como fica claro neste caso, não tem nada, nada de progressista. Até porque os grandes candidatos da política identitária — isto é, a política superficial e demagógica em cima dos setores oprimidos — não defendem de fato oprimido algum. O PSDB, que neste momento é o grande partido do identitarismo, é o partido dos banqueiros, dos principais financiadores do golpe de Estado, do desemprego, da miséria, das polícias e de tudo aquilo que cai como chumbo na cabeça dos oprimidos.

E não é novidade nenhuma. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, foi eleito justamente por meio deste tipo de propaganda. No Equador, o imperialismo lançou como candidato o índio Yaku Pérez, que, embora índio, era defensor dos grandes inimigos dos índios, os bancos internacionais. Tanto é que seu papel foi o de impedir que o candidato de Rafael Correa vencesse.

No caso do Brasil, a jogada é clara. Para a burguesia, Bolsonaro não é o candidato ideal para 2022 — muito imprevisível e incapaz de ser tão eficiente na destruição do Brasil como o PSDB. No entanto, se roubar as eleições de Bolsonaro, uma liderança de extrema-direita que tem cerca de 20% do eleitorado nacional, e entregá-la a um candidato da direita impopular como João Doria, que não tem voto nem na própria família, já é uma operação complicada, roubar as eleições de Lula, maior líder popular do País, é ainda mais difícil. É preciso, portanto, fazer como no Equador: jogar uma isca para a esquerda — sobretudo seus setores mais abastados e conservadores — se dividir e enfraquecer a votação de Lula.

A campanha do presidente gay é a campanha em defesa da terceira via.

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